Em suas mais de seis décadas de história, o free jazz sedimentou os seus ícones, estabeleceu seus clássicos, influenciou músicos de diversas vertentes e se espalhou pelo mundo. Mas nessa longa jornada, muitos importantes artistas e discos ficaram para trás, ainda mais profundamente soterrados no underground...
Por Fabricio Vieira
*FREE JAZZ UNDERGROUND (1966-1979)*
1- Musik
Bengt Ernryd
Magnum (1966)
A cena free escandinava, uma das mais potentes, tem aqui um exemplar de seus tempos iniciais. O sexteto comandado pelo trompetista sueco Bengt Ernryd trazia uma formação com dois saxes (Chris Holmström, Wage Finér), trombone (Lars Olovsson), baixo (Gösta Wälivaara) e bateria (Ivan Oscarsson). A música vai de improvisação coletiva enérgica a pontos mais marcadamente jazzísticos. Uma curiosidade: o piano na abertura do disco é tocado pelo menino da capa, filho de Ernryd.2- White Field
The Fourth Stream
Pioneer Records (1967)
Difícil encontrar informações sobre este registro. O The Fourth Stream trazia uma formação com sonoridade bastante interessante, com Bob Fritz (clarinete), o baixista Jay Jarolasv, o pianista Jeff Furst e Mike Marbury na bateria. A sessão, praticamente a única coisa que se encontra deles, foi editada por um tal de Pioneer Records, de Detroit. Segundo citado em uma entrevista, Bob Fritz seria de Boston, foi para NY nos anos 60 e voltou para sua cidade, onde virou professor.
3- Space Swell
Luna
Arhoolie Records (1967)
A região de San Francisco tinha nos anos 60 diferentes músicos buscando seu próprio rumo no avant-garde jazz. Este grupo comandado pelo pianista Lee Cronbach reuniu alguns desses nomes. O Luna criou um trabalho algo spiritual, algo space jazz, com uma formação que contava com três saxes e clarinete baixo. Deixou apenas este registro. Para a maioria dos integrantes do Luna, esta foi praticamente a única gravação que tiveram a oportunidade de fazer (o saxofonista Ed Epstein fez carreira na Europa).
4- Fog-Hat Ramble
Phil Yost
Takoma (1968)
Misterioso multi-instrumentista da Califórnia, Phil Yost gravou três discos solistas no fim dos anos 60 e depois sumiu. Tocando sax soprano, flauta, guitarra e baixo, Yost criou peças de inegável tempero psicodélico nas quais improvisa em todos os instrumentos, editando-os juntos depois, sempre abusando de ecos e efeitos. Com sua música de inegável estranhamento, mais viajante que enérgica, Yost deixa no ar a curiosidade sobre o que teria feito ao lado de outros improvisadores.5- Natural Music
Bengt Nordstrom
Bird Notes (1968)
O saxofonista Bengt ‘Frippe’ Nordstrom (1936-2000) é um dos pais do free jazz na Suécia. Depois de tocar com Don Cherry, em 63, Nordstrom preparou este que seria seu primeiro álbum como líder, editado pelo seu próprio selo. O disco traz duas longas improvisações; no lado A, um duo de sax alto e contrabaixo (a cargo de Sven Hessle); no B, uma longa peça (“Spontaneous Creation”) para tenor solo – ele foi um dos pioneiros nas gravações para sax solo no universo do free.6- Elysa
The Ed Curran Quartet
Savoy (1968)
O saxofonista Ed Curran deixou apenas este registro em seu nome. O disco foi captado em março de 67, época em que Curran vivia em Nova York e se aproximou do pessoal do Jazz Composers Guild. Ele deixaria a cidade poucos anos depois com a intenção de voltar, mas acabou se afastando da música e virando bancário. Nesta gravação, feita para a New Jazz Series, com produção de Bill Dixon, Curran está ao lado de Marc Levin (corneta), Kiyoshi Tokunaga (baixo) e Cleve Pozar (bateria).7- Now
Now Creative Arts Jazz Ensemble
Arhoolie Records (1968)
Outro exemplar da cena de San Francisco, o Now Creative Arts Jazz Ensemble reuniu muitos músicos que acabaram por desaparecer (ou não deixar rastros) com o tempo. Os mais conhecidos aqui talvez sejam o baterista Smiley Winters, o saxofonista Bert Wilson e o baixista Chris Amberger, sendo que o Ensemble contava com quase uma dúzia de pessoas. A música tem momentos mais free, com potentes solos de sax, mas sem ignorar a herança jazzística. Não se sabe quanto tempo durou o grupo, mas deixou apenas este registro.8- The Third World
Abdul Hannan
Third World (1968/71)
Este é um disco que bem representa o espírito DIY que sempre acompanhou o universo do free jazz. Liderado pelo obscuro saxofonista Abdul Hannan (nascido Joel Hannah), foi editado de forma independente, tendo sido gravado na casa dele. São três temas, registrados em duas ocasiões, em 68 e 71. O núcleo do álbum é a peça “Awareness” executada por um sexteto com saxes, piano, violino, baixo e percussão. É a primeira gravação em que David S. Ware aparece.9- Free Music & Orgel
Free Music Quartett +1 / Oskar Gottlieb Blarr
Schwann AMS Studio (1969)
Aqui temos uma gravação no mínimo inusitada. O baterista holandês Pierre Courbois, que comandava o Free Music Quartett, se uniu ao organista alemão Oskar Gottlieb Blarr para criar esta obra que buscava um diálogo entre o free e a música sacra. O disco abre com um narrador (texto do padre nicaraguense Ernesto Cardenal), seguido por solo de órgão, depois a entrada fulminante do quinteto (com sax, trompete, vibrafone e baixo), esquema que vai se alternando.10- Nature’s Consort
Nature’s Consort
Otic Records (1969)
Quinteto do qual há apenas este registro, o Nature’s Consort faz parte das gravações iniciais de seus integrantes. Daqui saíram nomes que se consolidariam na cena à frente, a destacar o saxofonista Mark Whitecage e o baixista Mario Pavone, ambos falecidos no ano passado. Completavam o time James Duboise (metais), Laurence Cook (bateria) e o vibrafonista e pianista Bobby Naughton (principal compositor e criador do selo que editou o disco). Gravado em concerto ao ar livre.11- Various
2 To 10 / Saxophone Adventure
Philips (1970)
Um dos discos mais raros do free jazz, é um registro ao vivo feito no Yamaha Hall, Tokyo, em abril de 1970. No lado A, um duo de sax e bateria, com Mototeru Takagi e Sabu Toyozumi (que iniciava sua carreira à época). No lado B, um noneto comandado pelo pianista Masabumi Kikuchi. Apesar de ter saído por um selo grande, nunca foi reeditado. As cópias, raríssimas, têm preços absurdos (há uma à venda por US$ 8.500). Chegou-se a anunciar uma reedição em LP no Japão em 2021, mas nada até agora.12- Vallankumouksen Analyysi
Seppo I. Laine/ Jouni Kesti
Eteenpän! (1970)
Este pioneiro duo de sax e bateria vem da Finlândia. Ao que parece, foi registrado em 1969 e editado no ano seguinte em um mini-LP, com cerca de 10 minutos de cada lado. Traz energy music conduzida pelo saxofonista Seppo I. Laine e o baterista Jouni Kesti. Eles não são músicos que seguiram deixando suas marcas no free jazz (talvez tenham seguido tocando apenas localmente): de Laine, não se encontra mais nada publicado; já Kesti aparece em alguns discos, a maioria ao lado de artistas de gêneros diferentes.
13- The Alan Davie Music Workshop
Alan Davie
ADMN Records (1970)
Músico e pintor escocês, Alan Davie (1920-2014) gravou pouco e editou a maior parte de sua música de forma independente e artesanal. Este álbum, por exemplo, saiu com apenas 99 cópias. Davie, que tocava principalmente saxofone, mas também flauta, xilofone e piano, gravou aqui em quinteto, com músicos em sua maioria pouco conhecidos. Free impro captado de forma direta, em registro bastante cru. Ele seria mais lembrado como artista plástico do que como músico.14- 4. Januar 1970
Nicole van den Plas/ Afred Harth/ Thomas Cremer
Record-Ton (1970)
Este grupo europeu de free impro tinha como nome mais conhecido o saxofonista alemão Alfred Harth. A seu lado estavam a belga Nicole van den Plas (voz e piano), Franz Volhard (violoncelo), Peter Stock (baixo) e o baterista Thomas Cremer. Esses músicos estariam presentes em dois importantes projetos de Harth da época, o Just Music e o E.M.T. Clássico representante da free improvisation europeia do período, o disco saiu em edição limitada de 300 cópias.
15- Love Cry and Super Mimbus
Loek Dikker
Stichting Jazz Werkgroep (1970)
Neste seu primeiro registro, o pianista holandês Loek Dikker reuniu um quinteto com seus conterrâneos Wim Essed (baixo), Erik Jan Kromshout (violino), Ralph de Jong e Pierre Courbois (percussão). O resultado é uma música bastante diversa. O disco abre com o som de uma antiga canção em um velho toca-discos e daí adentramos o inusitado universo sonoro proposto, podendo soar ora mais camerístico, ora provocativo, sendo estranhamente melódico por vezes.16- The Sun Is Coming Up
Ric Colbeck
Fontana (1970)
Única gravação deixada pelo trompetista britânico Ric Colbeck, este álbum de tempos em tempos parece que vai ser reeditado, mas isso nunca se concretizou. Colbeck, morto no início dos anos 80, é mais lembrado por alguns por ter tocado no grupo do saxofonista Noah Howard. Neste já lendário registro, feito em Londres em janeiro de 70, contou com nomes locais, como o baixista J.-F. Jenny-Clark e o saxofonista Mike Osborne.17- At Different Times
Peter van der Locht/ Raayamakers
Group-Music Productions (1970)
18- Explosion
Giorgio Buratti
Durium (1971)
O baixista italiano Giorgio Buratti apresenta neste álbum duas sessões distintas, apesar de gravadas proximamente. O lado A do disco, Explosion, foi captado em estúdio e traz um free jazz enérgico, com guitarra, piano, bateria, sax (o intenso Guerrino Allifranchini, que pouco gravou) e trombone. O lado B foi captado ao vivo e tem uma vibe algo free fusion, com uma guitarra mais grooveada e piano elétrico. Interessante testemunho de músicos italianos menos conhecidos.19- Live
Wiebelfetzer
Bazillus (1971)
Este álbum traz uma apresentação que reuniu músicos de diferentes origens na Suíça, em abril de 71. A união de nomes conhecidos da free music e outros menos lembrados resultou em uma música de grande intensidade, colorido amplo, algo dançante. Participaram da big band, que reuniu cerca de uma dúzia de artistas, John Tchicai, Irène Schweizer, o pianista suíço Ole Thilo (que assina duas das quatro peças) e a vocalista Anne Christiansen, responsável pela arte da capa.20 - What Was, What Is, What Will Be
Kenny Gill
Raccoon (1971)
O pianista Kenny Gill (1944-1981), da Filadélfia, apareceu em poucos registros, até por ter tido uma breve carreira. Neste seu único álbum como líder, Gill mostra um free com elementos modal e spiritual jazz, acompanhado pelos competentes Stafford James (baixista que tocou com Rashied Ali e Albert Ayler) e Norman Connors na bateria. São quatro composições suas, com participações decisivas dos saxes de Carlos Garnett e Bob Berg.21- Vienna Jazz Avantgarde
Masters of Unorthodox Jazz/ Reform Art Unit
WM Produktion (1971)
Este álbum duplo reuniu dois grupos fundamentais da primeira leva do free austríaco. O primeiro disco traz o Masters of Unorthodox Jazz, quinteto que durou pouco e tinha à frente o saxofonista Harun Ghulan Barabbas (há uma história de que esta gravação deles ia ser editada pelo ESP-Disk, mas o selo acabou dando para trás). O segundo disco fica com o Reform Art Unit, comandado pelo saxofonista Fritz Novotny. O RAU sobreviveu bastante, deixando outros registros.22- Ofamfa
Children of the Sun
Universal Justice (1972)
Como parte das atividades do coletivo Black Artists' Group (BAG), de St. Louis, surgiu esta rara gravação. Reunindo nomes que se tornariam conhecidos depois a outros esquecidos, o Children of the Sun foi um dos muitos grupos criados nas franjas do BAG. Aqui estão presentes Oliver Lake, Charles Bobo Shaw, Floyd LeFlore, o esquecido trompetista Ishac Rajab e o poeta Ajule Rutin, em um efervescente misto de spoken word e elementos mais enérgicos do free jazz.23- Blue Freedom's New Art Transformation
Milo Fine
Shih Shih Wu Ai (1972)
Milo Fine, de Mineápolis, começou sua trajetória cedo no mundo da free music e sempre esteve ligado à cultura DIY. Este Blue Freedom's New Art Transformation é um de seus primeiros projetos e traz Fine (bateria, violoncelo, theremin) em sessão de improvisação coletiva na Minnesota's KSJN Radio. Para a maioria dos músicos do sexteto do álbum (com baixo, voz, sax, trombone), esta seria a única gravação que fariam. Com capas artesanais e arte feita à mão.24- Universal Expressions
Roach Om
United Sound Records (1972)
Este é um daqueles trabalhos dos quais não se encontra praticamente nenhuma informação. Centrado no spoken word, na melhor tradição de Amiri Baraka, traz a poeta Roach Om (da qual não se acha outro registro) acompanhada de um grupo de free jazz anônimo com instrumentos como sax, flauta, baixo elétrico e bateria. Dizem que, ao menos do lado A do disco, seriam os músicos do Juju. Interessante documento, pena que feito sem nenhum cuidado informativo.25- The Indigo Mirror and The Ivory Dot
Ron Pittner
Angelus Records (1972)
Ron Pittner foi um baterista de Los Angeles que migrou para a França no começo dos anos 1970. Deixou uma discografia enxuta, mas com interessantes registros. Morto em meados dos anos 2000, Pittner não desenvolveu uma carreira profissional sólida, apesar de sempre ter seguido envolvido com música. Nesta gravação feita em Orly, ele se une ao baixista Kent Carter e aos músicos franceses Claude Bernard (sax) e Gilles Tinayre (piano).26- Penselmann Hits Vol.2765
Tuohi Klang
UFO (1972)
Esse sexteto vindo da Finlândia conta com a participação do baterista Edward Vesala (1945-1999), junto a nomes menos conhecidos, munidos de saxes, trombone, trompete e baixo. Não se trata propriamente de improvisação livre; apesar da liberdade improvisativa, há temas que regem a música gestada, com curiosidades como o ar marcial-circense de “Marssi for Keinonen”. Destaque para os potentes saxofonistas Pekka Poyry e Seppo Paakkunainen.27- Communications Network
Clifford Thornton
Third World Records (1972)
O trompetista Clifford Thornton (1936-1989) deixou poucos registros em seu nome. Em sua não tão longa carreira, centrada nas décadas de 60 e 70, tocou com Archie Shepp e Sun Ra, gravando mais como sideman que como líder. Neste interessante Communications Network, apresenta duas longas peças com convidados distintos: enquanto na faixa-título há as participações de Sanker (violino) e Sirone, na outra o destaque fica por conta da voz de Jayne Cortez.28- Four Dialogues with Conscience
Sesja 72/ Iga Cembrzynska
Apollo Sound (1973)
O Sesja 72 foi um grupo de free jazz polonês fundado pelo baterista Wladyslaw Jagiello. Quarteto, contava também com o baixista Helmet Nadolski, o trompetista Andrzej Przbielski e o pianista Andrzej Biezan. Para esta gravação, receberam o reforço da voz de Iga Cembrzynska. Resultado: uma música sombria, com instrumentos trabalhando a espacialidade, dialogando com a voz de Iga, que alterna sussurros, declamações e ataques. Encontro singular que não rendeu mais frutos.29- Formation
Formation
FORM (1973)
Quarteto formado na Suíça no início da década de 70, o Formation deixou apenas esta gravação, feita de forma independente. Os mais conhecidos aqui são o pianista Urs Voerkel (1949-1999) e o baterista Herb Hartmann, que formariam à época outro grupo de free jazz que deixou um registro só também, o Antithesis. Peter Frey (baixo) e Markus Geiger (saxes, clarinete baixo, flauta) completam a banda.
30- Double Album
The Artists' Jazz Band
Music Gallery Editions (1973)
O coletivo The Artists' Jazz Band (AJB) foi um dos pioneiros do free jazz no Canadá. Formado em meados da década de 1960, começou com artistas ligados ao expressionismo abstrato, músicos não profissionais, contando com o passar do tempo com nomes que seriam importantes para o desenvolvimento futuro da cena canadense, como o pianista Michael Snow e o saxofonista Nobuo Kubota. Primeira gravação oficial deles.31- Interaction
Interaction
LST (1973)
Quarteto alemão comandado pelo saxofonista Dieter Scherf, o Interaction deixou apenas este disco. O grupo trazia integrantes que não fizeram muitos registros, nem se associaram aos mais famosos da cena alemã: o baixista Gerhard Bitter, o baterista Mano Weisss e o pianista Jochen Flinner. O próprio Scherf, mais lembrado por um outro projeto anterior, o Free Jazz Group Wiesbade, acabou se afastando da música profissional, se dedicando à carreira de engenheiro.32- Solos
Richard Landry
Chatam Square Productions (1973)
Saxofonista vindo da Louisiana, Richard Landry começou se dividindo entre o jazz e a música erudita: enquanto gravava este álbum entrava para um grupo comandado por Philip Glass, ao qual foi associado por bastante tempo. Neste disco captado em fevereiro de 72 no Castelli Gallery, vemos Landry com um potente grupo (apesar do nomes do disco ser Solos), destilando um free jazz por vezes furioso. Quatro longas improvisações com três saxes, trompete, baixo e bateria.33- Signals From Wrath
Pygmy Unit
Independent/Self-released (1974)
Difícil encontrar informação sobre esta gravação independente feita em San Francisco. Com muita percussão e sopros, traça algum diálogo com o que Pharoah Sanders vinha fazendo no período. Entre músicos dos quais não se encontra outros registros, estão nomes que seguiram carreira, não necessariamente no free, como o saxofonista Jim Pepper, John Celona (sax, eletrônicos) e Darrel De Vore, flautista, pianista e percussionista. Os LPs têm várias capas diferentes feitas à mão.34- Communion Structures
Free Music Communion
Fremuco Records (1974)
O Free Music Communion foi um grupo criado no fim dos anos 60 pelo pianista alemão Udo Bergner. Tinha uma formação bastante peculiar, com piano, guitarra, violino e trombone (após este disco, o violoncelista Torsten Müller entrou no grupo). Com seu free impro europeu clássico, não teve muita repercussão fora de seu país, apesar de ter durado mais de uma década e editado, sempre pelo selo que criaram, ao menos três álbuns.35- Poum!
The Composers Collective
Composers Collective (1974)
O pianista belga John Fischer (1930-2016) chegou a Nova York nos anos 70, atraído pela cena loft que então se formava. Fischer logo abriu em NY seu próprio espaço, o Environ, local importante para músicos e artistas na época. É nesse cenário que reúne este grupo, com o clarinetista Perry Robinson, Mark Whitecage, Mario Pavone e Laurence Cook, para explorar seis peças suas. Aqui temos a semente do grupo Interface, que Fisher criaria nos anos seguintes.36- Mother Africa
Clint Jackson III / Byard Lancaster
Palm (1974)
Este potente álbum traz uma sessão comandada por dois músicos norte-americanos (então vivendo em Paris) que deveriam ser mais celebrados: o trompetista Clint Jackson III (muito pouco registrado) e o saxofonista Byard Lancaster. Em quinteto, o álbum apresenta duas longas faixas, com um free jazz contagiante, em grandes picos de energia embalados pelo robusto baixo conduzido pelo francês Jean-François Catoire.37- Motivations
Dane Belany
Sahara (1975)
De ascendência senegalesa e tunisiana, Dane Belany se tornou cantora de jazz na França, enquanto se envolvia com a efervescente cena político-artística de Paris da virada dos anos 60 e 70. Isso foi vital para chegar a este seu singular e poderoso registro. Dedicado a Frantz Fanon e inspirado na poesia de Aimé Césaire, Belany convocou dois nomes pesados do free, Sirone e Dewey Redman, mais Errol Parker na percussão, para o projeto. Sempre em francês, seu poético canto-recitativo traz tocante intensidade.38- Five Pieces Of Cake
Keiki Midorikawa
Offbeat Records (1975)
O baixista e violoncelista japonês Keiki Midorikawa está ativo desde os primeiros tempos do free em seu país (gravou com nomes como Masahiko Togashi e Itaru Oki), mas deixou poucos registros como líder. Este Five Pieces Of Cake foi o primeiro álbum que assinou e traz Midorikawa em diferentes formações (solo, duo e quarteto), se alternando entre baixo e violoncelo, acompanhado por bateria (Shoji Nakayama) e saxes (Yoshiaki Fujikawa e Hiroaki Katayama).39- Milk Teeth
A Touch Of The Sun
Bead Records (1975)
Duo britânico de vida efêmera, A Touch Of The Sun uniu o clarinetista Simon Mayo e o guitarrista Peter Cusack. Representantes da segunda geração da cena free britânica, oferecem aqui uma típica sessão de free impro. A contracapa traz um terceiro nome, da dançarina Shelley Lee, que devia estar improvisando junto enquanto gravavam. Mayo aparece apenas em uma ou outra gravação feita à época; Cusack se manteve mais ativo, lançando esporadicamente algo até os anos 2000.40- Winds Of Change
Jothan Callins
Triumph Records (1975)
O trompetista Jothan Callins (1942-2005) deixou apenas esta gravação como líder. Callins talvez seja mais lembrado por ter feito parte da Sun Ra Arkestra, mas este disco mostra um inventivo músico, com uma linguagem própria, que não renega algum tempero pós-bop. O disco apresenta cinco peças suas, acompanhado dos experimentados Cecil McBee (baixo) e Norman Connors (bateria), aos quais se juntam Roland Duval (percussão) e o pianista Joseph Bonner.41- Full Moon
The Full Moon Trio
Dwarf (1975)
O saxofonista holandês, radicado na Bélgica, André Goudbeek comanda este interessante trio que teve vida efêmera. Completado por Pol Feyaerts (baixo) e o baterista Ronny Dusoir, o The Full Moon Trio adiciona diferentes músicos em alguns temas, ampliando as possibilidades sonoras com harpa, guitarra, piano, gongo chinês, sinos... O resultado é uma instigante variedade discursiva, indo do free mais direto, quando o trio está em ação, a temas mais viajantes.42- Hitana
Walter Zuber Armstrong
World Artists (1975)
O flautista e clarinetista Walter Zuber Armstrong lançou praticamente todos seus trabalhos (não muitos) pelo selo que criou. Músico de West Coast, começou a gravar nos anos 70 e se manteve ativo até sua morte, em 1998. Estabelecido em um local distante, na cidade de Bellingham (Washington), costumava, além de onde morava, tocar regularmente em Vancouver. Excursionou pouco, mas chegou a se apresentar na Europa e tocar com Steve Lacy. Neste álbum, vemos Armstrong tocando também clarinete baixo, seu segundo instrumento.
43- Sound Craft 75 – Fantasy for Orchestra
The Universal Jazz Symphonette
Anima (1975)
A The Universal Jazz Symphonette foi um grupo organizado pelo baixista Earl Freeman para a exibição deste projeto. A orquestra montada para aquela noite de fevereiro de 75, na Washington Square Methodist Church, em Nova York, trazia jovens que depois se tornariam referência na free music, a destacar William Parker, Daniel Carter e Billy Bang. Registrado ao vivo, Sound Craft 75 apresenta três composições de Freeman, contando com mais de 20 instrumentistas.44- Unicorn Dream
Noah Young
Laughing Angel Records (1975)
Noah Young (ou Richard Youngstein) foi um baixista de relativamente breve carreira, centrada na década de 1970. Tocou com Roswell Rudd, Paul Bley e Carla Bley, e realizou este solitário Unicorn Dream antes de se afastar da música para virar psicoterapeuta. Este álbum é centrado em peças suas, de diferentes sabores, para as quais colaboram alguns músicos conhecidos do avant-garde, a destacar Perry Robinson, Mark Whitecage e o baterista Cleve Pozar.45- Kara Suite
David Wertman
Mustevic Sound Inc (1976)
O baixista David Wertman (1952-2013) despontou na cena jazzística de NY nos anos 70, quando fundou o Sun Ensemble. Em seu nome, ficaram poucas gravações e, dentre essas, merece destaque este Kara Suite, que traz Charles Tyler (sax alto), Richard Schatzberg (french horn), Ken Simon (tenor) e Steve Reid na bateria. Um registro com momentos realmente geniais, free jazz de grande potência, que nasce de temas contagiantes.46- Quetzalcoatl
Manuel Villarroel - Machi Oul
Palm (1976)
O pianista chileno Manuel Villarroel chegou na Europa no começo dos anos 70. Em Santiago, já vinha adentrando as searas mais radicais do jazz, mas buscava um lugar que melhor acolhesse suas ideias. Estabelecido na França, criou o grupo Machi Oul, septeto que depois virou uma big band, com quem gravou este Quetzalcoatl, em uma época em que quase nada havia de free jazz feito por latino-americanos. Seu irmão Patricio, pianista e percussionista, participa do álbum, ao lado de músicos franceses.47- Only Change Is Unchanging
Percussive Unity Live
Sue Music Group (1977)
O Percussive Unity Live, apesar do nome, não se tratava de um trio exclusivamente de percussionistas. Susumu Obata era o percussionista do grupo. Já Masayuki Nakai (guitarra elétrica) e Yasushi Ozawa (baixo elétrico, o único aqui que seguiria carreira, fazendo parte do Fushitsusha) até tocavam percussão, mas tinha seus instrumentos principais. O disco tem uma pegada em cada face: no lado A, algo mais contemplativo e focado na percussão; no lado B, furioso free impro com guitarra e baixo fulminantes.48- Incident
Louis Armfield/ Glenn Spearman/ Elstak/ Piller
Coreco (1977)
Interessante quarteto que reuniu, em Amsterdã, músicos dos EUA e da Europa em um encontro que não se repetiria. Estão aqui os saxofonistas Louis Armfield e Glenn Spearman (1947-1998), o trompetista holandês Nedley Elstak (1931-1989) e o baterista Harry Piller. O disco é realmente poderoso, com os três sopros criando momentos de intensa energia. Spearman é o único aqui que fez de fato uma trajetória no free jazz; Elstak gravou mais alguns discos, mas de Piller, por exemplo, nada mais se encontra.49- Esprits de Sel
Armonicord
L'Électrobande (1977)
O saxofonista francês Jouk Minor criou o quinteto Armonicord em 1973. O grupo durou alguns anos e deixou este registro único. A seu lado estão o trombonista austríaco Joseph Traindl, Jean Querlier (saxes), Odile Bailleux (cravo) e Christian Lété. Além da poderosa sessão de sopros, chama a atenção a participação do cravo, raramente ouvido no mundo do jazz (Bailleux é uma especialista em música barroca). O quinteto apresenta momentos realmente instigantes, pena não ter rendido outros frutos.50- Jazz Of The Seventies
Earl Cross Sextet/ Tuba Trio
Circle Records (1977)
O trompetista Earl Cross (1933-1987), de St. Louis, foi um dos grandes artistas injustiçados dos anos 70, que infelizmente não teve espaço para registrar sua música. Na verdade, este seu único álbum deveria ser creditado, de fato, a ele: com seu sexteto, que contava com Juma Sultan e Ronnie Boykins, domina o LP com duas longas peças; já o Tuba Trio de Sam Rivers, com quem divide os créditos, aparece somente com um tema menor.51- Tidal Wave
Takao Haga/ Osamu Yamaguchi
Mide Records (1977)
Encontro entre dois instrumentistas japoneses pouco conhecidos, Tidal Wave apresenta um clássico duo de sax alto (Takao Haga) e bateria (Osamu Yamaguchi). São apenas duas peças, uma de cada lado do vinil, em que temos energy music, direta e crua, em mais de 50 minutos em que o vigor se mantém em nível constantemente elevado. De Yamaguchi, só se encontra esta gravação; Takao Haga gravou mais alguma coisa no começo dos anos 1980, antes de desaparecer.52- By Myself
Abdul Wadud
Bisharra Records (1977)
Abdul Wadud (nascido Ronald DeVaughn, em Cleveland, em 1941) é um pioneiro violoncelista no mundo do free jazz. Tendo participado de projetos lendários como o Black Unity Trio e gravado com figuras como Julius Hemphill e Arthur Blythe, Wadud fez este registro seminal para violoncelo solo no Blank Tape Studios (NYC), em 77, no qual apresenta seis peças suas. By Myself, que deveria ser a parte 1 de uma trilogia que nunca foi para frente, foi produzido, editado e lançado pelo próprio músico.53- Deido
Dou
Corelia (1977)
54- Duo Infinity
Jamil Shabaka/ Alex Cline
Aten (1977)
Um interessante exemplar do início da carreira do baterista Alex Cline. A seu lado estava o saxofonista Jamil Shabaka, que deixou apenas este registro no mundo do free jazz (já assinando como Jamaiel nos anos 80, reapareceu com projetos de reggae e dub). O duo se reuniu em maio de 77 no Balch Hall, Scripps College (Califórnia), de onde saíram as sete peças que formam o disco. A variedade de instrumentos usados por Shabaka (saxes tenor, alto, soprano e flauta) é um destaque.55- Manzara
The Sea Ensemble
Red Record (1977)
56- Eight Intimate Poses
Leo Coomans/ Vinck/ Denhaene
Stichting Vrijere Muziek (1978)
Comandado pelo saxofonista belga Leo Coomans, este trio apresentava uma sonoridade bastante particular. Completavam o grupo o trombonista Kris Vinck e Marc Denhaene, tocando guitarra e acordeón. O registro foi feito em dezembro de 77 no espaço King Kong, um importante centro cultural na Antuérpia à época, e traz oito peças de improvisação livre, indo de temas mais exploratórios a momentos mais ariscos e enérgicos.
57- Armed Forces' Day
The Blue Denim Deals
Say Day-Bew Records (1978)
Este grupo comandado pelo trombonista Craig Nutt é um importante testemunho da cena free impro que surgiu na região do Alabama na década de 1970. Contando com nomes destacados do underground daquela área, como o guitarrista/saxofonista Davey Williams (1952-2019) e a violinista LaDonna Smith, o The Blue Denim Deals foi mais uma banda de ocasião, sem uma formação fixa, com as faixas do álbum sendo executadas por agrupações de quinteto a noneto.58- Drumythm
Toshi Tsuchitori
D.Y.M. Records (1978)
O percussionista japonês Toshi Tsuchitori iniciou sua carreira na década de 70, ligado à cena free jazzística, tendo tocado e gravado com Kaoru Abe e Mototeru Takagi. Aos poucos foi desenvolvendo um projeto solista, no qual explorava percussão e voz. Drumythm é um testemunho exatamente dessa investigação solo. Com o passar do tempo, Tsuchitori se tornou um explorador/investigador de percussão antiga e tradicional, trabalhando muito com teatro.59- Castor Fiber
Olle Bäver
Amigo (1978)
Grupo sueco formado em meados dos anos 70 em Göteborg, o Olle Bäver tinha uma forte linha de sopros, com nomes como Per-Anders Nilsson (sax barítono), Bo Andersson (sax, clarinete) e Jan Amnehäll (tenor), além de piano (Susanna Lindeborg), baixo (Kjell Thorbjörnson), bateria e convidados em algumas faixas. Neste disco de estreia (parece que gravaram só mais um), mostram seu free jazz que também sabia ser algo melódico quando necessário.60- Elvira Madigan... And Others Dances
Michael J. Smith
Horo Records (1978)
O pianista Michael J. Smith, vindo do Kentucky, se radicou na Europa na década de 70 e foi por lá que desenvolveu o principal de seus projetos. Apesar de ter tocado com Steve Lacy e Anthony Braxton, permaneceu meio à sombra. Editou seus não muitos discos especialmente nos anos 70, começo dos 80 – depois, se afastou do free jazz e foi fazer outras coisas. Este sensacional álbum duplo traz Smith solo em metade do registro; no restante, recebe a parceria do saxofonista norueguês Knut Riisnaes.61- The Last Battle
Ken Hyder's Talisker
Vinyl Tecords (1978)
O percussionista e compositor escocês Ken Hyder teve no Talisker seu mais importante projeto. A ideia aqui era juntar free impro com música folclórica. O interessante resultado foi explorado em alguns diferentes álbuns (a maioria nunca reeditado), com formações variáveis de um a outro. Para The Last Battle reuniu um quarteto com dois saxes (Davie Webster e John Rangecroft) e baixo. Um projeto de sabor realmente singular.62- Accents
Neighbours
Musicians Record (1978)
Trio austríaco comandado pelo pianista Dieter Glawisching, o Neighbours fazia sua estreia com uma conexão com a cena de Chicago. Contando com Ewald Oberlietner (baixo) e Joe Preininger (bateria), o Neighbours chamou Fred Anderson (tenor) e Bill Brimfield (trompete), que estavam pela primeira vez na Europa, para participarem deste registro, feito em Hamburgo em 1977. O trio se manteria ativo por mais de uma década, lançando alguns álbuns e se reunindo em algumas ocasiões especiais depois.63- In The Beginning
New Jazz Syndicate
Independent/Self-released (1978)
64- I Virtuosi Di Cave
I Virtuosi Di Cave
Red Record (1978)
Pioneiro quarteto de saxofones italiano, que surgiu em paralelo ao WSQ e ao Rova, o I Virtuosi Di Cave teve breve vida. Este seminal registro foi realizado em dezembro de 1977. O grupo trazia Roberto Mancini, Alberto Mariani, Tommaso Vittorini e Eugenio Colombo, o mais conhecido deles. As liner notes explicam que o free jazz do quarteto era recheado de elementos do folclore mediterrâneo e tinha influências do avant-garde europeu.65- The River
Bill Lewis/ Khan Jamal
Philly Jazz (1978)
Esta etérea sessão de free impro uniu Bill Lewis (marimba) e seu aluno Khan Jamal (vibrafone). Lewis, morto em 1994, se dedicou mais à carreira de professor, não deixando quase nada registrado. Já Jamal, recém falecido, se tornaria um dos nomes fundamentais de seu instrumento no mundo da free music. A inusual gravação foi realizada em agosto de 77 na St. Mary's Churh, Filadélfia, e traz o duo em duas longas ecantatórias peças.66- Marron Dingue
Arcane V
Exit Records (1978)
Interessante quarteto francês free jazzístico de vida efêmera, o Arcane V era formado por Nano Peylet (sax, clarinete), Michel Saulnier (baixo), Philippe Gumplowicz (guitarra) e Youval Micenmacher (percussão). Parte de seus membros fazia parte do Sonorch, grupo de "experimental ethnic fusion", e isso não passa despercebido neste único registro que deixaram.67- 11th Street Fire Suite
Luther Thomas
Creative Consciousness (1978)
O saxofonista Luther Thomas (1950-2009) é um dos artistas que saiu do núcleo de St.Louis, BAG. Tendo participado do seminal Human Arts Ensemble, tocou até o fim de sua vida, mas não gravou muito como líder. Neste singular registro, para sax alto acompanhado de flauta e "small instruments", Thomas oferece uma suíte em cinco partes, na qual apresenta toda sua inventividade expressiva e composicional.68- GAP
GAP
Alm Records (1978)
Liderado por Kiyohiko Sano, o GAP (Ground Apple Practice) trazia também os instrumentistas Masaru Soga e Masami Tada (que fez parte da icônica banda experimental japonesa dos anos 70 East Bionic Symphonia). Grupo dedicado ao free impro, usavam diferentes elementos percussivos não convencionais (inclusive instrumentos criados) para desenvolver sua música. Tiveram vida efêmera, sempre focados na liberdade improvisativa oferecida pelos palcos.69- Feminist Improvising Group
Feminist Improvising Group
Independent/Self-released (1979)
Pioneiro grupo de free improvisation formado apenas por mulheres, o Feminist Improvising Group (FIG) reuniu artistas destacadas na cena – Irène Schweizer, Lindsay Cooper e Maggie Nicols – a outras envolvidas em diferentes graus com o free, como Angele Veltmeijer (sax), Anne-Marie Roelofs (trombone) e Georgie Born (violoncelo). Raro testemunho do grupo, editado em K7, com apresentações ao vivo. O FIG se desdobraria no Women’s Improvising Group (WIG).70- Berliner Improvisations-Quartett
Berliner Improvisations-Quartett
Amiga (1979)
Singular grupo vindo da Alemanha Oriental, o Berliner Improvisations-Quartett surgiu em meados dos anos 70 e não durou muito tempo. O quarteto reunia uma instrumentação bastante particular, a partir da qual trabalhava com a improvisação livre, com Manfred Schulze (barítono, clarinete), Hermann Keller (piano, voz), Andreas Altenfelder (trompete) e Wilfried Staufenbiel (violoncelo). Uma daquelas preciosidades do selo Amiga que muito dificilmente voltará a catálogo algum dia.71- The Unpredictability Of Predictability
Jerome Cooper
About Time Records (1979)
O percussionista Jerome Cooper (1946-2015) apresenta toda a amplitude de sua arte neste álbum solista captado ao vivo no Soundscape, em Nova York, em julho de 79. Cooper, além de todo o aparato percussivo que domina, toca flauta, balafon, whistle, criando peças de resultados sonoros incrivelmente abertos, amplos e envolventes. Mais conhecido como membro do trio Revolutionary Ensemble, Cooper mostra aqui que tinha muitas ideias e concepções próprias do fazer musical.72- Encounters
Saheb Sarbib/ Jorge Lima Barreto
Alvorada (1979)
Este é um pioneiro registro da free music em Portugal. O baixista luso-francês Saheb Sarbib, que vinha desenvolvendo seus projetos na França, retornou a Lisboa onde se uniu a Jorge Lima Barreto (1949-2011), saindo daí este instigante álbum. O duo apresenta uma sessão de free impro com uma grande variedade sonora. Sarbib toca, além do baixo, oboé, flauta e clarinete baixo; Barreto explora Fender Rhodes e sintetizador. Já vivendo nos EUA, Sarbib se afastaria da música nos anos 90.73- Synchro-Incity
Dave Sewelson
Theatre For Your Mother (1979)
Nascido na Califórnia, o saxofonista Dave Sewelson chegou a NY em 77. Talvez mais lembrado por fazer parte da The Little Huey Creative Music Orchestra, de William Parker, Sewelson não tardou para lançar este seu primeiro álbum, mas depois teve mais oportunidades como sideman mesmo. Aqui o vemos com o grupo The 25 O'Clock Band, que contava com nomes conhecidos, a destacar como Wayne Horvitz (tocando baixo), e outros esquecidos, como a saxofonista Carolyn Romberg.74- Wind and Fingers
Will Menter
Zyzzle Records (1979)
O saxofonista britânico Will Menter iniciava aqui sua carreira trazendo um septeto com uma formação bastante potente, com três saxes, trombone, piano, baixo e percussão. Registrado em julho de 77, Wind and Fingers trazia músicos desconhecidos, que pouco gravariam, exceção do baterista Roy Dodds. Editado apenas em K7, marca a primeira etapa da carreira de Menter. Ainda ativo, tem se dedicado há um tempo mais a sound sculptures, instalações e outros experimentalismos.
75- Wooley The Newt
Stephen McCraven
Sweet Earth Records (1979)
76- If Looks Could Kill
Jim French
Metalanguage (1979)
Este disco de estreia do saxofonista Jim French se tornou lendário (a ponto de circular em versões piratas/não autorizadas) por um motivo particular: foi a primeira gravação de Diamánda Galás. O álbum de French é dividido em duas partes: no lado A, vemos ele improvisando (soprano, sopranino) sozinho; no lado B, entram em cena dois convidados que, ironia, se tornariam muito mais conhecidos que ele: Galás e o guitarrista Henry Kaiser. Interessante sessão de free impro.77- A Mere Finger Pointing At The Moon
Colin Offord/ Peter Kelly
Fringe Benefit Records (1979)
Este trabalho editado na Austrália mostra um duo formado pelos multi-instrumentistas Colin Offord e Peter Kelly. Fruto de duas sessões de improvisação livre captadas em maio e junho de 78, o álbum traz Offord tocando vários tipos de flautas, gongo, sinos e ukulele, enquanto Kelly vai por marimba, vibrafone, berimbau e vários tipos de percussão - por aí dá para ter uma ideia do que oferecem. Kelly fez apenas algumas gravações à época; Offord seguiu tocando, apesar de não ter deixado muitos registros.78- Gostritzer 92
A.R. Penck
Weltmelodie (1979)
A.R. Penck (1939-2017) foi um artista plástico alemão que se envolveu com o free jazz. Isso começou ainda na Alemanha Oriental, em Dresden, quando fez este seu primeiro registro. Penck nunca foi um instrumentista afiado, tocava bateria, piano, guitarra, mas nada com muita técnica. Desenvolveria o projeto T.T.T. (Triple Trip Touch), com o qual gravou uma série de álbuns dos quais participaram músicos tarimbados, como Peter Kowald e Frank Lowe, lançando tudo sempre de forma artesanal.79- Solo Violin Improvisations
Polly Bradfield
Parachute (1979)
A violinista Polly Bradfield teve uma relativamente breve carreira - tocou por cerca de uma década. Mas deixou importantes marcas em sua passagem pela cena nova-iorquina do final da década de 1970, tendo gravado com John Zorn, William Parker e Frank Lowe. O mais relevante em sua trajetória foi este seminal registro de improvisações para violino solista. Em algum momento nos anos 80, ela se mudou para a Califórnia e deixou a música para trás.80- Debut
Groupoid
Groupoid Records (1980)
Encerramos nossa viagem pelo free underground com mais um título da incrível cena japonesa. Formado no alvorecer da década de 1980, o Groupoid era um octeto de desconhecidos músicos que fez seu debut (e único registro) no estúdio Duck Studio em junho de 80. O grupo trazia saxes, tuba, trombone, trompete, violoncelo, baixo e bateria, armando um enérgico free jazz. Apenas duas longas faixas, uma em cada face do vinil, sintomaticamente chamadas "Old Fashioned New Thing".---------
*quem assina:
Fabricio Vieira é jornalista e fez mestrado em Literatura e Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; foi ainda correspondente do jornal em Buenos Aires. Colaborou também com publicações como Entre Livros, Zumbido e Jazz.pt, de Lisboa. Nos últimos anos, tem escrito sobre música e literatura para o Valor Econômico. É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and Run”, de Roscoe Mitchell (Selo Sesc), “The Hour of the Star”, de Ivo Perelman (Leo Records), e “Live in Nuremberg”, de Perelman e Matthew Shipp (SMP Records)