BREVEs Clássico e obrigatório álbum de Naná Vasconcelos
editado em 1979, Saudades faz parte do pacote de estreia de uma nova edição
especial de LPs da gravadora alemã ECM Records...
Por Fabricio Vieira
A lendária gravadora alemã ECM Records está lançando uma
nova série:
Luminessence. A proposta é
reeditar em LP títulos históricos da gravadora em
novas cuidadosas versões
audiophile. A ECM foi fundada pelo produtor
Manfred Eicher em 1969 e, desde então, colocou no mercado mais de 1.800 álbuns
de artistas inovadores de diversos cantos do mundo. E é muito gratificante que
a série Luminessence tenha em sua estreia um disco de um dos maiores artistas
brasileiros,
Naná Vasconcelos, cujo
Saudades sai nesse pacote de abertura do
novo subselo ao lado do disco
Gnu High, do trompetista canadense Kenny Wheeler.
É fato que muitos álbuns (não só da ECM) não receberam o tratamento acústico
que mereciam quando editados originalmente (e não poucas vezes as
reedições/reprensagens também deixaram a desejar). Então sempre é bem-vinda uma
iniciativa que busca extrair o máximo que uma gravação carrega e pode oferecer.
Se a palavra
audiophile pode gerar certo senão a muitos ouvidos, por poder
significar apenas um rótulo destinado a elevar o preço de venda, o que a ECM
promete são edições de fino trato sonoro, partindo das originais master tapes
analógicas, com novas liner notes, destacando materiais esgotados há muito ou
mesmo que nunca apareceram em vinil (lembremos que durante umas duas décadas
muita coisa saiu apenas em CD). Os vinis da série Luminessence são sim mais caros,
saindo a 39,90 euros cada no site da ECM (enquanto um vinil “normal” custa cerca
de 22 euros por lá).
Saudades é um álbum gravado por Naná Vasconcelos (1944-2016)
em março de 1979 no Tonstudio Bauer, Ludwigsburg (Alemanha), registro de um
longo período em que o percussionista viveu fora do Brasil, entre Estados
Unidos e Europa.
Saudades tem cinco peças (e não vem nada de extra nesta nova
edição). O disco teve muitas prensagens nessas suas décadas de vida (o Discogs
aponta mais de uma dúzia de versões), aparecendo em países como Alemanha, Brasil,
Japão, EUA, Espanha e Iugoslávia, em LP e depois em CD. Apenas uma das faixas
do álbum não é composta por Vasconcelos, sendo esta “Cego Aderaldo”, de Egberto
Gismonti, parceiro muito próximo ao percussionista à época e que foi o
responsável pelos arranjos de cordas interpretados pela Radio Symphony
Orchestra Stuttgart na peça “O Berimbau” (peça irretocável à qual diferentes
críticos já se referiram como sendo um tipo de
concerto para berimbau). O disco
é completado por outros clássicos de Naná: “Vozes (Saudades)”, “Dado” e “Ondas
(Nos Olhos de Petronila)” – esta faixa foi grafada errada no disco original,
como “Ondas (Na Óhlos de Petronila)” e isso nunca foi arrumado, nem em edições
em CD; será que alguém se atentou a isso agora? Clássico indiscutível, difícil
alguém interessado em música criativa (em seu sentido mais amplo) não ter um
exemplar de
Saudades na estante. Fica a dúvida se vale a pena investir nesta
nova edição...