FREE MUSIC: dois novos livros em espanhol


LIVROs
Dois novos interessantes trabalhos que abordam o free jazz e a música experimental acabam de sair... 



Por Fabricio Vieira


A maior parte da bibliografia sobre free jazz/free impro e arredores existe apenas em inglês. Mas dois livros que saíram há pouco dão uma oportunidade de ver essa música sendo comentada em outro idioma. O primeiro deles é Free Jazz: La música más negra del mundo (Cuadernos Anagrama, 160 pág.). Escrito pelo argentino Mariano Peyrou, professor de História do Jazz no Centro Superior Música Creativa, em Madri, o livro aborda o free jazz explorando e explicando suas características e particularidades, enfocando especialmente seus primeiros tempos nos Estados Unidos na década de 1960 – avança um pouco apenas em suas últimas páginas para citar músicos contemporâneos herdeiros, de uma forma ou de outra, do free jazz, destacando  trabalhos de Geri Allen, Nicole Mitchell e Vijay Iyer. Trata-se de um ensaio que aborda o gênero apresentando discos e artistas que melhor representam as ideias expostas no desenvolvimento de sua tese. Funciona bem como uma discussão, soando como uma palestra apresentada em um colóquio, de leitura ágil e agradável, não se tratando de um livro de história do free jazz.

O segundo livro que chega agora tem outra proposta. Música Experimental Argentina: Un Pulso Sónico Inagotable exigiu um longo trabalho de pesquisa e dedicação de seus autores, Eugenio Fernández e Omar Grandoso. Amplo panorama da música experimental feita por lá, tem mais de 500 páginas, abordando as diferentes faces dessa arte, passando por free impro, noise, música eletrônica, drone, rock, free jazz e por aí vai. “Este trabajo nace de la necesidad de conocer cómo se desarrolló y se sigue desarrollando la experimentación musical en Argentina, a través de la voz de sus protagonistas”, diz em sua apresentação. O material está organizado em diferentes tópicos, sendo seu núcleo formado por 10 partes: Contexto Histórico; Protagonistas; Regiones; Grupos; Lugares; Sellos; Archivo; Ciclos y festivales; Publicaciones; Textos en Primera Persona. Como se vê por essa divisão, todos aspectos da cena experimental são abordados, oferecendo, de fato, um material de valor indiscutível. A última parte é composta por relatos dos próprios músicos – um amplo painel, com um total de 57 artistas –, alguns bem conhecidos por quem circula por este espaço, como os saxofonistas Camila Nebbia, Pablo Ledesma e Ada Rave, os bateristas Pablo Díaz e Marcelo von Schultz e os pianistas Ruben Ferreno e Fabiana Galante. Música Experimental Argentina é um livro indispensável para quem quer (melhor) conhecer o que de mais inventivo tem sido feito no país vizinho.


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*quem assina:

Fabricio Vieira é jornalista e fez mestrado em Literatura e Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; foi ainda correspondente do jornal em Buenos Aires. Colaborou também com publicações como Entre Livros e Jazz.pt, de Lisboa. Nos últimos anos, tem escrito sobre música e literatura para o Valor Econômico. É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and Run”, de Roscoe Mitchell (Selo Sesc), “The Hour of the Star”, de Ivo Perelman (Leo Records), e “Live in Nuremberg”, de Perelman e Matthew Shipp (SMP Records)