LANÇAMENTOS Novos álbuns do selo britânico Leo Records, última safra
com opções variadas...
Ouça, divulgue, compre os discos...
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Por Fabricio Vieira
Espresso Galattico ****
Gasser 3
Leo Records
Partindo do clássico formato sax-baixo-bateria, o Gasser 3 foi formado
há cerca de uma década, mas só agora estreia em disco. E a gravação não é tão
nova, tendo sido realizada em agosto de 2015. Veteranos da cena suíça, Jürg
Gasser (sax tenor), Peter K Frey (baixo) e Dieter Ulrich (bateria) talvez não
sejam tão conhecidos por terem ficado mais focados em seu país. Mas experiência
e inventividade não faltam a eles, como mostram os nove temas presentes em
Espresso Galattico, onde um enérgico campo free jazzístico é explorado com
domínio e precisão. Em "Temptations", Gasser apresenta seu solo mais
impactante e expressivo; já em "Ewi währt am längsten" é a vez de
Frey mostrar a que veio (muito técnico, Frey mantém um duo de baixos ao lado do
também suíço Daniel Studer que merece ser conhecido). Um interessante
testemunho da cena suíça contemporânea.
The Last Taxi ***(*)
New Destinations
Leo Records
Comandado pelo pianista Pat Battstone, o The Last Taxi, criado há uma
década, reúne neste seu novo registro um sexteto para desenvolver uma música de
estranhos climas, especialmente quando a voz de Chiara Liuzzi entra em cena. O
grupo conta ainda com Giorgia Santoro (flautas), Adolfo La Volpe (guitarra,
eletrônicos), Chris Rathbun (baixo) e Giacomo Mongeli (bateria). As
vocalizações de Liuzzi remetem por vezes mais ao universo do erudito
contemporâneo, como bem demonstram temas como
"Inside the Dark Castle" e "Absinte", levando a improvisação a
novos campos. O piano de Battstone tem importante protagonismo em "All the
Birds have Flown", uma das peças mais fortes do conjunto, também marcada
por solo de flauta. O álbum foi registrado em junho de 2018, no MAST Studios,
Itália.
The Collective Mind ****
Ensemble 5
Leo Records
Podemos chamar este Ensemble 5 de um tradicional grupo de improvisação
livre europeia. O quarteto (apesar do 5 do nome, são quatro os instrumentistas
em ação) é comandado pelo percussionista suíço Heinz Geisser, veterano que atua
na cena desde a década de 1980, sendo o Ensemble 5 seu principal projeto atual,
com o qual já editou outros quatro títulos. De formação variável com a adição
de convidados, o Ensemble 5 aqui traz em ação apenas seu núcleo, com Fridolin
Blumer (baixo), Reto Staub (piano) e Robert Morgenthaler (trombone). Captado
em março de 2018, The Collective Mind apresenta oito temas. Como indica o
título, a improvisação coletiva é o cerne do trabalho, sem que grandes espaços
solistas atravessem este percurso. Destaque para a vibrante "Seeing with
the inner eye" e a surpreendentemente lírica "Lotus Garden".
Readings: Gileya Revisited ****(*)
Simon Nabatov
Leo Records
O pianista Simon Nabatov partiu da União Soviética em 1979, quando
tinha seus vinte anos, mas, por vezes, retorna ao caldo cultural de sua terra
natal, como no álbum "The Master and Margarida" em que, duas décadas
atrás, celebrou o clássico romance do escritor Mikhail Bulgacov. Agora o pianista se
encontra com outros momentos da literatura russa, em discos sob o título geral
de "Readings". Neste Gileya Revisited, voltamos mais de um século atrás
para encontrar o movimento futurista russo. No início da década de 1910, um
grupo de artistas fundou o círculo futurista Gileya, que contou em suas
fileiras com nomes como Velimir Khlebnikov e Vladimir Mayakovsky. Há alusões ao futurismo (como no som de código morse abrindo o disco), à literatura e ao clima boêmio de então (como na deliciosa "Kho-Bo-ro"), em uma viagem sonora estimulante. Para essa
empreitada, onde poemas do grupo circulam em meio a composições e
improvisações, Nabatov convocou fortes parceiros: Gerry Hemingway (percussão),
Frank Gratkowski (sopros), Jaap Blonk (voz) e Marcus Schmickler (eletrônicos).
Readings: Red Cavalry ****(*)
Simon Nabatov
Leo Records
A empreitada "Readings" do pianista Simon Nabatov segue aqui
com a revisitação a um dos grandes clássicos da literatura russa moderna: Red
Cavalry, de Isaac Babel. O grupo é basicamente o mesmo que gravou "Gileya
Revisited" – Gerry Hemingway (percussão), Frank Gratkowski (sopros) e
Marcus Schmickler (eletrônicos) –, mas com uma sensível mudança: a voz é
assumida pelo genial Phil Minton. Toda a inventividade e amplitude das ideias
vocais de Minton estão aqui, oscilando de acordo com o demandado pelas
particularidades dos textos que compõem cada uma das nove peças que formam o
disco. Assim, temos Minton cantando, grunhindo, gritando passagens da obra de
Babel, escrita por ele em meio à guerra, com sua atuação marcante e dramática. Não que seja imprescindível, mas é
interessante que o ouvinte conheça Babel e sua literatura e, dessa forma, possa mergulhar
de forma mais intensa nesse universo revisitado. Os dois álbuns da série "Readings"
foram captados em sessões realizadas em 7 e 8 dezembro de 2018.
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*quem assina:
Fabricio Vieira é jornalista e fez mestrado em Literatura e
Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos;
foi ainda correspondente do jornal em Buenos Aires. Colaborou também com
publicações como Entre Livros, Zumbido e Jazz.pt. Atualmente escreve sobre
livros e jazz para o Valor Econômico. É autor de liner notes para os álbuns
“Sustain and Run”, de Roscoe Mitchell (Selo Sesc), e “The Hour of the Star”, de
Ivo Perelman (Leo Records)