PLAY IT AGAIN... (Novidades Nacionais)


LANÇAMENTOs
Novos álbuns de artistas do Brasil. Experiências variadas, possibilidades múltiplas. Ouça, divulgue, compre os discos... 



Por Fabricio Vieira

 

Poética #2

Wagner Ramos + Marcos Campello

Brava

O baterista Wagner Ramos dá continuidade a seu projeto Poética, iniciado em 2023 com um duo ao lado do guitarrista Luiz Galvão. Para este segundo capítulo, ele manteve a mesma estrutura do anterior, mas com novos convidados. Mais uma vez, o trabalho se centra em um encontro entre bateria (Wagner também comanda samplers e eletrônicos), guitarra (agora assumida por Marcos Campello) e vozes. As palavras, lá extraídas das obras de Hilda Hilst, Cecília Meireles, Alejandra Pizarnik e Sonia Sanchez, agora se focam na poética de Mário de Andrade. As palavras declamadas (por um time de vozes que conta com Mariana Queiroz, Moacir Vedovato, João Pace, João Victor, Angela Novaes e Beto Bellinati) vêm de textos conhecidos de Mário, como sinalizam os títulos das seis peças: “Macunaíma”, “São Paulo”, “Aprendiz”, “Ode 1”, “Ao Burguês” e “Mano Eloy”. Gravado em junho de 2024, no estúdio Ori (SP).

 


EIN – Encontros Instrumentais

Jadsa/ Lua Bernardo/ Saskia/ Xeina Barros

Selo Sesc

O EIN – Encontros Instrumentais é um muito bem-vindo novo projeto do Selo Sesc, que “tem como premissa promover encontros musicais inéditos entre artistas da cena instrumental brasileira”. Para este número de estreia da série, o EIN propôs um encontro entre quatro artistas que nunca tinham tocado juntas, com a ideia de criarem em estúdio peças instrumentais inéditas. Assim, foram reunidas: Jadsa (guitarra, eletrônicos), Lua Bernardo (baixo e flauta transversal), Saskia (eletrônicos, guitarra) e Xeina Barros (percussão). O resultado são três faixas, desenvolvidas em quatro dias de estúdio: “Macumba”, “Fundas” e “Mares Marés”. “Unir minhas forças às forças delas me encheu de vontade de futuro”, diz Lua Bernardo. “Artistas independentes, corajosas em seus corres e que sabem que tão fazendo um trampo excelente, sem esperar a validação da grande indústria musical.” O EP já está disponível nas plataformas.

 


Ao Vivo no Centro da Terra

(i)miscível + Marcelo Cabral

YB Music

O duo (i)miscível, que fez uma marcante estreia em 2022, retorna em novo registro. Desta vez, o trompetista Amilcar Rodrigues e o baterista Guilherme Marques apresentam um disco ao vivo, captado no espaço Centro da Terra (SP) em junho de 2024. Para o palco, convidaram o contrabaixista Marcelo Cabral, um parceiro frequente da dupla. Assim, em trio, desfilaram sua improvisação livre de fino trato. São 11 temas, que oscilam entre 1 e 6 minutos. Apesar de separadas no álbum, essas peças se revelam como partes de um todo, nascidas para serem apreciadas como um conjunto uno. Se não se trata propriamente de energy music, há momentos de maior vigor, sim, em meio a uma aura geral mais contemplativa, na qual os detalhes sonoros demandam uma atenção maior (muito recompensada no processo) do ouvinte. Cabral não parece um convidado; seu contrabaixo se mostra um elemento vital para a música criada (destaque para sua robusta presença nas partes 5 e 6), tanto que rapidamente esquecemos que o (i)miscível é na realidade um duo. Este registro sedimenta a impressão deixada pela estreia do grupo, sendo este um dos projetos fundamentais da cena free impro latino-americana contemporânea.

 


Passado Presente

Lelo Nazario

Utopia Studio

Em 2022, o pianista e compositor Lelo Nazario planejou o concerto Passado Presente para celebrar os 40 anos de sua carreira solo, no qual apresentava peças registradas nos diferentes álbuns individuais que gravou nessa longa trajetória. Agora temos este momento histórico editado em disco, com Passado Presente trazendo a apresentação ao vivo que aconteceu em 21 de outubro de 2022, no Sesc Pompeia (SP). O marco inicial desta caminhada solo é o álbum “Lagrima/Sursolide Suite”, de 1982. Esse percurso se estende até “Projeto MI² - Mais Independente Impossível”, de 2019, passando por “Discurso aos Objetos/Balada Unidimensional” (1984), “Se...” (1987), “Simples” (1998) e “Africasiamerica” (2006). Ao menos uma peça de cada um desses álbuns é revisitada aqui, às quais se junta “Moto Imperpetuo”, um tema inédito com uma sequência rítmica eletrônica. “Para este projeto, escolhi composições que destacam as diferentes linguagens que utilizo em meu trabalho, num espectro bem amplo que abrange desde o jazz contemporâneo até a música erudita de vanguarda, incluindo o gênero eletroacústico. Permeando todos estes elementos estão as rítmicas afrobrasileiras que trazem uma grande riqueza para toda esta mistura”, explica Nazario. Em um total de nove peças, o disco conta com a participação de instrumentistas fundamentais para a trajetória de Nazario: os contrabaixistas Zeca Assumpção e Rodolfo Stroeter, o saxofonista Teco Cardoso e o baterista Nenê – Lelo toca teclados, piano preparado e eletrônicos. Um registro que vai levar o ouvinte a querer revisitar a discografia desse grande artista.


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*quem assina:

Fabricio Vieira é jornalista e fez Mestrado em Literatura e Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; foi ainda correspondente do jornal em Buenos Aires. Colaborou também com publicações como Entre Livros e Jazz.pt, de Lisboa. Nos últimos anos, tem escrito sobre música e literatura para o Valor Econômico. É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and Run”, de Roscoe Mitchell (Selo Sesc), “The Hour of the Star”, de Ivo Perelman (Leo Records), e “Live in Nuremberg”, de Perelman e Matthew Shipp (SMP Records)