JAZZ AL SUR: 75 Discos Argentinos (1960-2020)



Para apresentar a vitalidade da cena da Argentina, trazemos esta seleção de álbuns imperdíveis do jazz, em suas múltiplas faces, feito no país vizinho...

 

 


Por Fabricio Vieira

 

Não parece exagero afirmar que a cena jazzística da Argentina é a mais intensa da América Latina, provavelmente de todo o Hemisfério Sul. Essa é uma história de muitas décadas, que se inicia quando o país do tango começa a ser seduzido pela então novidade jazz. Não demorou tanto para que o gênero conquistasse um espaço próprio no país, gerando uma linguagem particular, em um processo que logo gestaria ídolos e referências locais. "Desde el comienzo, además de producir música y músicos, el jazz argentino vio proliferar coleccionistas y críticos, productores soñadores y de los otros, revistas especializadas y pequeños festivales, disquerías selectas y grandes bateas anónimas por las que tantos dedos se ensuciaron con pasión", diz Sergio Pujol (In: "Jazz Al Sur", Emecé, 2004). Com o tempo, músicos de jazz argentinos começaram a desbravar o cenário internacional. Pioneiro nesse aspecto foi o guitarrista Oscar Alemán (1909-1980), que viveu na Europa nos anos 30, onde gravou com o trompetista Bill Coleman e acompanhou a cantora Josephine Baker. Depois seria a vez do pianista Enrique "Mono" Villegas (1913-1986), que assinou com a Columbia em 1955 e se mudou para Nova York, onde gravou dois discos para o selo. Mas sucesso mesmo fora de seu país faria o pianista e arranjador Lalo Schifrin. Descoberto por Dizzy Gillespie, Schifrin desembarcou nos Estados Unidos no fim dos anos 50, onde trabalhou com o icônico trompetista ("Gillespiana"), antes de se tornar premiado autor de trilhas para cinema e séries ("Missão Impossível"). Na virada dos anos 50 para os 60, antes de o saxofonista Leandro Gato Barbieri (1932-2016) se tornar uma referência do avant-garde jazz no exterior, jovens músicos ansiavam por uma linguagem mais moderna para o som que vinha sendo feito no país. Nesse cenário, surgiu o Agrupación Nuevo Jazz, espécie de coletivo que uniu músicos em torno da ideia de difundir as novas correntes do jazz, organizando gigs e encontros e chegando a gravar um 7'', "Menorama". Deste disco, participaram nomes que fariam a música no país nos anos 60 e 70, como Jorge Navarro, Santiago Giacobbe, Rodolfo Alchourrón, Jorge González e o próprio Gato Barbieri. O novo jazz abriria as portas para uma importante característica da música que seria feita na Argentina: o diálogo com as sonoridades populares. E não apenas o tango; importante manancial foi também o chamado folklore argentino  ou seja, as músicas regionais, tradicionais, de raiz. Do folklore argentino vem ritmos e estilos como chacarera, zamba, carnavalito e baguala, que acabaram por adentrar o jazz do país ajudando a desenvolver, junto a tangos e milongas, uma particular sonoridade que faz do jazz argentino algo realmente com personalidade própria e única. Infelizmente o riquíssimo jazz da Argentina é muito pouco difundido no Brasil. A vinda de músicos de lá, a distribuição do que produzem, a interação com artistas brasileiros, tudo isso é muito tímido e pontual até hoje. Para mostrar um pouco do que de melhor tem sido feito na Argentina nas últimas décadas  e, quem sabe, ajudar a chamar a atenção para a incrível cena vizinha , apresentamos esta seleção de álbuns. Buscamos destacar discos feitos sob diferentes perspectivas jazzísticas, do free ao fusion ao pós-bop, sempre tendo em mira apenas a ideia de ser algo verdadeiramente criativo. É claro que trata-se apenas de uma seleção relativamente restrita e particular (muitos destacados discos e artistas ficaram de fora, é inevitável, se não dobraríamos facilmente a lista, deixando-a extensa demais). Mas quem aceitar atravessar essa jornada sonora com certeza terá uma visão razoavelmente abrangente das possibilidades incríveis oferecidas pelo jazz vindo da Argentina. Os discos estão dispostos em ordem cronológica. Boas descobertas e audições.

 


 *JAZZ AL SUR: 75 Discos Argentinos (1960-2020)*

 


1- Jazz Argentino (1960)

Jazzmania All Stars

Disc Jockey  ouça/listen

Histórico registro do nascente jazz moderno argentino, essa gravação ao vivo foi feita em maio de 1960 durante o Tercer Congreso Nacional de Jazz. O sexteto era formado por nomes que se tornariam centrais na cena, a destacar Leandro "Gato" Barbieri, Jorge López Ruiz, o guitarrista Horacio Malvicino (que faria parte do grupo de Piazzolla), Horacio Borraro e Pichi Mazzei (bateria). São apenas dois temas: Los Blues Del Cuarto N.4, de Borraro, e o standard Take The a Train.


 

2- Jazz en Embassy (1965)

Jorge Anders

Dial  ouça/listen

O saxofonista Jorge Anders (1939-2017) tinha um potente jovem quarteto à época desta gravação. Anders, então com 26 anos, estava acompanhado de Jorge González (baixo), Gustavo Kerestezachi (piano) e Nestor Astarita (bateria), em apresentação que aconteceu em 10 de dezembro de 65. Focados em standards ("Deed I Do", "Softly As In A Morning Sunrise"), mostram uma música com bastante personalidade. Destaque aos solos de Anders (que conduziria importantes big bands à frente).

 


3- En Cuerpo y Alma (1966)

Enrique Villegas

Trova/Diorama  ouça/listen

Enrique “Mono” Villegas (1913-1986) foi um dos mais destacados nomes do piano jazzístico argentino. Na década de 50, foi para os EUA, tendo gravado dois discos para a Columbia. Mas a carreira não deslanchou por lá. Na volta a Buenos Aires, gravou este marcante álbum em trio (o formato piano-baixo-bateria foi seu favorito). Em "Variaciones sobre Cuerpo y Alma (Body and Soul)", de quase 20 minutos, que ocupa o lado A do vinil, exibe toda a elegância e inventividade improvisativa de sua música.  


 

4- Jazz En La Universidad (1966)

Rubén López Furst

Edul  ouça/listen

Rubén "Baby" López Furst (1937-2000) começou a tocar nos clubes de jazz ainda adolescente, no começo da década de 50, e era já um músico bastante sólido quando fez este registro. Com o trio que montou anos antes, em 62, acompanhado por Jorge González (baixo) e Nestor Astarita (bateria), o pianista nascido em Buenos Aires entrou em estúdio para esta gravação na qual apresenta temas próprios em meio a releituras de clássicos do jazz, com um resultado bastante envolvente.    

 


5- El Nuevo Sonido del Chivo Borraro (1966)

Horacio 'Chivo' Borraro

Microfon  ouça/listen

Horacio 'Chivo' Borraro (1921-2012) foi um dos grandes saxofonistas que a Argentina teve. Infelizmente não fez carreira internacional - ao menos seu trabalho não chega a ser ignorado por quem acompanha o jazz. Já estava na estrada há um tempo razoável e era localmente bem conhecido quando gravou este seu disco de estreia. Com um forte quarteto, com piano, baixo e bateria, e focado no sax tenor (tocava mais clarinete antes), apresenta cinco peças, sendo duas originais.    

 


6- El Grito (1967)

Jorge López Ruiz

CBS  ouça/listen

Nome vital para a modernização do jazz argentino nas décadas de 60 e 70, o baixista e compositor Jorge López Ruiz (1935-2018) realizou aqui sua primeira grande obra. Com o subtítulo de Suite Para Orquesta de Jazz e dividido em cinco partes, El Grito reuniu uma big band com mais de uma dúzia de instrumentistas, com nomes como o trompetista Gustavo Bergalli e o guitarrista Oscar López Ruiz (que tocaria longo tempo com Piazzolla). Vale lembrar que o título da obra não era gratuito: a Argentina vivia sob a ditadura do general Onganía.

 

7- In Search of a Mistery (1967)

Gato Barbieri

ESP-Disk  ouça/listen

Leandro “Gato” Barbieri (1932-2016) deixou a Argentina em 1962 em busca de novos ares para sua música. Não tardou para que estivesse adentrando a nascente cena free jazz, passando a tocar no grupo de Don Cherry. Em março de 67, em Nova York, o saxofonista teve a oportunidade de gravar esta sessão para o mítico selo ESP-Disk, em quarteto com Sirone (baixo), Calo Scott (violoncelo) e Bobby Kapp (bateria). O álbum seria o primeiro registro free jazzístico feito por um artista argentino.

 

8- Trauma (1968)

Alfredo Remus

Ten Records  ouça/listen

O baixista Alfredo Remus montou um potente trio, com Jorge Anders (sax tenor) e Osvaldo López (bateria), para este seu primeiro disco como líder, que contou também com dois percussionistas. Remus buscava se aproximar do que de mais contemporânea no jazz havia (mas não chegou a adentrar o free). Captado em outubro de 68, o álbum trazia duas peças de Miles Davis - Milestones e uma curiosa So What - e mostrava seu trabalho como compositor na intensa faixa-título.

 

9- Suite Trane (1970)

Alberto Favero

Trova  ouça/listen

O pianista Alberto Favero tinha apenas 26 anos quando decidiu realizar esta ambiciosa obra. Formado em música, Favero compôs esta tocante suíte em cinco partes em homenagem a John Coltrane. Para a empreitada, o compositor vindo de La Plata convocou músicos novos e da geração anterior, em um time com mais de 20 instrumentistas, entre artistas esquecidos e outros destacados no futuro, como o saxofonista Bernardo Baraj e o trompetista Gustavo Bergalli.

 


10- Bronca Buenos Aires (1971)

Jorge López Ruiz

Trova  ouça/listen

Clássico do jazz avant-garde argentino, este disco-protesto nasceu em meio a um tempo  brutal em que as ditaduras militares assombravam a América Latina. A suíte em quatro partes concebida por Jorge López Ruiz une poesia (de Jorge Tcherkaski), solos incendiários, coro e potente big band em uma viagem hipnótica que se revela atualíssima. A obra tinha uma continuação, "Coraje Buenos Aires", que, segundo Ruiz, chegou a ser gravada, mas foi destruída pela RCA em meio à repressão do período.

 


11- Gustavo Kerestezachi y Su Trio (1971)

Gustavo Kerestezachi

Tonodisc  ouça/listen

Um dos primeiros músicos interessados em free jazz no país, o pianista Gustavo Kerestezachi (1942-2003) foi para Paris nos anos 70, onde se associou ao baixista Alan Silva e gravou ao lado de Oliver Lake. Ele deixou uma modesta discografia, a destacar este álbum em trio gravado ainda na Argentina, com Adalberto Cevasco (baixo) e o baterista Pocho Lapouble. Entre temas próprios e clássicos como "Like Sonny", uma sessão prometedora, com algo mais na linha jazz modal do que free. 

 


12- Quinteplus (1972)

Quinteplus

Parlophone  ouça/listen

Lendário quinteto formado na efervescência do fusion, o Quinteplus se destacou pelos instrumentos eletrificados e a busca de inspiração na música popular argentina, extraindo melodias e ritmos de zambas e chacareas (processo que seria bastante difundido à frente). O grupo, que não durou muito, era uma verdadeira seleção: Gustavo Bergalli (trompete), Jorge Anders (sax), Santiago Giacobbe (piano elétrico), Jorge Gonzáles (baixo elétrico) e Pocho Lapouble (bateria).

 


13- Ego (1972)

Jazz Band de Free

Ten Records  ouça/listen

Apesar do nome, este grupo não é propriamente uma banda de free jazz. Mais adentrado à seara do fusion, free fusion talvez, este único álbum da Jazz Band de Free foi gravado em duas sessões, em maio e junho de 72. No núcleo do grupo está o baterista Carlos Pocho Lapouble, responsável pelas composições. Com piano elétrico, guitarra elétrica, sax, trompete e baixo, o grupo cria um álbum de muita força inventiva, tendo sua principal peça, "Ego, Luego Existen", ocupando todo lado A.

 


14- Sanata y Clarificación (1972)

Rodolfo Alchourrón

Promúsica  ouça/listen

Em 1978, quando decidiu ir para NY, o guitarrista Rodolfo Alchourrón (1934-1999) era "lendário entre os músicos e praticamente um desconhecido para o grande público", segundo Sergio Pujol. Antes disso, havia criado o projeto Sanata y Clarificación. Com elementos free e funk, o grupo trazia, junto à sua guitarra, órgão, baixo elétrico, trompa, saxes (Bernardo Baraj e Jorge Cutello), trompete e bateria, oferecendo uma música de sonoridade muito particular, com solos de alta intensidade.   

 


15- De Prepo (1972)

Jorge López Ruiz 5

Ten Records  ouça/listen

Com De Prepo, Jorge López Ruiz fecha um tríptico referencial do jazz mais inventivo da Argentina do período. Com seu quinteto, adentra aqui o universo do fusion, experimentando possibilidades novas. Nessas peças bastante climáticas, destaque para o sax soprano de Hugo Pierre e o piano elétrico de Fernando Gelbard (Ruiz toca baixo elétrico em alguns temas) - há um peça, "Mirosbass", em homenagem ao baixista do Weather Report, algo que sinaliza para onde estavam olhando.

 

16- H2O (1973)

Eduardo Casalla/ Horacio Larumbe/ Oscar Tissera

RP Music  ouça/listen

O baterista Eduardo Casalla (1938-2013) comandou este trio durante a década de 1970 do qual praticamente não restaram registros. Este disco, por exemplo, não foi editado à época, ficando, na verdade, engavetado por décadas. Junto a Casalla estavam Horacio Larumbe (1939-2003), no órgão Hammond, e Oscar Tissera (sax e flauta). O resultado é um contagiante soul jazz (como poucos faziam na Argentina), com muita improvisação e inventivas peças.


 

17- Capitulo Uno: America Latina  (1973)

Gato Barbieri

ABC/Impulse!  ouça/listen

Uma década após deixar seu país, Gato Barbieri retornou para aprofundar suas pesquisas de então, quando buscava uma síntese entre o free jazz e sonoridades latino-americanas. Para esta sessão, convocou músicos argentinos de diferentes perfis, em uma escalação que contou com o baterista Pocho Lapouble e a participação de Dino Salluzzi (bandoneón). "Encuentros" e "La China Leoncia..." são arrasadoras, com o fulminante sax em meio a ritmos, melodias e instrumentos regionais.

 


18- Didi (1974)

Fernando Gelbard

Discos Redondel  ouça/listen

Importante figura dos anos 70, o pianista de Tucumán Fernando Gelbard participou de registros fundamentais do jazz à época, mas quase não gravou em seu nome. Didi é o que de mais interessante deixou. Focado no piano elétrico, tocando moog em uma peça, Gelbard convocou percussionistas (a destacar Rubén Rada), baixo e contou com o sax de Chivo Borraro em algumas peças (as mais enérgicas), com um resultado algo latin, mirando o soul jazz.

 


19- Blues Para Un Cosmonauta (1975)

Horacio 'Chivo' Borraro

Trova  ouça/listen

Horacio Chivo Borraro criou aqui sua obra mais ousada. Algo fusion, algo space jazz, Blues Para Un Cosmonauta mostra o lendário saxofonista testando múltiplas possibilidades em um registro de muita personalidade. Ele convocou antigos parceiros para a empreitada, com Fernando Gelbard (piano e fender rhodes) e o baixista Jorge Gonzalez. O guitarrista brasileiro Stenio Mendes participa de duas faixas. O próprio Borraro vai além do sax e testa órgão, sintetizador e xilofone.

 


20- Navarro Con Polenta (1977)

Jorge Navarro

Aleluya Records  ouça/listen

O pianista Jorge Navarro adentrava à época o universo do jazz-rock, deixando este interessante registro. Convocou para a empreitada Juani Amaral (baixo elétrico), Ricardo Lew (guitarra) e Norberto Minichilo (bateria). Se revezando entre órgão Hammond, piano elétrico e acústico, Navarro abre o disco mandando um recado direto sobre o que estava pensando, com uma versão do clássico "Black Dog", do Led Zeppelin. Pelo caminho, peças suas e temas de Keith Jarrett e Joe Farrell.

 


21- Mardel Jazz '82 (1982)

Varios

Phillips  ouça/listen

O Mardel Jazz foi um importante festival organizado pelo crítico e produtor Walter Thiers. Em seus primeiros tempos (como aqui), o evento focava bastante a cena local. Neste álbum duplo, podemos ouvir nomes centrais da época, como o trio de Bernardo Baraj, Juan Barrueco e Lito Vitale; o grupo do flautista Alejandro Santos; o trio do pianista Horacio Larumbe; o trompetista Roberto Fats Fernandez; e o inventivo duo de Kike Sanzol e Nono Belvis. Interessante documento da época.

 

22- Solo Piano (1983)

Jorge Dalto

Melopea Discos  ouça/listen

O pianista Jorge Dalto (1948-1987) teve uma vida breve e não deixou uma discografia própria muito extensa. Nos anos 70, migrou para os EUA, onde tocou em grupos de latin jazz, fusion e gravou com George Benson. Em 83, em passagem pela Argentina, gravou este que foi seu único registro para piano solista. Um disco intimista, com releituras de Piazzolla ("Adiós Nonino") a Coltrane ("Giant Steps") em meio a temas próprios, a destacar a improvisada "Impresiones de Mi Viaje a BsAs".

 


23- Nueva Generación (1984)

Andrés Boiarsky

CBS  ouça/listen

Entre uma temporada em Londres, onde foi estudar, e a mudança para Nova York, o saxofonista Andrés Boiarsky se reuniu em Buenos Aires com parceiros locais para conceber este álbum. Com um potente pós-bop, Boiarsky (saxes tenor e soprano) apresenta peças suas e algumas releituras. Para a empreitada convocou o veterano baixista Alfredo Remus, o baterista Roberto Cesari e o pianista Carlos Franzetti, que assina a intensa "Prometeo".   

 


24- Once Upon a Time: Far Away in the South (1986)

Dino Saluzzi

ECM  ouça/listen

O bandoneonista Dino Saluzzi, nascido em Salta em 1935, é um dos grandes em seu instrumento. Tendo começado a gravar assiduamente a partir dos anos 70, não tardou para chamar atenção no exterior. Circulando entre o tango, o folclore e o avant-garde jazz, acabou no mítico selo alemão ECM, onde fez esta belíssima gravação ao lado de um incrível time global: o baixista Charlie Haden, o trompetista dinamarquês Palle Mikkelborg e o baterista francês Pierre Favre. 

 


25- Alfombra Magica (1988)

Alfombra Magica

Interdisc  ouça/listen

Referencial trio instrumental que durou poucos anos, o Alfombra Magica era formado por Quique Sinesi (guitarra), Matías González (baixo) e Horacio López (percussão). Com elementos de fusion e uma sensível herança da música popular, o Alfombra Magica tinha à época deste álbum de estreia, gravado em novembro de 85, um foco especial na improvisação. Sinesi, que também circulava pelo tango, foi um dos nomes mais destacados da guitarra argentina nos anos 80 e 90.

 

26- Luna Negra (1992)

El Umbral

Melopea  ouça/listen

Criado em Rosario no começo da década de 1980, o quarteto de avant-jazz El Umbral teve vida longa, mas deixou poucos registros. Tendo em seu núcleo Mariano Suárez (trompete), Luís Suárez (sax e flauta) e Fernando de la Riestra (baixo), mais bateria e depois guitarra, o grupo começou mais centrado na improvisação livre e foi agregando elementos da música popular com o tempo. Infelizmente é difícil ter uma visão mais completa da música do El Umbral, especialmente em sua primeira década, devido à falta de registros disponíveis.  

 

27- Free Jazz Tango (1996)

Sergio Paolucci

Epsa Music  ouça/listen

Talvez este álbum não entregue tudo o que promete, pensando na expectativa criada com o diálogo entre o free jazz e o tango anunciado em seu título. Mas o sax alto Sergio Paolucci, um dos mais antigos nomes ligados ao free no país, realiza um interessante registro, tendo como principal parceiro o bandoneón de Rodolfo Mederos. Há peças próprias e revisitação a clássico tanguero ("Adiós Nonino"), com a participação de Rubén Ferrero (piano) e do saxofonista Bernardo Baraj.

 

28- Milonga (1997)

Marcelo Peralta

Melopea  ouça/listen

O saxofonista Marcelo Peralta (1961-2020) começou a explorar o free jazz na Buenos Aires dos anos 80, quando criou, ao lado do guitarrista Jorge Mancini, o "Grupo de Improvisación Tercer Mundo". Milonga reúne peças de Peralta gravadas entre 88 e 96, antes dele imigrar para a Espanha. São desde temas com o Grupo de Improvisación Tercer Mundo a peças solistas, mostrando suas pesquisas com o diálogo entre música popular e possibilidades free jazzísticas, trazendo resultados muito inventivos.  

 


29- Avantango…y en el 2000 también (1998)

Pablo Aslan Trio 

Epsa Music  ouça/listen

Radicado em Nova York desde os anos 80, o baixista e compositor Pablo Aslan sempre buscou integrar elementos do jazz e do tango. E aqui o músico de Buenos Aires conseguiu um de seus melhores resultados. Ao palco do lendário Knitting Factory, em maio de 1996, Aslan levou um trio que contava com o saxofonosta Thomas Chapin (1957-1998) e o pianista Ethan Iverson (antes dele formar o Bad Plus). Momentos realmente Avantango, especialmente quando  Chapin usa o sax alto. 

 


30- Red Cube(d) (1999)

Guillermo Gregorio

hatOLOGY  ouça/listen

O saxofonista e clarinetista Guillermo Gregorio foi um dos primeiros músicos da América Latina a adentrar a free improvisation, ainda no início dos anos 60. Gregorio, que trocou BsAs pelos  EUA na década de 1980, demorou para começar a conseguir editar seus discos, algo que aconteceu de forma mais constante apenas a partir dos anos 90. Em Red Cube(d), temos alguns de seus melhores momentos free jazzísticos, em trio com Mat Maneri (violino) e Pandelis Karayorgis (piano).

 


31- Jazz Contemporáneo Argentino (1999)

Quinteto Urbano

Independente  ouça/listen

O Quinteto Urbano foi um marco na cena jazzística argentina. Com seu inventivo pós-bop, o grupo reuniu alguns dos nomes que estariam entre os mais importantes do jazz local na década seguinte no país: o saxofonista Rodrigo Domínguez, o trompetista Juan Cruz de Urquiza, Diego Schissi (piano), Guilhermo Delgado (baixo) e Oscar Giunta (bateria). O grupo viraria inspiração para a próxima geração e editaria ainda mais dois discos antes de se desfazer.

 


32- Basavilbaso (1999)

César Lerner/ Marcelo Moguilevsky

Los Años Luz Discos  ouça/listen

O pianista César Lerner e o clarinetista Marcelo Moguilevsky montaram este duo para desenvolver um projeto que chamaram de "Klezmer en Buenos Aires". Como o nome indica, temos aqui um encontro entre música judaica, avant-jazz e tango (curiosamente, em sintonia e paralelo com o que Zorn e seus parceiros vinham fazendo à época em NY). O projeto rendeu alguns outros álbuns, com um resultado bastante interessante, recheado de momentos de grande inventividade.

 


33- Los Argentos (1999)

Richard Nant

PAI  ouça/listen

O trompetista Richard Nant é mais um argentino que foi tentar a sorte nos EUA, ainda na década de 90. Foi por lá que Nant, de Córdoba, concebeu a ideia de seu projeto Los Argentos, que resultou neste disco de estreia. Unindo elementos da música popular e jazz contemporâneo, Nant trouxe para seu álbum o pianista Guillermo Klein, o saxofonista Oscar Feldman e o também trompetista Diego Urcola, dentre outros.

 


34- Tocatangó (1999)

El Terceto

Epsa Music  ouça/listen

Importante trio criado nos anos 90 pelo baterista Norberto Minichillo (1940-2006), ao lado do pianista Hernán Ríos e do baixista Pablo Tozzi, El Terceto desenvolvia seu jazz e suas improvisações tendo um importante ponto de partida no repertório da música popular argentina e latino-americana (chegaram a revisitar, por exemplo, peças de Jobim e Gismonti). Neste seu terceiro álbum, o trio se focou no universo do tango para buscar inspiração e desenvolver sua particular sonoridade.

 


35- La Cornetita (2000)

La Cornetita

PAI  ouça/listen

Quarteto formado em 1997 em Buenos Aires, La Cornetita tem como proposta apresentar um free jazz trabalhando temas próprios em um forte contexto improvisativo. Na linha de frente do grupo estão o saxofonista Pablo Puntoriero e o baixista Pablo Vázquez. Neste álbum de estreia, a que se juntam também Fernando Alvareda (trombone) e Daniel Miguez (bateria), ouvimos interessantes temas do quarteto, que não nega a herança do free jazz clássico dos anos 60.

 


36- Spaghetti Boogie (2000)

Javier Malosetti

O-Day/S-Music  ouça/listen

O baixista Javier Malosetti conseguiu seu melhor neste criativo álbum onde une elementos de diferentes interesses musicais seus, centrado no jazz, mas trazendo também rock e blues. Acompanhado de um quarteto de piano, sax (a cargo do competente Ricardo Cavalli) e bateria, apresenta peças bastante variadas, que podem receber diferentes adições, como sitar, flauta e voz, a depender do efeito buscado. Participações dos guitarristas Luiz Alberto Spinetta (lenda do rock local) e Walter Malosetti (seu pai, conhecido nome do jazz).   

 


37- Las Tardecitas De Minton's (2000)

Adrian Iaies

Acqua Records  ouça/listen

Um dos pianistas mais destacados de seu país, Adrian Iaies se tornou uma voz central do jazz argentino no século XXI. Neste seu segundo álbum, Iaies mostra um pouco do seu melhor jazz permeado de elementos do tango. Centrado em um trio com o baixista Paco Weth e o baterista Oscar Giunta, recebe em algumas faixas o reforço do bandoneón de Gabriel Rivano. Entre standards (como na belíssima "You and Me and The Music") e peças próprias, um disco cheio de encanto.  

 


38- Consin (2001)

Hernán Merlo

Fresh Sound  ouça/listen

Hernán Merlo, um dos mais ativos baixistas da Argentina, já tinha quase 40 anos de idade quando começou a gravar seus discos. Nascido em Lomas de Zamora, na periferia de BsAs, em 1957, Merlo chegou já plenamente maduro a esta gravação. Registro feito com algumas das revelações da época  Rodrigo Domínguez, Ernesto Jodos e Sergio Verdinelli , o inventivo pós-bop de Merlo ganhou colorido extra com a adição de um segundo sax, de Carlos Lastra, fazendo deste seu melhor álbum.  

 


39- Sexteto en Movimiento (2003)

Escalandrum

Epsa Music  ouça/listen

Difícil saber o quanto o fato de o baterista Daniel "Pipi" Piazzolla ser neto do lendário Astor Piazzolla ajudou no sucesso do Escalandrum, o grupo de jazz do país mais conhecido de sua geração. O sexteto exibe inventivo e competente pós-bop, podendo trazer elementos da música popular e momentos mais audazes, em uma fórmula que funciona já muito bem a partir deste terceiro álbum. Destaque para Nicolás Guerschberg (piano e composição) e os saxofonistas Gustavo Musso e Martín Pantyrer.

 

40- A Través (2003)

Mariano Otero

BAU 

Não tardou para o baixista e compositor Mariano Otero se tornar destaque na cena quando apareceu. Nascido em BsAs em 76, Otero adentrou os anos 2000 cheio de ideias, que culminariam em sua big band um pouco depois deste álbum. A Través é um ambicioso registro, de pegada modern creative, que traz Luis Nacht (sax), Enrique Norris (corneta e didgeridoo), Francisco Lo Vuolo (piano e fender rhodes) e Juan Pablo Arredondo (guitarra), dentre outros.     

 


41- Siete Matices de Gris (2004)

Carlos Lastra

Uanchu 

A história de Carlos Lastra ilustra bem as dificuldades, especialmente antes do digital, para músicos fazerem sua carreira. Após estudar no Berklee College of Music, voltou à Argentina em 1986. Mas conseguiria gravar este seu primeiro álbum apenas quase duas décadas depois. Sendo professor de toda uma geração, Lastra mostra aqui suas elegantes e penetrantes composições, acompanhado de um quinteto com músicos de diferentes gerações, como o pianista Ernesto Jodos e o baixista Hernán Merlo. 

 

42- Tonal (2004)

Rodrigo Domínguez

BAU  ouça/listen

Após o fim do Quinteto Urbano, Rodrigo Domínguez buscou novos ares para sua arte. Organizou então esta interessante formação para seu disco de estreia como líder: tocando sax e clarinete, se uniu a um Hammond B3 (Ernesto Jodos) e uma bateria (Sergio Verdinelli). Focado em repertório próprio – exceção a uma bem livre versão de Dona Lee , Domínguez apresenta um álbum de sonoridade bem particular mesmo dentro da discografia que desenvolveria à frente.   

 


43- La Voz Que Te Lleva (2005)

Paula Shocron

BlueArt 

Este disco de estreia da pianista Paula Shocron já mostrava que ali havia uma artista especial. Quem acompanha a carreira dela sabe que a pianista de Rosario desenvolveu desde então uma discografia ampla, de múltipla criatividade, com projetos de diferentes perfis jazzísticos e improvisativos. Aqui Shocron (no que foi anunciado como o primeiro disco de jazz lançado por uma instrumentista na Argentina), em registro solista, mostra peças suas em meio à revisitação a temas de Monk.

 

44- MES (2005)

Enrique Norris

Buri

O veterano cornetista Enrique Norris é um dos mais respeitados nomes da cena argentina. Em atividade há algumas décadas, passou a gravar de forma mais constante apenas neste século. O trio MES foi um dos muitos projetos que comandou, ao lado de Mariano Otero (baixo) e Sergio Verdinelli (bateria). Tocando também piano em alguns temas, Norris mostra seu free jazz que não se furta a possibilidades melódicas, neste pulsante álbum captado ao vivo em outubro de 2004.

 


45- Una Nave (2005)

Guillermo Klein

Sunnyside  ouça/listen

Pianista e compositor, Guillermo Klein deixou a Argentina em meados dos anos 90, dividindo seu tempo entre NY e Barcelona, período em que criou seu projeto mais conhecido, "Los Gauchos". Em 2002, em Buenos Aires, reuniu músicos locais para desenvolver esta excitante obra, um de seus trabalhos mais inventivos. Sempre atento à música popular, criou essas peças com um extenso grupo, com nomes como Ricardo Cavalli (sax), Richard Nant e Juan Cruz de Urquiza (trompetes).

 


46- BsAs Inferno (2005)

Pepi Taveira

S-Jazz

Um dos mais requisitados e experientes bateristas da Argentina, Pepi Taveira morou nos Estados Unidos e na Espanha. Mas foi na sua Buenos Aires mesmo que desenvolveu sua obra. Nascido em 1960, Taveira só foi gravar seus discos nos anos 2000. No potente BsAs Inferno, o percussionista está acompanhado do grupo que tinha montado na época, com Paula Shocron (piano), Pablo Puntoriero (sax) e Jerónimo Carmona (baixo), mais convidados, como a vocalista Mariana Baraj.  

 

47- De Este Lado (2005)

Juan Cruz de Urquiza

S-Jazz  ouça/listen

Com o fim do Quinteto Urbano, o trompetista Juan Cruz de Urquiza foi buscar novos caminhos para sua música. Para este seu disco de estreia, resolveu mudar harmonicamente as vias que seguia até ali; convocou o guitarrista Miguel Tarzia, mais baixo e bateria, e criou algo realmente fresco. Os diálogos da guitarra com o trompete (marcado por efeitos em diferentes momentos) faz a singularidade deste disco.

 


48- Viejo Cactus (2006)

Carlos Álvarez

PAI

O baixista Carlos Álvarez fez poucas gravações como líder, mas conseguiu com Viejo Cactus um registro realmente expressivo. A montagem de seu quarteto foi fundamental para isso: aqui estão Ada Rave (sax tenor), Andrés Hayes (sax alto) e Germán Boco (bateria). E é exatamente nas camadas criadas pelos dois saxes, em diálogo com as linhas do baixo, que a singular beleza deste álbum se estrutura.   

 


49- Noise RPO (2006)

Datrebil

Independente  ouça/listen

Este é um dos muitos projetos comandados pelo guitarrista Wenchi Lazo (do pioneiro grupo de free impro "Capitanes de la Industria"), que reuniu um extenso conjunto, com saxes (Lobi Meis, Martín Pantyrer), corneta (Enrique Norris), dois baixos, guitarras, baterias (Lulo Isod, Juan Pablo Carletti) e algo mais. O trabalho trata-se de "improvisaciones sobre tejidos rítmico-temáticos para doble quinteto", com elementos de free jazz e rock em uma imaginativa obra em duas extensas partes.

 


50- Cruces (2006)

Fernando Tarrés

BAU

O guitarrista Fernando Tarrés ocupa um papel destacado na primeira década dos anos 2000 na cena argentina. E não só por ser um músico de relevo: ele criou o selo BAU, responsável pelo registro de muito do que de melhor foi feito à época no país. Cruces é seu projeto mais instigante, uma obra desenvolvida em várias partes que se complementam. Para a empreitada, montou um quinteto com sax, piano, baixo e bateria, criando peças de grande beleza e inventividade.

 


51- El Presente (2006)

Luis Nacht

BAU  ouça/listen

Luis Nacht estreou alguns anos antes, mas foi com o quarteto aqui presente, com o qual tocou por anos, ao lado de Juan Pablo Arredondo (guitarra), Jerónimo Carmona (baixo) e Carto Brandán (bateria), que alcançou seu melhor. O saxofonista apresenta sete temas próprios, com suas melodias bem armadas, em um sólido pós-bop no qual os diálogos entre tenor e guitarra alcançam momentos realmente elevados.

 


52- LoveManual (2007)

Barbara Togander

BAU  ouça/listen

A vocalista Barbara Togander tem feito de sua obra uma constante quebra de limites e abertura a novas possibilidades. Artista vocal avant-garde, Togander tem o jazz como uma referência, como testemunha LoveManual. O álbum conta com guitarra (Gustavo Fantino), bateria (Lulo Isod) e corneta e piano, a cargo de Enrique Norris. E são revisitados, entre temas próprios, uma peça de Mingus e um standard ("Lush Life"), mas tudo de forma muito particular.  

 


53- La Música Está Prohibida (2008)

Nicolás Chientaroli Trío

BlueArt  ouça/listen

O pianista Nicolás Chientaroli apareceu na cena de Buenos Aires com seu trio lá para 2006. Nesta sua estreia, o trio - que conta com Carlos Álvarez (baixo) e Hernán Rodríguez (bateria) - mostra um som de viés free jazzístico, entre temas próprios e uma releitura de "Law Years", de Ornette Coleman. O trio gravaria ainda mais um álbum, em 2011, antes de Chientaroli se mudar para a Holanda, em um período em que passou a adentrar mais fortemente a free improvisation.

 


54- Gnu Trio (2009)

Guillermo Bazzola/ Marcelo Peralta/ Andres Litwin

Gnu Town  ouça/listen

O Gnu Trio uniu três músicos argentinos que estavam vivendo na Espanha: o guitarrista Guillermo Bazzola, o saxofonista Marcelo Peralta e o baterista Andres Litwin. Amigos de muito tempo, Bazzolla e Peralta compartilharam muitas jams, mas foi só aqui que sedimentaram e lançaram um projeto juntos. O free jazz e improvisação livre (mais associados a Peralta que a Bazzolla, considerando suas discografias) são o norte aqui, em um saboroso encontro com picos de alta energia.

 


55- Fragmentos Del Mundo (2011)

Ernesto Jodos

BlueArt  ouça/listen

Já com mais de uma década de carreira e vários lançamentos à época, o pianista Ernesto Jodos editou este que é um do seus mais ousados trabalhos. Para a empreitada, montou um "double trio" com: Jerónimo Carmona e Mauricio Dawid (baixos); Luciano Ruggieri e Sérgio Verdinelli (baterias). A música, harmonicamente bastante inventiva, não é agressiva, mas tem elevada densidade própria, em 12 peças de Jodos.

 


56- La Continuidad (2011)

Ada Rave Cuarteto

PAI  ouça/listen

A saxofonista Ada Rave alcançou seu melhor em sua primeira fase, antes de se mudar para a Holanda, neste álbum. Comandando um quarteto que trazia o inventivo guitarrista Wenchi Lazo, o baixista Martín de Lassaletta e o baterista Martín López Grande apresenta nove faixas, entre temas seus, muita improvisação e uma releitura de “Out To Lunch”. Da explosiva “Tomatelo con Soda” à mais abstrata “El Tono y la Ética Braxtono”, um disco onde Rave mostra toda sua força criativa.

 

57- Cosmopolitan (2011)

Sorín Octeto

Independente  ouça/listen

Nicolás Sorín tem se destacado por projetos de diferentes perfis, passando por trilha para cinema a trabalhos mais roqueiros. Tecladista e vocalista, Sorín estudou composição no Berklee College of Music. De volta à Argentina, montou este octeto no qual desenvolve ideias de variado alcance, um grupo jazzístico com elementos de música popular e energia rock, com um resultado por vezes excitante. No octeto estão músicos como Lucio Balduini (guitarra), Martín Pantyrer (sax) e Pipi Piazzolla.     

 

58- What's New? (2011)

Mariano Loiácono

Rivorecords  ouça/listen

O trompetista Mariano Loiácono é provavelmente o mais destacado nome do neo-bop argentino. Tendo editado seu primeiro álbum em 2008, foi com este What's New? (e seu sucessor, "Hot House"), no qual revisita standards com muita energia, que o músico de Cruz Alta sedimentou seu nome. De "It's You or No One" a "Blue Monk", hot jazz marcado pelos duelos de trompete e sax (Gustavo Musso). Completam o time Francisco Lo Vuolo (piano), Jerónimo Carmona e Pepi Taveira.

 

59- Orquesta Errante (2014)

Orquesta Errante

Independente  ouça/listen

Comandada pelo guitarrista Valentin Reiners, a Orquesta Errante é uma das muitas big bands que floresceram na Argentina nos anos 2000. Reunindo cerca de 15 músicos, trabalha com temas próprios, desenvolvendo uma linguagem contemporânea para esta formação clássica do jazz. Importantes nomes da cena atual passaram por suas fileiras e estão neste álbum, como Sergio Wagner (trompete), Fermin Merlo (bateria), Ingrid Feniger e Emmanuel Fammin (saxes).    

 

60- Control (2014)

Juan Bayon

Kuai Music  ouça/listen

Importante nome da nova geração local, o baixista e compositor Juan Bayon ganhou grande destaque com este inovador álbum. Ele montou um sexteto com quatro saxes, baixo e bateria (Fran Cossavella) e criou peças que se ajustavam perfeitamente à formação. Os saxes representam o principal da família, com soprano (Rodrigo Domínguez), alto (Emmanuel Famin), tenor (Juan Torres) e barítono (Pablo Moser) trabalhando juntos e em linhas muito inventivas, que levam as peças Bayon a seu melhor. 

 


61- Galante-Conde-Toyozumi (2014)

Fabiana Galante/ Luis Conde/ Toyozumi

Jardinista!Recs  ouça/listen

A pianista Fabiana Galante e o saxofonista Luis Conde estão entre as vozes mais interessantes do avant-garde do país. Os instrumentistas, que já gravaram também com o saxofonista norueguês Frode Gjerstad, se uniram ao lendário baterista japonês Sabu Toyozumi em Buenos Aires. O encontro se deu em um estúdio na manhã do dia 24 de novembro de 2013. De lá saíram as seis faixas-improvisos que formam o álbum.  Intensa sessão free.

 


62- Maleza (2014)

Ingrid Feniger

Independente  ouça/listen

A saxofonista Ingrid Feniger tem, na última década, participado de vários projetos de destaque na cena argentina. Infelizmente ela ainda pouco gravou como líder; como mostra este seu álbum de estreia, tem muito a dizer. O avant-garde jazz exibido em Maleza mostra uma artista de ideias frescas, com peças envolventes e bem-arquitetadas. Para a gravação, realizada em agosto de 2013, convocou Francisco Salgado (trombone), Germán Lamonega (baixo) e o baterista Pablo Díaz.      

 


63- Orillas (2014)

Pablo Ledesma/ Pepe Angelillo/ Hurtado/ Misa

Cielo Arriba  ouça/listen

Orillas é um cuidadoso projeto desenvolvido por esse quarteto formado por alguns dos mais criativos músicos argentinos: Pablo Ledesma (saxes), Mono Hurtado (baixo), Pepe Angelillo (piano) e Martín Misa (bateria). O álbum, parte de um projeto com o fotógrafo Argamonte, traz temas nos quais os músicos se revezam em variadas formações: bateria e sax; piano e bateria; baixo e sax; piano, baixo e sax; e assim por diante, entre duos, trios e  quarteto, criando possibilidades acústicas múltiplas, com a improvisação livre em foco.

 


64- Inflexión (2015)

Elstein 5

Kuai Music  ouça/listen

O baterista Andrés Elstein reuniu um quinteto realmente interessante para este trabalho, com: Lucas Goicoechea e Emmanuel Famin (saxes alto); e Juan Bayon e Maximiliano Kirszner (baixos). São nove peças e entre as criações de Elstein há duas surpreendentes revisitações a Morton Feldman ("Nature Pieces for Piano 4" e "Rothko Chapel - 5"). A complexidade harmônica e o colorido especial proporcionado pela inusitada formação do quinteto são explorados com sagacidade por Elstein nesta promissora obra.

 


65- Rayuela (2016)

Miguel Crozzoli

Nendo Dango Records  ouça/listen

Dentre diferentes projetos, o saxofonista e compositor Miguel Crozzoli tem desenvolvido um trabalho chamado Série Gráfica. Rayuela é o segundo capítulo deste projeto. Só pelo título, homenagem ao clássico de Julio Cortázar (passagens do livro nomeiam as peças), já dá para ter uma ideia da complexidade da proposta de Crozzoli. Para a empreitada, montou um quarteto com Paula Shocron (piano), Mauricio Dawid (baixo) e Pablo Díaz (bateria). Sedutora e desafiadora obra para ser ouvida com atenção.       

 


66- Vol. V (2016)

Underground Mafia

Kuai Music   ouça/listen

O trombonista Francisco Salgado (1978-2018) foi uma importante voz na música feita na Argentina no século XXI. Seu projeto de maior destaque foi o Underground Mafia, que surgiu em 2009. Formado inicialmente como trio, virou quarteto nesta sua última versão, com a adição do sax de Hernán Sama  que elevou a temperatura do grupo, que buscava partir de temas compostos para adentrar a improvisação mais livre. Completa o grupo Ivan Viaggio (baixo) e Sebastián Groshaus (bateria). 

 


67- Haiti (2017)

Cecilia Quinteros/ Sergio Merce/ Marcelo von Schultz

Independente  ouça/listen

Haiti é um potente trio de free jazz de Buenos Aires formado por Cecilia Quinteros (violoncelo), Sergio Merce (sax tenor) e Marcelo von Schultz (bateria), três figuras que têm participado de importantes projetos na cena local (no caso de Merce, desde meados dos anos 90). Quinteros, que está em seu melhor aqui, é vital para a potência da sonoridade do trio. Em dois temas, há a participação do suíço Christoph Gallio (sax), que estava de passagem pela Argentina quando a gravação ocorreu.

 


68- Tensegridad (2017)

Paula Shocron/ Germán Lamonega/ Pablo Díaz

hatOLOGY  ouça/listen

Formado em meados de 2013 em Buenos Aires, o SLD Trio reúne Paula Shocron (piano), Germán Lamonega (baixo) e Pablo Díaz (bateria). Partindo desse formato clássico do jazz, o trio tem criado uma obra de elevada inventividade, com a improvisação livre como importante polo de desenvolvimento. Já descobertos no exterior, como mostra a edição deste álbum, tem tudo para sedimentarem sua história lá fora.


69- 9 (2017)

Marco Sanguinetti

Exiles Records  ouça/listen

O pianista Marco Sanguinetti estreou em 2005 com um disco de piano solo. Mas foi com o desenvolvimento de seus trabalhos posteriores que fez sua fama. Fazendo um jazz contemporâneo aberto a novas sonoridades (o DJ Migma é um parceiro sempre presente, como aqui), cria peças de inventiva beleza melódica. Um dos trunfos deste álbum é a presença da violoncelista Violeta Garcia, que ajuda a criar o clima perfeito para as ideias de Sanguinetti.  

 


70- Una búsqueda infinita  (2017)

Jorge Torrecillas Ensamble

Discordian Records   ouça/listen

O saxofonista Jorge Torrecillas reuniu um afinado quinteto para este trabalho. Torrecillas (alto e tenor) apresenta seis peças suas acompanhado por Inti Sabev (clarinetes), Agustin Zuanigh (trompete), Pablo Vazquez (baixo) e Santiago Lacabe (bateria). Esse conjunto exibe muita coesão discursiva, em afinada e potente interação, em meio a improvisos marcantes. A proposta aqui desenvolvida amplifica e aprofunda o que Torrecillas vinha apresentando. 

 


71- ASH Trio (2018)

Juan Pablo Arredondo/ Natalio Sued/ Hernán Hecht

Independente  ouça/listen

Este trio marca a reunião de três artistas argentinos que têm feito sua música em distintos locais: o guitarrista Juan Pablo Arredondo, em Buenos Aires; o saxofonista Natalio Sued, na Holanda; e o baterista Hernán Hecht, no México, onde este encontro foi registrado. Muito experientes a esta altura, os três instrumentistas apresentam uma música jazzística contemporânea, construída com temas próprios, marcada por peças com muita liberdade improvisativa e interação precisa. 

 


72- Deseos Múltiples (2018)

Rocío Giménez López

BlueArt  ouça/listen

A pianista Rocío Giménez López representa a nova geração de artistas da viva cena de Rosario. Para este registro de estreia, Gimenez Lopez - que estudou com Craig Taborn e Marilyn Crispell - convocou Emilio Madeo (baixo) e Francisco Martu (bateria). A eles se juntam em alguns temas o trombonista Milton Mendez. Partindo de temas próprios, o grupo explora a improvisação com liberdade, expandindo as possibilidades rítmicas e harmônicas oferecidas por essa formação.

 


73- Soledades Permanentes (2018)

Ensamble Kuai

Kuai Music  ouça/listen

Aqui temos uma belíssima homenagem ao clássico “Bronca Buenos Aires”. Esta versão é como um “espejo extraño de su contraparte original”; não se trata de uma versão direta, mas uma espécie de metaobra, que desconstrói e recria a homenageada. Como em “Bronca Buenos Aires”, trata-se de uma narrativa orquestrada, com solos marcantes pontuais. O grupo de 12 artistas tem à frente um exército de saxes. Composições e arranjos a cargo de Jazmín Prodan, Damien Poots e Juan Bayon.

 


74- Motor (2020)

Sofia Salvo/ Gustavo Obligado/ Marcelo von Schultz

Nendo Dango Records  ouça/listen

Este novo trio, formado por Sofía Salvo (sax barítono), Gustavo Obligado (sax alto) e Marcelo von Schultz (bateria), traz potentes e muito bem armadas peças. O encontro entre os três artistas funcionou de forma certeira, gestando uma música de rica harmonia, intensa sem ser propriamente energy music. Vinda de Buenos Aires e morando atualmente em Berlim, Salvo é uma das promessas do atual jazz livre argentino.

 


75- Aura (2020)

Camila Nebbia

Ears&Eyes Records  ouça/listen

Potente voz da cena argentina contemporânea, a saxofonista Camila Nebbia reuniu aqui um jovem e forte time com Violeta García (violoncelo), Valentin Garvie (trompete), Daniel Bruno (trombone), Juan Bayon (baixo), Ingrid Feniger (sax), Mariano Sarra (piano), Damián Bolotín (violino), Axel Filip e Omar Menendez (baterias). As composições exibem complexas harmonias, interações improvisativas e texturas marcadas por tensões, que constroem um conjunto sonoro excitante.

 

 


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*quem assina:

Fabricio Vieira é jornalista e fez mestrado em Literatura e Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; foi ainda correspondente do jornal em Buenos Aires. Colaborou também com publicações como Entre Livros, Zumbido e Jazz.pt, de Lisboa. Nos últimos anos, tem escrito sobre música e literatura para o Valor Econômico. É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and Run”, de Roscoe Mitchell (Selo Sesc), “The Hour of the Star”, de Ivo Perelman (Leo Records), e “Live in Nuremberg”, de Perelman e Matthew Shipp (SMP Records)