GARD NILSSEN desembarca com sua tropa escandinava no Brasil


SHOWs
 Antes de chegar ao Brasil para uma aguardada turnê, com shows em SP, Rio e Porto Alegre, o baterista norueguês Gard Nilssen conversou com o FreeForm, FreeJazz... 

 


Por Fabricio Vieira

(photo: Geert Vandepoele)
O ano começa com uma empolgante surpresa: a vinda do baterista norueguês Gard Nilssen para uma turnê no país, acompanhado de seus dois principais projetos, a Supersonic Orchestra e o Acoustic Unity. Nilssen nasceu na cidade de Skien, em 1983, em uma família musical formada por uma linhagem de bateristas. Ele estudou o instrumento com Audun Kleive e depois se mudou para Trondheim, onde fez seu mestrado em Jazz na NTNU. Após muitas parcerias, começou a desenvolver seus dois principais projetos, primeiro o Acoustic Unity, depois a Supersonic Orchestra, uma década atrás. E é com eles que volta ao Brasil. Nilssen já esteve em nosso país antes, sempre com o Acoustic Unity, trio que mantém ao lado do baixista Petter Eldh e do saxofonista André Roligheten. Em 2018, fez uma pequena turnê passando por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. E em outubro de 2019, o trio foi atração do Sesc Jazz. Agora poderemos vê-lo com a incrível Supersonic Orchestra, que traz em suas fileiras nada menos que 17 instrumentistas. A turnê pelo Brasil começa no dia 20 e vai até 27 de janeiro, com passagens por São Paulo, Rio e Porto Alegre (datas e locais no folder abaixo). O núcleo da turnê será as duas apresentações programadas para o Sesc Belenzinho, quando a Supersonic Orchestra se apresentará tendo em cada um dos dias uma banda muito especial de abertura: no dia 23, será o Trio North, comandado pela incrível saxofonista dinamarquesa Mette Rasmussen; no dia 24, a abertura ficará por conta do grupo (Exit) Knarr, projeto do baixista norueguês Ingebrigt Haker Flaten. 

Nos sentimos muito em casa no Brasil, e finalmente voltar com um grande grupo de amigos escandinavos é algo que venho sonhando há muito tempo. Acho que vai ser explosivo! O Acoustic Unity e a Supersonic Orchestra são meus maiores sonhos se tornando realidade, e todos esses músicos são tipo heróis para mim. Quando você adiciona nisso o Knarr, do Ingebrigt Flaten, e o Trio North, da Mette Rasmussen, acho que vamos curtir muito!”, disse Gard Nilssen, em conversa com o FreeForm, FreeJazz

(photo: Felix Zimmermann)

A Supersonic Orchestra lançou seu primeiro álbum em 2020, trazendo uma incrível big band que oferecia música intensa e enérgica, mas também com momentos de grande inventividade harmônica e ritmicidade contagiante – não à toa, foi eleito Disco do Ano pelo FreeForm, FreeJazz. “A Supersonic Orchestra é a versão big monster do Acoustic Unity, e a ideia surgiu quando tive a oportunidade de ser artista residente no Molde Jazz Festival, na Noruega, em 2019. Eles me deram carta branca para criar uma banda com quem quisesse e compor a música que eu ouvia na minha cabeça, feita especialmente para meus músicos favoritos no mundo!”, conta ele. Sobre as composições da banda, que toca basicamente temas próprios, o baterista e compositor afirma que “o progresso da escrita é assim, ouço uma melodia ou um riff e depois gravo no celular, aí tento tirar no vibrafone e depois trabalho junto com meu parceiro de crime, o André Roligheten”. “Nós fazemos os arranjos juntos e eu quero que seja difícil para tocar o suficiente para que a banda tenha que se concentrar na música, mas que também tente encontrar um equilíbrio no material escrito que permita aos músicos serem livres e criativos, trazendo seus próprios sons e impressões sonoras para o conjunto”, explica Gard Nilssen. 

Não me importo com gêneros e colocar algo em uma caixa, e chamar disso ou daquilo funciona mais como um freio criativo para mim. Não quero excluir as coisas só porque não se enquadram no rótulo de ‘jazz old school’ ou algo assim. Quero mergulhar em cada ideia e inspiração que existe e tentar criar alguma música a partir delas junto com os músicos da Orchestra.


Perguntei a ele sobre os próximos passos da Supersonic Orchestra, se tem um novo disco nos planos... “Ainda não temos um novo álbum planejado, mas estou pensando muito ultimamente e gostaria de começar a trabalhar em algumas músicas novas depois desses shows no Brasil.” Nilssen ainda se preocupa em editar seus trabalhos em formato físico, CDs e LPs. Com certa ironia, um dos discos do Acoustic Unity se chama “To Whom Who Buys A Record”. As pessoas ainda compram discos? “Sim, principalmente LPs. Fico muito feliz depois dos shows quando encontro amantes da música e colecionadores de discos que ainda amam o formato físico. Esgotamos duas edições de ‘If You Listen Carefulness, The Music Is Yours’ e só me restam algumas cópias do álbum ‘Family’, que foi lançado em setembro passado pela Wejazz Records!

Gard Nilssen se encaixa nesta categoria, sendo ele um colecionador de discos. E música brasileira não falta em sua coleção. “Eu adoro música brasileira. Milton Nascimento com o clássico Clube da Esquina, Egberto Gismonti, Baden Powell & Vinicius de Moraes, Chico Buarque com Construção, além de Quarteto Novo e seu álbum homônimo, de 1967. Mas o meu favorito de todos os tempos deve ser o Cartola com o álbum Verde Que Te Quero Rosa, de 1977. Uma pérola lendária que ouço muito!! Além disso, Hermeto Pascoal é fantástico, claro, e tenho ouvido a bela e criativa bateria e canto de Airto Moreira com músicos de jazz, em sua maioria norte-americanos, desde que era adolescente. Mal posso esperar para explorar as lojas de discos daí e trazer mais da tocante música popular brasileira para casa, para o frio Norte!

 

 *GARD NILSSEN’S SUPERSONIC ORCHESTRA*



-Quando: 23/1 (ter), às 20h

Abertura: Trio North (Mette Rasmussen)

 

-Quando: 24/1 (qua), às 20h

Abertura: (Exit) Knarr (Ingebrigt Haker Flaten) 

 

-Onde: Sesc Belenzinho / SP

Quanto: R$ 15 (credencial) a R$ 50 (inteira)

 

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*quem assina:

Fabricio Vieira é jornalista e fez mestrado em Literatura e Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; foi ainda correspondente do jornal em Buenos Aires. Colaborou também com publicações como Entre Livros e Jazz.pt, de Lisboa. Nos últimos anos, tem escrito sobre música e literatura para o Valor Econômico. É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and Run”, de Roscoe Mitchell (Selo Sesc), “The Hour of the Star”, de Ivo Perelman (Leo Records), e “Live in Nuremberg”, de Perelman e Matthew Shipp (SMP Records)