LANÇAMENTOs Em destaque, discos para baixo solo, novidades de músicos de diferentes países. Ouça, divulgue, compre os discos...
Por Fabricio Vieira
Twelve Bass
Tunes
Hernâni
Faustino
Phonogram Unit
Irvin's Comet
Barry Guy
NoBusiness Records
Tendo experimentado o formato solista em diferentes oportunidades nas últimas décadas, o veterano baixista britânico Barry Guy, de 74 anos, mostra que ainda tem muito a dizer quando sozinho. Irvin's Comet traz uma apresentação solista de Guy realizada em outubro de 2019, em Vilnius, Lituânia. Em seis peças, algumas relativamente curtas, com apenas 2 minutos, Guy mostra toda a versatilidade de sua estética, com técnicas estendidas, em arco e pizzicato. Às vezes agressivo e desconcertante, às vezes apenas como que quase sussurrando, o músico cria um registro de grande e profunda variedade expressiva. Lançado em LP, edição limitada de 300 cópias.
Just Another Day At Home
John Edwards
Independente
Britânico como Barry Guy, mas de geração posterior, John Edwards é uma das vozes mais sólidas da música contemporânea. Não sendo especialmente lembrado pelo formato, apesar de já ter feito gravações solistas, Edwards, recolhido no ano passado como consequência do lockdown provocado pela pandemia, decidiu fazer este registro. Editado por ele mesmo em formato digital (faz questão de frisar na apresentação do álbum: "recorded at home. Self-Isolating"), Just Another Day At Home traz apenas duas longas improvisações, "Jadah" 1 e 2, de mais de 20 minutos cada, na qual podemos apreciar inventivos momentos desse sólido instrumentista.Live Ateliers Claus
William Parker
Les Albums Claus
Mestre maior do instrumento, William Parker tem gravado discos solistas desde a década de 90, quando apresentou o impactante "Testimony". E se esse não é seu veículo principal, nunca o deixou de lado. Aqui temos uma gravação feita em junho de 2014, no Les Ateliers Claus, em Bruxelas, na Bélgica, lançada apenas neste ano. Parker apresenta duas longas peças (de 37 minutos e de 28 minutos), que se desenvolvem de forma progressiva, exigindo atenção e disposição do ouvinte para o acompanhar nesta muitas vezes instigante viagem, quer seja pelas águas mais calmas do primeiro tema, com seu denso dedilhado nos levando, quer seja no segundo tema, marcado pelo sempre preciso uso do arco.
Whatever is not Stone is Light
Damon Smith
Balance Point Acoustics
O norte-americano Damon Smith iniciou sua carreira apenas no fim da década de 90, mas tem construído uma extensa discografia, gravando com nomes como Joe Morris, Paul Flaherty, John Butcher e Fred Van Hoove. Parte razoável dessa discografia tem saído pelo selo Balance Point Acoustics, que fundou em 2001. Este é o caso desta sua última gravação solista. Aqui sozinho, em registro realizado quando eclodia a pandemia, em abril de 2020, Smith apresenta 23 temas, sendo bastante concentrados, com alguns deles durando 1 ou 2 minutos apenas. Smith é um músico que gosta muito de explorar o instrumento em duos de contrabaixos, formato com o qual já gravou/tocou ao lado de nada menos que Peter Kowald e Joëlle Léandre (tendo publicado no começo deste ano o álbum Bass Duos). Sai em CD, edição limitada de 300 cópias.
Monólogos A Dois
Gonçalo Almeida
A New Wave Of
Jazz
MoNoCRoMo
Germán Lamonega
Nendo Dango Records
Germán Lamonega é um dos que tem feito da Argentina uma referência na cena free contemporânea. Sendo uma das vozes do fantástico SLD Trio, Lamonega tem participado de diferentes projetos na última década e agora chega a este seu primeiro álbum solista. Gravado antes da pandemia, no segundo semestre de 2018, no Estudio Libres, em Buenos Aires, MoNoCRoMo traz nove temas seus. Lamonega explora múltiplas possibilidades de seu instrumento, com momentos contemplativos se alternando com outros mais densos, utilizando arco e pizzicato em busca de possibilidades expressivas múltiplas.Yet Very
Noah Punkt
Otherunwise
Talvez muita gente lembre mais do suíço Noah Punkt tocando com o saxofonista Chris Pitsiokos. Mas este músico tem desenvolvido diferentes projetos, tocando tanto baixo elétrico quanto acústico, na última década. Em certo aspecto, este seu novo disco solista é um de seus trabalhos mais desafiadores. Em Yet Very, Punkt apresenta 12 peças, sendo que cada uma delas tem cerca de 30 minutos – ou seja, são seis horas de música solista! As longas faixas partem de uma ideia de repetição/variação, com os temas se desenvolvendo sempre de forma densa, cortante, com o arco usado como multiplicador de sons e tensões. Interessante, original, mas um desafio quase instransponível para ser encarado de uma vez só.---------
*quem assina:
Fabricio Vieira é jornalista e fez mestrado em Literatura e Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; foi ainda correspondente do jornal em Buenos Aires. Colaborou também com publicações como Entre Livros, Zumbido e Jazz.pt. Nos últimos anos, tem escrito sobre música e literatura para o Valor Econômico. É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and Run”, de Roscoe Mitchell (Selo Sesc), “The Hour of the Star”, de Ivo Perelman (Leo Records), e “Live in Nuremberg”, de Perelman e Matthew Shipp (SMP Records)