FIRE! SOLTA NOVO TRABALHO





CRÍTICAs  O trio sueco Fire! inicia o ano apresentado um novo registro, The Hands...







Por Fabricio Vieira

Há uma década na estrada, o trio sueco Fire! é um dos projetos mais interessantes da free music contemporânea. Formado por Mats Gustafsson (sopros e eletrônicos), Johan Berthling (baixo) e Andreas Werliin (bateria), o Fire! conta com meia dúzia de intensos álbuns em sua discografia, alguns com convidados (Jim O’Rourke, Oren Ambarchi), além de ter se desdobrado em um projeto paralelo, a incrível Fire! Orchestra. Mesmo mantendo certa unidade, o Fire! tem como marca se espraiar por experimentações de variados enfoques, sempre com resultados grandes – não deve ser difícil encontrar tanto quem prefira o tom mais inebriante e hipnótico do primeiro disco (“You Liked Me Five Minutes Ago”, de 2009) quanto os que vibram mais com a ruidosidade dilacerante de “Unreleased?”, por exemplo. O Fire! já esteve no Brasil uma vez, em maio de 2011, quando fez memorável apresentação no Sesc Pompeia (SP) –tocaram também em Porto Alegre na ocasião –, em um momento em que ainda a maior parte de seu percurso estava a ser construída.

                                                                                                        Photo: Matias Corral

Agora o Fire! volta a se concentrar na formação original em trio neste novo registro, The Hands, que a Rune Grammofon lança em LP (com uma versão limitada de 100 cópias em vinil branco) e CD – talvez o foco no vinil explique a duração breve do álbum, que fica em torno de apenas 37 minutos.
 Em sete temas, Gustafsson, Berthling e Werliin mostram novas possibilidades para sua particular sonoridade. Em muito, isso se deve à ampla instrumentação explorada: Gustafsson toca saxes tenor, barítono, baixo e eletrônicos; Berthling se alterna entre baixos acústico e elétrico; e Werliin, bateria, percussão e efeitos (feedback). Desse amálgama acústico, sai um trabalho de elevada intensidade. A faixa-título abre o registro em alta voltagem, com elementos rock bem presentes, em meio a um poderoso simples tema circular tocado exaustivamente no baixo por sobre o qual o sax de Gustafsson flutua em ondulações com seus característicos picos gritados. A música tem ar de abertura e, em seu marcante repetitivo tema, remete a algo do clima da faixa “You Liked Me Five Minutes Ago”, do álbum de estreia do trio. O tom rock permanece muito vivo na sequência; “When Her Lips Collapsed” começa mais uma vez com o baixo elétrico em circular tema, mas um pouco mais sombrio, algo de atmosfera doom (que retornará em “To Shave The Leaves. In Red. In Black”, a mais extensa do conjunto), com o sax mais sujo e melancólico (melancolia, aliás, que marca profundamente o reflexivo tema final, com o sugestivo título “I Guard Her To Rest. Declaring Silence”). O trio adentra ainda mais essa esfera soturna em “Touches Me with The Tips of Wonder”, mas já em um campo fora do rock. Em um disco em que Gustafsson está bastante focado no sax (sim, ele é saxofonista, mas em outros títulos do Fire! abusou de eletrônicos/fender rhodes), “Washing Your Heart in Filth” traz seus melhores solos.
Os temas de The Hands se mostram mais centrados, de desenvolvimento mais linear e de intensidade focada, mantendo uma expressividade bastante uma e coesa. Mais um exemplar valioso do trio sueco.







The Hands  ****(*)
Fire!
Rune Grammofon






 



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*quem assina:
Fabricio Vieira é jornalista e fez mestrado em Literatura e Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; foi ainda correspondente do jornal em Buenos Aires. Atualmente escreve sobre livros e jazz para o Valor Econômico. É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and Run”, de Roscoe Mitchell (Selo Sesc), e “The Hour of the Star”, de Ivo Perelman (Leo Records)