SHOWS A edição deste ano do Jazz na Fábrica, festival que ocorre
no Sesc Pompeia (São Paulo) de 10 a 27 de agosto, mantém seu perfil de
apresentar um amplo leque do jazz e arredores, com mais de 15 atrações
programadas em três finais de semana de muita música. Os ingressos começam a
ser vendidos dias 3/8 (site) e 4/8 (bilheteria).
O público do free jazz/free impro talvez sinta, como no ano
passado, falta de mais nomes dessa seara (realidade vivenciada em edições
anteriores, especialmente nas de 2014 e 2015). Mas o Jazz na Fábrica
mantém a já tradição de trazer sempre algum nome fundamental do free: se em
2016 tivemos Matthew Shipp, em 2017 teremos a lendária Globe Unity Orchestra.
Haverá ao menos outros dois artistas de trajetórias inovadoras obrigatórios, a
ver: Abdullah Ibrahim e Annette Peacock. Inovação também é a palavra que se
ajusta ao principal nome brasileiro no evento, mestre Hermeto Pascoal. Já quem
promete esgotar os ingressos com maior rapidez é o incensado baixista e
produtor Thundercat (17 e 18/8), no auge da fama e com muitos fãs fora do
universo jazzístico. Haverá também um desfile de trompetistas, com
apresentações dos grupos de Eddie Allen, Itamar Boroshov (11/8) e o mais conhecido
nome do festival, Roy Hargrove (24 e 25/8), que teve seus shows programados
para a edição de 2015 cancelados por motivos de saúde.
Esta edição do Jazz na Fábrica contará com artistas de oito
países, mantendo sua proposta original de exibir criações jazzísticas de
diferentes cantos do mundo. O que chama atenção é mais uma vez a ausência de
músicos de Portugal, indiscutivelmente uma das cenas mais inquietas e vibrantes
da atualidade. A Argentina, outro pólo jazzístico contemporâneo de grande
vitalidade, também continua subrepresentada. E isso não ocorre porque o
“rodízio” de atrações mundiais ainda não alcançou esses extremos: basta ver o
desfile de músicos de Israel que já passaram pelo festival: apenas neste ano,
haverá dois representantes de lá: o trompetista Itamar Boroshov e a flautista
Hadar Noiberg (que toca com seu trio dia 24/8). Pelas outras edições, passaram Shai Maestro, Omer Avital, Ester
Rada, Avishai Cohen... Ou seja, depois dos Estados Unidos, a cena jazzística de
Israel é a mais contemplada no Jazz na Fábrica. Mas nem de longe ela é mais
efervescente que as cenas de Portugal, Argentina, Suécia, Inglaterra,
Noruega... enfim. Outra crítica que se pode fazer é a falta de mulheres
instrumentistas. Quase não se vê no festival, em todas suas edições, mulheres
que não sejam pianistas ou cantoras. E nem precisamos abrir muito o leque
instrumental: daria para fazer o festival apenas com (grandes!) mulheres saxofonistas.
Críticas feitas, é importante frisar que o Jazz na Fábrica é o maior e mais
interessante festival dedicado ao gênero no país hoje. Que venham outras muitas
edições.
*Destaques*
“GLOBE UNITY ORCHESTRA”
A big band Globe Unity Orchestra (GUO) foi formada em 1966
pelo pianista alemão Alexander von Schlippenbach, fazendo sua estreia no Berlin
Jazz Festival daquele ano. Seu primeiro álbum, “Globe Unity”, foi editado em 67
sob o nome de Schlippenbach; depois viriam mais de uma dúzia de títulos. Marco dos
primórdios do free impro europeu, a GUO se manteve ativa durante cerca de duas
décadas. Depois dos anos 90, passou a se reunir de forma mais esporádica, em
festivais e datas especiais. Por suas fileiras, já passou a nata do free
europeu (Evan Parker, Peter Brotzmann, Peter Kowald, Derek Bailey, Willem
Breuker, Michel Pilz...). A GUO se reuniu para uma turnê em 2016, na
comemoração de seus 50 anos, juntando grandes nomes como Paul Lovens, Manfred
Schoof, Gerd Dudek, Tomasz Stanko, Paul Lytton e o próprio Schlippenbach. Em
abril deste ano, tocaram no festival alemão “Saarbrucken”, com uma formação que
contava de novo com Evan Parker, Ernst-Ludwig Petrowsky e Axel Dorner. Quem
sabe não vemos um mix destas últimas formações por aqui?
Quando: 17/8 (qui) e 18 (sex), às 21h
Onde: Sesc Pompeia (Teatro)
Quanto: R$ 15 a R$ 50
Onde: Sesc Pompeia (Teatro)
Quanto: R$ 15 a R$ 50
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“ABDULLAH IBRAHIM”
O pianista sul-africano Abdullah Ibrahim, de 83 anos (que
antes de se converter ao islamismo assinava como Dollar Brand), conta com uma carreira de explorações
múltiplas no universo jazzístico. Foi descoberto por Duke Ellington no início
dos anos 60, que o ajudou a gravar para o selo Reprise, abrindo novas
oportunidades a ele. Ainda naquela década, mudou para a Europa, onde se
envolveu mais com o free, gravando com Gato Barbieri, Don Cherry, Hamiet
Bluiett e Carlos Ward. Depois, ampliou o
mergulho em sonoridades africanas. Tudo isso desemboca em uma discografia com fortes
álbuns como “The Journey” e “Ekaya”. Em 2014, Ibrahim editou o belíssimo “The
Song is my Story”. Em
concerto com um septeto, representará um espaço ocupado com brilho pelos pianistas Matthew
Shipp e Muhal Richard Abrams em edições anteriores do evento.
Quando: 19/8 (sab), às 21h; e 20 (dom), às 18h
Onde: Sesc Pompeia (Teatro)
Quanto: R$ 18 a R$ 60
Onde: Sesc Pompeia (Teatro)
Quanto: R$ 18 a R$ 60
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“ANNETTE PEACOCK”
Nascida no Brooklin (NY) em 1941, Annette Peacock é uma bela
surpresa da escalação. Todos os anos o evento traz cantoras, mas nunca tinha
vindo uma de perfil tão ousado como Annette. Também compositora e pianista,
trabalhou inicialmente bastante com Paul Bley e com seu ex-marido Gary Peacock,
até começar a editar seus próprios trabalhos, chamando logo atenção com “I’m
the One” (72), disco que conta com a participação de Airto Moreira e Dom Um
Romão. Sua música traz elementos do universo do jazz, do avant-garde, blues,
rock, em uma concepção bastante particular. Outro marco em sua discografia é
“X-Dreams” (78), que traz a sensacional “Real & Defined Androgens”, uma de
suas melhores composições. Depois de um período mais silenciado nos anos 90,
retornou em 2000 com o lírico “Na Acrobat’s Heart” (ECM). Sua apresentação será
de voz e piano, acompanhada pelo baterista Roger Turner.
Quando: 26/8 (sab), às 21h; e 27 (dom), às 18h
Onde: Sesc Pompeia (Teatro)
Quanto: R$ 15 a R$ 50
Onde: Sesc Pompeia (Teatro)
Quanto: R$ 15 a R$ 50
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“EDDIE ALLEN”
O trompetista Eddie Allen não é um representante do free, mas também não é um artista fechado a esse universo, tendo gravado com Lester Bowie (em seu Brass Fantasy) e Muhal Richard Abrams (em discos como “Think All, Focus One”). De qualquer forma, sua praia é mais o pós-bop e é isso que devemos ver em seus concertos, que abrem o festival. Allen vem com um septeto, que deve contar com Keith Loftis (sax), Dion Tucker (trombone), Misha Tsiganov (teclado), Mark Soskin (piano), Kenny Davis (baixo) e E.J. Strickland (bateria). Com esse pessoal gravou “Push” (2014), um de seus mais recentes registros, que bem dá o tom do trabalho que tem desenvolvido.
Quando: 10/8 (qui), 11 (sex) e 12 (sab), às 21h30
Onde: Sesc Pompeia (comedoria)
Quanto: R$ 18 a R$ 60
Onde: Sesc Pompeia (comedoria)
Quanto: R$ 18 a R$ 60
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“HERMETO PASCOAL”
Hermeto Pascoal é artista para se apreciar quantas vezes
tiver oportunidade. O lendário multi-instrumentista chegou aos 80 anos mantendo
imaginação e energia ainda elevadíssimas. Ele tocou em São Paulo neste ano como
parte de sua turnê “Nave Mãe”. Agora pela primeira vez se apresenta no Jazz na
Fábrica. Suas invenções sonoras contarão com a participação de um grupo formado
por Fabio Pascoal (percussão), Itiberê Zwarg (baixo), Andre Marques (piano),
Jota P. (saxes) e Ajurunã Zwarg (bateria).
Quando: 12/8 (sab), às 21h; e 13 (dom), às 18h
Onde: Sesc Pompeia (Teatro)
Quanto: R$ 12 a R$ 40
Onde: Sesc Pompeia (Teatro)
Quanto: R$ 12 a R$ 40
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*quem assina:
Fabricio Vieira é jornalista e fez mestrado em Literatura e Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; foi ainda correspondente do jornal em Buenos Aires. Atualmente escreve sobre livros e jazz para o Valor Econômico. É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and Run”, de Roscoe Mitchell (Selo Sesc), e “The Hour of the Star”, de Ivo Perelman (Leo Records)
Fabricio Vieira é jornalista e fez mestrado em Literatura e Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; foi ainda correspondente do jornal em Buenos Aires. Atualmente escreve sobre livros e jazz para o Valor Econômico. É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and Run”, de Roscoe Mitchell (Selo Sesc), e “The Hour of the Star”, de Ivo Perelman (Leo Records)