Encerramos o ano com nosso Top 10, listando álbuns
imperdíveis lançados em algum momento de 2016. Mais do que apontar
os melhores discos editados no ano, o que se pretende é indicar
títulos que deveriam ser obrigatoriamente degustados pelos apreciadores da
música livre e criativa...
Para quem ainda insiste que tudo já foi dito e o melhor
ficou no passado, a free music tem respondido a cada ano com uma nova safra de
registros notáveis, criações conduzidas por jovens e veteranos que mostram que
essa música permanece viva e sempre pode surpreender: basta estarmos prontos
para ouvi-la, receptivos ao que, generosamente, nos é oferecido por artistas de
todos os cantos do mundo. Peter Evans, com seus apenas 30 e poucos anos, é
indiscutivelmente um dos nomes contemporâneos essenciais do free e seu último disco
solo, “Lifeblood”, se revela obra genial nascida para se tornar referência do
gênero; outra figura fundamental da cena atual, a guitarrista Mary Halvorson,
aparece aqui com o inebriante trio The Out Louds; dentre as novidades, destaque
para o trio Protean Reality, que tem à frente o saxofonista Chris Pitsiokos, de
26 anos, que estreou com um álbum de grande frescor e vitalidade, fazendo um
elo entre o free jazz de ontem e de hoje; outra saxofonista, a sueca Anna Högberg,
nos brindou também com uma estreia empolgante com seu sexteto feminino; no modo
mais noise e explosivo dessa seara, o baterista Weasel Walter e seu Large Ensemble
trouxeram um exemplar com voltagem máxima; na outra ponta, o lirismo do duo Ivo
Perelman/Matthew Shipp em mais um sublime capítulo, “Corpo”; dentre os
veteranos, o trompetista Wadada Leo Smith, aos 75 anos, surpreende com mais um ambicioso projeto; ambicioso
também têm sido os trabalhos para conjuntos maiores do cornetista Taylor Ho
Bynum, que este ano nos apresentou seu incrível “PlusTet”; da intensa cena de
Portugal, o genial “Red Trio” ressurge em novo brilhante encontro com o
saxofonista britânico John Butcher; há ainda o impro hipnótico construído com
voz e eletrônicos da dupla formada pela italiana Marialuisa Capurso e o francês
Jean-Marc Foussat; e da cena local, destaque para o segundo título oficial do
Otis Trio, aqui em versão octeto. Dentre as reedições que chegaram ao mercado nos últimos meses, há o inspirado
“Nana”, do baterista finlandês Edward Vesala (1945-1999), disco até então muito
raro, tendo sido editado originalmente em 1970.
Claro que outras imperdíveis
gravações surgiram neste ano (e aparecerão, sem dúvida, em listas de
outros espaços dedicados à música), mas esses são os nossos destaques de 2016. Boas
audições. (Fabricio Vieira)
1. LIFEBLOOD
Peter Evans
More is More
2. PROTEAN REALITY
Protean Reality
Clean Feed
3. AMERICA’S NATIONAL PARKS
Wadada Leo Smith
Cuneiform Records
4. SUMMER SKYSHIFT
Red Trio + John Butcher
Clean Feed
5. ENTER THE PLUSTET
Taylor Ho Bynum
Firehouse 12 Records
6. ANNA HÖGBERG ATTACK
Anna Högberg Attack
Omlott
7. THE OUT
LOUDS
Mary
Halvorson/ Ben Goldberg/ Tomas Fujiwara
Relative Pitch
8. CORPO
Ivo Perelman/ Matthew Shipp
Leo Records
9. IGNEITY: AFTER THE FALL OF CIVILIZATION
Weasel Walter Large Ensemble
Independente
10. EN RESPIRANT
Marialuisa Capurso/ Jean-Marc Foussat
Fou Records
*Álbum nacional do ano
VIDA FÁCIL
Otis Trio 8
Independente
*Reedição do ano
NANA
Edward Vesala Trio
Svart Records
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*quem assina:
Fabricio Vieira é jornalista e fez mestrado em
Literatura e Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por
alguns anos; foi ainda correspondente do jornal em Buenos Aires. Atualmente
escreve sobre livros e música para o Valor Econômico. Também colabora com a
revista online portuguesa Jazz.pt.
É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and Run”, de
Roscoe Mitchell (Selo Sesc), e “The Hour of the Star”, de Ivo Perelman (Leo
Records)