R.I.P. Sonny
Simmons, um dos mais expressivos nomes do sax alto no avant-jazz, morreu nesta semana...
Por Fabricio
Vieira
Mais um grande
nome do free jazz nos deixa: o saxofonista Sonny Simmons (1933-2021). Com uma
trajetória marcada por altos e baixos, Simmons
tinha o sax alto como principal veículo de expressão, sendo também um
raro jazzista dedicado ao cornê inglês (que na verdade foi o primeiro
instrumento que aprendeu a tocar, na adolescência). Nascido na cidade de Sicily
Island, na Louisiana, Simmons começou a tocar cedo, primeiro em bandas de
blues, depois no efervescente cenário bop dos anos 50. Mas seria apenas na
década de 1960 que sua carreira
profissional deslancharia. Seu primeiro importante registro foi feito em
novembro de 1962, "The Cry"
– quando já tinha quase 30 anos
–, ao
lado do quinteto de Prince Lasha, que contava com Gary Peacock no baixo.
Naqueles anos, também gravaria com Eric Dolphy e Elvin Jones. No decorrer da
década, teria a primeira grande fase de sua carreira, deixando registros como "Staying
On The Watch" (ESP-Disk, 1966). É também nesta época que conhece sua companheira, a trompetista
Barbara Donald (1942-2013), ao lado de quem manteve um grupo e deixou gravações
(como "Manhattan Egos", 69). Um importante passo seria dado por ele
no fim dos anos 60, quando assina com o Contemporary Records, para o qual gravou o
clássico "Burning Spirits" (71). Mas eis que um tempo depois disso
morreu o chefão do selo, Lester Koening, e Simmons se viu na geladeira. Com
dificuldades para arrumar gigs ou contratos e com dois filhos para criar,
acabou sendo obrigado a se afastar da cena e foi procurar outros tipos de
trabalho. Esse ostracismo se arrastaria por mais de uma década, com raras aparições
nos anos 80. A retomada da carreira, de fato, aconteceria apenas na década de
1990, sendo um marco nessa volta o disco "Ancient Ritual" (92). Desde
então, Simmons tocou diferentes projetos e gravou vários discos inspirados, a
destacar "Judgment Day" (CIMP, 96) e "Cosmosamatics"
(Boxholder, 2001). Huey Sonny Simmons morreu no último dia 6. Ele tinha 87 anos.
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*quem
assina:
Fabricio
Vieira é jornalista e fez mestrado em Literatura e Crítica Literária.
Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; foi ainda
correspondente do jornal em Buenos Aires. Colaborou também com publicações como
Entre Livros, Zumbido e Jazz.pt. Atualmente escreve sobre música e literatura
para o Valor Econômico. É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and
Run”, de Roscoe Mitchell (Selo Sesc), “The Hour of the Star”, de Ivo
Perelman (Leo Records), e “Live in Nuremberg”, de Perelman e Matthew Shipp
(SMP Records)