Chegou a hora do maior festival de jazz do país


SHOWS  A edição deste ano do Sesc Jazz (antigo Jazz na Fábrica) vai acontecer no Sesc Pompeia e em outros sete palcos no interior paulista. Serão três finais de semana, entre 14 de agosto e 2 de setembro, mantendo o perfil de apresentar um amplo leque do jazz e arredores, com 22 atrações de 11 países. Os ingressos começam a ser vendidos dias 26/7 (site) e 27/7 (bilheteria). 






Por Fabricio Vieira

O mais importante festival de jazz do país resolveu ampliar seus palcos e mudar de nome – o antigo  Jazz na Fábrica, que estaria em sua oitava edição, passa a se chamar Sesc Jazz... Essa alteração de nome está ligada ao fato de o Sesc ter decidido ampliar o alcance do evento (englobando o antigo festival Sesc Jazz & Blues), levando apresentações também para os palcos das unidades de Araraquara, Birigui, Campinas, Jundiaí, Piracicaba, Ribeirão Preto e Sorocaba, além dos já tradicionais Teatro e Comedoria do Sesc Pompeia. As unidades do Sesc Consolação e Vila Mariana terão workshops e palestras, com nomes como Charles Tolliver, James ‘Blood’ Ulmer, Vernon Reid, Fred Frith e Melissa Aldana.

O line-up deste ano terá grandes atrações para a alegria de quem aprecia as vias mais ariscas da seara jazzística. Infelizmente Pharoah Sanders, que tocaria junto com Archie Shepp, cancelou de última hora... Mas o evento terá fundamentais e incríveis músicos, alguns inéditos, que não podem deixar de ser vistos: Archie Shepp com Kahil El’Zabar; James ‘Blood’ Ulmer com Vernon Reid; Susana Santos Silva se une a Fred Frith; o genial pianista Vijay Iyer; o trompetista Charles Tolliver; e o tão aguardado Henry Threadgill, com o quinteto Zooid. Sim, esta é uma das melhores edições do festival!
Fora essas atrações de alguma forma ligadas ao universo free, há outros nomes mais jazzísticos que prometem bons concertos, em especial a série de pianistas selecionados: Jason Lindner (que participou de Blackstar, de David Bowie); o veterano Dom Salvador, que toca com seu sexteto; a canadense Renee Rosnes; o cubano Omar Sosa; o italiano Stefano Bollani; e Isfar Sarabski, nascido no Azerbaijão. Prometem também shows animados os congoleses do Jupiter & Okwess, os mineiros da big band Iconili e o septeto de Itiberê Zwarg, que lança o disco Intuitivo, pelo Selo Sesc.
 A programação completa e detalhada pode ser vista em Sesc Jazz ...





*Destaques*


HENRY THREADGILL

Dentre vários empolgantes músicos que estarão no país em breve, Henry Threadgill é a mais radiante notícia. Finalmente poderemos ver um dos maiores nomes do free jazz em nossos palcos. Capitaneando grandes projetos desde os anos 70 – Air, Sextett, Very Very Circus -, virá com o Zooid, quinteto que marca seu trabalho nos anos 2000. Threadgill, além de saxofonista (com destaque para o alto) e flautista, é um refinado compositor: ganhou o Prêmio Pulitzer de Música em 2016, se juntando a Wynton Marsalis e Ornette Coleman como os únicos jazzistas a receberem a distinção. A seu lado no Zooid estarão Jose Davila (trombone, tuba), Liberty Ellman (guitarra), Christopher Hoffman (violoncelo) e Elliot Kavee (bateria).

Quando: 16/8 (qui), às 21h; e 17/8 (sex), às 21h; 18/8 (sab), às 20h
Onde: Sesc Pompeia (Teatro, 16 e 17); Sesc Ribeirão Preto (18)
Quanto: R$ 12 a R$ 40





FRED FRITH e SUSANA SANTOS SILVA

A tão esperada apresentação de um músico da rica cena portuguesa no Jazz na Fábrica finalmente chegou (e no melhor estilo): a incrível trompetista Susana Santos Silva vem pela primeira vez ao país. E se apresentará com o grande guitarrista britânico Fred Frith, no que promete ser um dos shows mais intensos do festival. Em trio, se junta a eles ainda a alemã Heike Liss, artista gráfica e fotógrafa, casada com Frith, que trabalha com vídeo e eletrônicos e deve trazer atmosferas outras para o som da dupla.

Quando: 30/8 (qui), às 21h; e 31 (sex), às 21h
Onde: Sesc Pompeia (Teatro)
Quanto: R$ 12 a R$ 40




ARCHIE SHEPP e KAHIL EL’ZABAR’S RITUAL Trio

Archie Shepp, de 81 anos, pode ser chamado de lendário sem exageros. O saxofonista, que esteve no país pela última vez em 2011, exatamente na primeira edição do Jazz na Fábrica, retorna para mostrar sua sempre viva música. A princípio, ele tocaria com Pharoah Sanders, mas a impossibilidade dele vir o colocará no palco com outro parceiro: o grande percussionista Kahil El’Zabar, muito lembrado pelo fundamental grupo Ethnic Heritage Ensemble. Junto a eles estará o Ritual Trio (será que Ari Brown vem?). Esta parceria é antiga e rendeu, em 99, o álbum “Conversations”. Imperdível.
 
Quando: 29/8 (qua), às 20h; 1/9 (sab), às 21h; e 2/9 (dom), às 18h
Onde: Sesc Pompeia (Teatro, 1 e 2/9); Sesc Sorocaba (dia 29)
Quanto: R$ 18 a R$ 60






VIJAY IYER Sextet

Aos 46 anos e duas décadas de carreira, o pianista norte-americano Vijay Iyer retorna ao país (esteve aqui em 2008) em seu auge. Comandando um trio e um sexteto de grande repercussão, mantém em paralelo diferentes parcerias, como a que rendeu o elogiado disco em duo com Wadada Leo Smith (“A Cosmic Rhythm...”) em 2016. Iyer, “jazzista do ano” na última votação da DownBeat, é um músico versátil que explora diferentes searas contemporâneas do jazz, sendo fantástico compositor e improvisador.  Chega ao país com seu incrível sexteto, formado por Steve Lehman (sax alto), Stephan Crumb (baixo), Mark Shim (tenor), Graham Haynes (corneta) e Tyshawn Sorey (bateria).

Quando: 31/8 (sex), às 20h; 1/9 (sab), às 21h30; e 2/9, às 18h30 (dom)
Onde: Sesc Pompeia (Comedoria, dias 1 e 2/9); Sesc Araraquara (31/8)
Quanto: R$ 18 a R$ 60





JAMES ‘BLOOD’ ULMER

O guitarrista James ‘Blood’ Ulmer, que gravou no ano passado um grande disco com o trio escandinavo The Thing, traz ao país sua Memphis Blood Blues Band. Apesar de ligado ao mundo do free, com importantes parcerias com nomes como Ornette Coleman, Rashied Ali e David Murray, Ulmer vem ao festival mostrar mesmo seu lado blues (free blues?), ao qual tem dado bastante atenção nos últimos tempos. Seu sexteto, que conta com teclado, harmônica, baixo e bateria, será reforçado com a presença do também guitarrista Vernon Reid.  

Quando: 14/8 (ter) e 15 (qua), às 21h; 17 (sex), às 20h
Onde: Sesc Pompeia (Comedoria, 14 e 15); Sesc Jundiaí (17)
Quanto: R$ 18 a R$ 60





CHARLES TOLLIVER

O trompetista Charles Tolliver está na estrada desde o fim dos anos 1960. Dono de uma refinada estética, este músico da Flórida gravou nessas décadas com gente como Jackie McLean, Andrew Hill e Gary Bartz. Tendo comandado de trios a big bands em sua carreira, deixou pelo caminho discos obrigatórios, como “The Ringer” (69) e “Live at Slugs” (70). Ao Brasil, Tolliver vem com seu quarteto “Music Inc”, composto por Keith Brown (piano), Devin Starks (baixo) e Darrell Green (bateria).

Quando: 16/8 (qui), às 20h; 17/8 (sex), às 21h30
Onde: Sesc Pompeia (Comedoria, 17); Sesc Jundiaí (16)
Quanto: R$ 15 a R$ 50







MELISSA ALDANA

A saxofonista chilena Melissa Aldana, de 29 anos, surgiu para o mundo cinco anos atrás, ao vencer a edição de 2013 da Thelonious Monk Internacional Competition, sendo a primeira mulher instrumentista a alcançar tal feito. Mais ligada à seara pós-bop, Aldana toca sax tenor e tem comandado um grupo, o “Crash Trio”, nos últimos anos. Com quatro álbuns editados, desde a estreia em 2010 com “Free Fall”, desembarca acompanhada de baixo (Pablo Menares) e bateria (Jochen Rueckert).

Quando: 31/8 (sex), às 21h30
Onde: Sesc Pompeia (Comedoria)
Quanto: R$ 15 a R$ 50






TIMES IS A BLIND GUIDE

Comandado pelo baterista norueguês Thomas Stronen, o Times is a Blind Guide é um quinteto formado por Ayumi Tanaka (piano), Ole Morten Vagan (baixo), Hakon Aase (violino) e Lucy Railton (violoncelo). Diferente de outros projetos de Stronen, mais devedores da improvisação ou mesmo abertos a elementos eletrônicos, neste quinteto ele olha mais para seu lado composicional, com temas bastante líricos e mesmo etéreos. Com essa proposta, parece até inevitável que o mais recente trabalho do grupo, “Lucus”, saísse (como foi) pelo selo ECM.     


Quando: 24/8 (sex), às 21h
Onde: Sesc Pompeia (Teatro)
Quanto: R$ 12 a R$ 40






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*quem assina:
Fabricio Vieira é jornalista e fez mestrado em Literatura e Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; foi também correspondente do jornal em Buenos Aires. Atualmente escreve sobre livros e jazz para o Valor Econômico. É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and Run”, de Roscoe Mitchell (Selo Sesc), e “The Hour of the Star”, de Ivo Perelman (Leo Records)