Humanization 4tet: Saarbrücken


LANÇAMENTOs
O Humanization 4tet, grupo luso-americano comandado pelo guitarrista Luís Lopes, edita novo disco ao vivo... 



Por Fabricio Vieira

O Humanization 4tet ruma para sua segunda década de existência mantendo a energia lá no topo. A gênese do grupo vem de 2007, quando o guitarrista Luís Lopes e o saxofonista Rodrigo Amado se encontraram com os irmãos texanos Aaron (contrabaixista) e Stefan Gonzalez (baterista), que estavam tocando em Lisboa com o pai deles, o saudoso trompetista Dennis Gonzalez (1954-2022). A boa química que sentiram ao tocar juntos levou Lopes a colocar em jogo um novo projeto, que gerou em 2008 seu registro de estreia, “Humanization 4tet” (Clean Feed). Ali era apresentado um incrível grupo que oferecia um free jazz renovado, com sensível energia rock. Após outros bem-sucedidos álbuns de estúdio e ao vivo, o grupo chega agora a Saarbrücken. Este novo registro, o terceiro live do quarteto (“...the form that has become obligatory for us, because it is on stage that we bring our ‘drama’, where everything happens again na lives through the music”, diz Lopes nas liner notes), foi captado em concerto realizado em 2 de outubro de 2021 no Saar Free Jazz Fest, em Saarbrücken, Alemanha.

Quem acompanha o trabalho do Humanization 4tet estranhará a princípio ao ver as faixas apenas como “Suite I”, “Suite II” e “Suite III”, com tempos que passam por 14, 12 e 17 minutos, respectivamente. O grupo costuma trabalhar com temas, com peças compostas e não free impro. Mas ouvindo o disco as coisas logo se esclarecem. Cada uma dessas suítes, na verdade, carrega diferentes conhecidas peças do repertório do quarteto. Como esperado, a partir delas temos a abertura para espaços improvisacionais, onde podemos apreciar a técnica justa de cada músico. Ouvindo a “Suite I”, por exemplo, vamos nos deparar com “As of Yet”, de Arthur Blythe, antes de, lá pelos nove minutos, mergulharmos na irresistível “Jungle Gymnastics”. A Suite II fecha com a saborosa “Two Girls”, com sax fulminante de Amado. Já a Suite III abre com “Engorged Mosquitos” e lá em seu meio, após solo de Lopes, que traz seus momentos mais noise nesta faixa, desembocamos em “Bush Baby”, clássico de Blythe que entrou para repertório do grupo há mais de uma década. Saarbrücken é mais um empolgante registro do Humanization 4tet, que mostra a banda em plena maturidade expressiva. Lançamento em CD (edição limitada de 300 cópias) e digital.


---------

*quem assina:

Fabricio Vieira é jornalista e fez Mestrado em Literatura e Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; foi ainda correspondente do jornal em Buenos Aires. Colaborou também com publicações como Entre Livros e Jazz.pt, de Lisboa. Nos últimos anos, tem escrito sobre música e literatura para o Valor Econômico. É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and Run”, de Roscoe Mitchell (Selo Sesc), “The Hour of the Star”, de Ivo Perelman (Leo Records), e “Live in Nuremberg”, de Perelman e Matthew Shipp (SMP Records)