ENTREVISTA Finalmente o trompetista Peter Evans retorna ao país, quase oito anos após sua única visita anterior. Antes de desembarcar por aqui, ele conversou com o FreeForm, FreeJazz...
Peter Evans chegou a Nova York há duas décadas, mais precisamente em 2003, e a partir daí desenvolveu uma trajetória que o colocou como um nome central da música livre e criativa desses tempos. Muitos são os projetos incríveis com os quais o trompetista norte-americano está envolvido, a destacar alguns obrigatórios para quem quer descobrir um pouco do que de mais excitante tem sido feito na free music contemporânea: seu Quintet, o trio Pulverize The Sound e o quarteto Being & Becoming. E há, por trás e sedimentando tudo isso, seu trabalho solista. Esta face vital de sua música o acompanha em toda sua trajetória, tendo sido registrada em sete álbuns, a começar por More is More (2006), passando pela obra-prima Lifeblood (2016) e chegando ao mais recente Into The Silence (2020). Evans esteve no Brasil apenas em uma oportunidade, em julho de 2016, onde fez apresentações solistas em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Passados quase oito anos, o trompetista finalmente retorna, com concertos agendados a partir da próxima semana em SP e no Rio. Antes de embarcar para o Brasil, Peter Evans conversou com o FreeForm, FreeJazz...
Você vem fazendo gravações solistas há muito tempo. Ouvindo
seu catálogo solo, de ‘More is More’ a ‘Into The Silence’, percebo que a música
que apresenta mudou de um álbum para outro, abrangendo diferentes
possibilidades e caminhos para o trompete solo. O que ainda busca no formato
solista?
“Eu vejo o formato solo como um microcosmo para todos os
meus interesses musicais. Portanto, os desenvolvimentos e mudanças na minha
música solo ao longo dos anos são simplesmente o reflexo de um processo maior
de exploração e crescimento.”
Seu primeiro concerto por aqui, no teatro do Sesc Belenzinho, vai
ser exatamente uma apresentação solista. O que o público pode esperar do
espetáculo? Será um concerto de improvisação livre?
(photo: Peter Gannushkin) |
Nesta turnê pelo Brasil, também estão previstas
apresentações com artistas daqui. Você conhece o trabalho de artistas brasileiros
da free music?
“Not at all! Gosto de muitos tipos de música e músicos
brasileiros. Em setembro, farei um show em duo, aqui em NYC, com o Cyro
Baptista, por exemplo. Na próxima semana, espero ter uma boa variedade de
experiências.”
Como encontra novos sons no seu instrumento? Você ainda
pratica todos os dias?
“Pratico todos os dias, sim – mas isso é normal para
qualquer trompetista que queira manter um certo nível. No que diz respeito à
descoberta de novos sons, acredito que faça parte de um processo mais amplo,
que envolve o domínio de todos os elementos da música – ritmo, altura, timbre
etc. Como muitos dos grandes artistas do passado mostraram, esses elementos
estão muito interligados. Eu passo um tempo interagindo com um elemento ou
outro de forma isolada, mas espero que a música seja criada naturalmente quando
estou tocando.”
Como vê a relação entre som, espaço e performance?
“O espaço e a atmosfera podem ter um grande impacto no seu desempenho,
mas o tiro pode sair pela culatra. Se um artista se permite ser muito impactado
quando a atmosfera está boa, imagine o que acontece quando a atmosfera está ruim!
Em última análise, isso requer sensibilidade, sobretudo em relação à vibração e
energia das pessoas que estão ali.”
Desde 2011, você comanda o selo More is More Records, por onde tem editado sua música. Vale a pena manter uma gravadora?
“Estou tentando entrar para uma gravadora maior atualmente.
Nonesuch Records ou Warp Records, por favor, entrem em contato!”
Como vê o jazz e o free impro no século XXI? Existe um novo
público descobrindo essa música, comprando discos, indo a shows?
“Não me limito ao Jazz/Free Improvisation. No ano passado, abri para a Lydia Lunch tocando solo e
foi uma ótima experiência. As pessoas respondem bem à boa música! As pessoas compram
discos nos shows, sim. Sempre fico surpreso com o ressurgimento do vinil. Com
certeza são bacanas, mas muito pesados para carregar em uma turnê.”
Você vai tocar no Jazz em Agosto, em Lisboa, com o
quarteto Being & Becoming. Essa sua ligação com Portugal é bastante
antiga. Quando começou a ir a Portugal? Já deu para aprender português?
“Minha primeira viagem a Portugal foi em 2009. Além disso, eu morei em Lisboa em 2019-2020. Hoje em dia meu Português é no lado brasileiro e eu estou sempre tentando melhorar!”[resposta dada em português por Evans]
Como foi a experiência de tocar no Brasil em 2016? Que lembranças
guarda daquela visita?
“Foi uma ótima visita. Fernanda Navarro e Mário Del Nunzio organizaram
tudo, junto com o Matthias Koole (que vi recentemente em Berlim). Não acredito
que já se passaram 8 anos. Penso que a Fernanda e o Mário fizeram um grande
festival (o FIME). Espero voltar com mais frequência a partir de agora.”
*PETER EVANS No Brasil*
- Concerto solo
Quando: 24/5 (sex),
às 21h
Onde: Sesc
Belenzinho (SP)
Quanto: R$ 15
(credencial) a R$ 50
-Show com Giallos + Rafael Cab
Quando: 25/5 (sab),
às 23h
Onde: Apostrophe’
Bar (Santo André)
Quanto: R$ 15 a R$
25
-Show com Wagner Ramos, Inés Terra, Amilcar Rodrigues e Alex
Dias
Quando: 26/5 (dom),
às 18h30
Onde: entr3posto
(Sta. Cecília/SP)
Quanto: R$ 25
- Concerto solo (abertura de God Pussy)
Quando: 29/5 (qua),
às 20h
Onde: Audio Rebel
(RJ)
Quanto: R$ 20 a R$
40
-Oficina de
Improvisação Livre
Quando: 30/5
Onde: Audio Rebel
(RJ)
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*quem assina:
Fabricio Vieira é jornalista e fez mestrado em Literatura e Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; foi ainda correspondente do jornal em Buenos Aires. Colaborou também com publicações como Entre Livros e Jazz.pt, de Lisboa. Nos últimos anos, tem escrito sobre música e literatura para o Valor Econômico. É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and Run”, de Roscoe Mitchell (Selo Sesc), “The Hour of the Star”, de Ivo Perelman (Leo Records), e “Live in Nuremberg”, de Perelman e Matthew Shipp (SMP Records)