TOP 10: Destaques de 2020

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Encerramos o ano com nosso Top 10, listando álbuns imperdíveis lançados em algum momento de 2020, trabalhos que deveriam ser obrigatoriamente degustados pelos apreciadores da música livre e criativa...

 



Por Fabricio Vieira

 

Chegamos ao fim do tumultuoso 2020 com nosso Top 10. A ideia que motiva fazer anualmente uma seleção dessas é destacar álbuns que não deveriam deixar de ser ouvidos por quem se interessa por free music, discos que fizeram a diferença e não podem passar em branco em suas audições. Claro que a lista poderia ter facilmente mais discos, 20, 30 títulos... o universo free jazz/free impro continua nos surpreendendo e estimulando nossa escuta a cada ano. Mas o interessante de se fazer tal lista é exatamente tentar extrair aquele núcleo imperdível dentre tanta coisa interessante que apareceu, o que de mais impactante surgiu nesses doze meses, considerando novidade das propostas, resultados surpreendentes e expansão dos limites desse universo sonoro. Na seleção deste ano, destaque para trabalhos com cordas e big bands. Como costuma ser, o Top 10 do FreeForm, FreeJazz inclui discos editados, em qualquer formato, em todos os cantos do mundo, durante o ano corrente. Todos os selecionados foram escutados em diferentes oportunidades, mas alguns acabaram não resenhados neste espaço por falta de tempo/organização mesmo; dos resenhados, apenas os que receberam 4,5 ou 5 estrelas entraram na seleção final. 

 

Top 10 – 2020 

 

10 - PEDERNAL

Susan Alcorn Quintet

Relative Pitch

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Susan Alcorn reuniu um brilhante quinteto para este seu novo bem-sucedido projeto. Ao lado de Mary Halvorson (guitarra), Mark Feldman (violino), Michael Formanek (baixo) e Ryan Sawyer, a pedal steel guitarist de Baltimore criou uma música de sabor muito particular. No auge de sua criatividade, Alcorn entrou no The Bunker Studio (Brooklyn, NYC) em novembro de 2019 e saiu de lá com as cinco peças que compõem um dos discos mais inventivos do ano.

 


9- AURA

Camila Nebbia

ears & eyes Records

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Potente voz da cena argentina contemporânea, a saxofonista Camila Nebbia reuniu aqui um jovem time com Violeta García (violoncelo), Ingrid Feniger (alto, clarinete baixo), Valentin Garvie (trompete), Daniel Bruno (trombone), Juan Bayón (baixo), Mariano Sarra (piano), Damián Bolotín (violino), Axel Filip e Omar Menendez (baterias). Com esta formação, apresenta composições suas em que complexas harmonias, interações improvisativas e texturas marcadas por tensões constroem um conjunto sonoro excitante.

 


8- HORIZONS

Peter Evans Ensemble

More is More

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Horizons é um álbum que aponta novas perspectivas na trajetória do trompetista Peter Evans. Partindo de experimentais composições para pequeno conjunto, o músico reuniu um quarteto de formação bastante peculiar, com Mazz Swift (violino e voz), Ron Stabinsky (sintetizadores) e Levy Lorenzo (percussão e eletrônicos). E com esse conjunto mostrou outras possibilidades estéticas em seu horizonte, surpreendendo mesmo quem já conhece bem sua obra.

 



7 - MOLECULAR

James Brandon Lewis Quartet

Intakt Records

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O saxofonista James Brandon Lewis, de Bufallo (NY), tem nesta década solidificado seu trabalho com uma sequência de impactantes registros. Em quarteto, ao lado do pianista cubano Aruán Ortiz, do baixista Brad Jones e do baterista Chad Taylor, chegou a seu melhor neste disco de potente e inventivo free jazz. Lewis lançou outros disco imperdível neste ano, "Live in Willisau", em duo com a percussão de Taylor. 

 



6- BOTH ARE TRUE

Webber/Morris Big Band

Greenleaf Music

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Projeto que começou a ser desenvolvido em 2015 e uniu as saxofonistas Anna Webber e Angela Morris, Both Are True mostra o quanto a escrita da dupla é avançada, apontando novos caminhos para uma big band free jazzística. O grupo de 19 músicos vindos da cena de NY, formado por extenso naipe de sopros, apresenta peças de grande complexidade harmônica, em um fantástico trabalho de estreia que alcança momentos de perfeição entre o processo composicional e a liberdade improvisativa.  

 

 


5- DEEP RESONANCE  

Ivo Perelman & Arcado String Trio

Fundacja Sluchaj (FSR)

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O saxofonista brasileiro Ivo Perelman se uniu para esta sessão ao Arcado String Trio. Formado por Mark Feldman (violino), Hank Roberts (violoncelo) e Mark Dresser (baixo), o Arcado String Trio foi bastante atuante até meados dos anos 90, mas não gravava há cerca de duas décadas. E a sintonia entre cordas e sopro acabou sendo perfeita. A música aqui pode ser encarada como uma peça de câmara, em quatro partes, em que a improvisação coletiva é o núcleo do processo criacional.



 4 - EXOLINGER

Sarah Bernstein

577 Records

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A violinista de NY Sarah Bernstein apresenta aqui oito peças suas, em um trabalho solista no qual toca violino e explora a voz (com poesia sua). Captado “live in studio”, é um álbum no qual a espacialidade se revela fundamental, com a artista expandindo o alcance do que seria um trabalho para instrumento solista utilizando efeitos (pedais, eco...) junto a suas palavras, em resultados que se revelam hipnóticos e desconcertantes.

 



3 - SOUNDPATH

The Warriors Of The Wonderful Sound

Clean Feed

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Comandada pelo saxofonista nova-iorquino Bobby Zankel, a big band The Warrios Of The Wonderful Sound volta em novo disco com a missão de apresentar uma das últimas obras do lendário Muhal Richard Abrams, morto em 2017, escrita exatamente para o grupo. Contando com nomes conhecidos como Graham Haynes (corneta), Steve Swell (trombone) e Chad Taylor (bateria), a big band da Filadélfia, de 17 músicos, coloca em pé toda a genialidade da peça de Abrams, em uma leitura que sabe ser explosiva e swingante na medida certa. 

 


 2- THE OCEAN INSIDE A STONE

Susana Santos Silva - Impermanence

Carimbo Porta-Jazz

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O quinteto Impermanence, comandando pela trompetista portuguesa Susana Santos Silva, chegou a seu melhor neste registro. Com João Pedro Brandão (alto, flauta), Hugo Raro (piano, sintetizador), Torbjörn Zetterberg (baixo) e Marcos Cavaleiro (bateria), Susana desenvolveu uma criação sonora ainda mais aberta, com uma instrumentação mais ampla (ela mesma toca também tin whistle, pequena flauta de metal), conseguindo expandir as possibilidades expressivas em um disco que soa realmente como algo novo.

 


1- IF YOU LISTEN CAREFULLY THE MUSIC IS YOURS

Gard Nilssen’s Supersonic Orchestra

Odin

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O baterista norueguês Gard Nilssen trouxe toda sua energia criativa para este novo projeto. E conseguiu um fantástico resultado. Com uma big band formada basicamente por escandinavos, a Supersonic Orchestra estreia com música intensa, enérgica, mas também com momentos de grande inventividade harmônica e ritmicidade contagiante. A participação de nomes dos mais destacados da região, como os saxofonistas Mette Rasmussen e Kjetil Moster e os baixistas Ingebrigt Haker Flaten e Petter Eldh, eleva a execução das ideias de Nilssen à potência máxima. 
 

 


*Reedição do ano


DUO EXCHANGE: COMPLETE SESSIONS

Rashied Ali & Frank Lowe

Survival Records

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Os lendários  Rashied Ali (1935-2009) e Frank Lowe (1943-2003) gravaram em 1972 um dos mais marcantes duos de sax e bateria do free jazz. Duo Exchange apareceu em nova edição no começo deste ano com vários atrativos. Em disco duplo, recebeu a adição, às duas faixas que compunham o álbum original, de alternate takes, conversas de estúdio e três novas peças completas para o deleite de quem se indagava se não havia sobrado nada de inédito da histórica sessão original.

 




*Lançamento nacional do ano

 

INCURSO

Entrevero Instrumental

Independente

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O quinteto catarinense Entrevero Instrumental mantém a grande inventividade demonstrada antes neste seu quarto álbum. Fruto de uma residência artística no Musibéria, em Serpa (Portugal), o álbum traz mais um capítulo da intrigante e desafiadora estética do grupo, na qual o instrumental brasileiro dialoga com a música contemporânea e elementos do jazz mais livre. Ao quinteto se juntou Vinícius Lole (acordeão), ao lado de Arthur Boscato (violão), Jota P Barbosa (sax), Rodrigo Moreira (baixo) e Filipe Maliska (bateria). 

 




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*quem assina:

Fabricio Vieira é jornalista e fez mestrado em Literatura e Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; foi ainda correspondente do jornal em Buenos Aires. Colaborou também com publicações como Entre Livros, Zumbido e Jazz.pt. Atualmente escreve sobre música e literatura para o Valor Econômico. É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and Run”, de Roscoe Mitchell (Selo Sesc), “The Hour of the Star”, de Ivo Perelman (Leo Records), e “Live in Nuremberg”, de Perelman e Matthew Shipp (SMP Records)