O jazz, em suas múltiplas vertentes, tem uma história antiga
e muito rica na Argentina. E um país tão jazzístico não poderia deixar de ter
também uma face free realmente viva e estimulante...
Por Fabricio Vieira
A cena jazzística da Argentina tem uma história de muitas
décadas. Aberto a muitos estilos jazzísticos, o país produziu nomes de destaques com o passar do tempo, a começar pelo pioneiro guitarrista Oscar Alemán (1909-1980), que viveu na Europa nos anos 30, onde trabalhou com a famosa cantora Josephine Baker.
Depois seria a vez do pianista Enrique Mono Villegas (1913-1986), que assinou
com a Columbia em 1955 e se mudou para Nova York, seguido pelo pianista e arranjador Lalo Schifrin, que também foi para os EUA, onde trabalhou com Dizzy Gillespie e se tornou premiado autor de trilhas para cinema. Outros tantos músicos se destacariam nas
décadas seguintes e algumas obras jazzísticas realmente singulares nasceriam na Argentina, como “Suite Trane” (Alberto Favero, 1969), “Bronca Buenos Aires” (Jorge López
Ruiz, 1970), “Ego” (Jazz Band de Free, 1972) e “Blues para un Cosmonauta” (Horacio
‘Chivo’ Borraro, 1975).
Leandro “Gato” Barbieri |
A relação entre o jazz criado na Argentina e as expressões
mais radicais do gênero também data de muito. Seria um antigo integrante da
orquestra de Schifrin que abriria as portas do país ao free jazz. Leandro
“Gato” Barbieri, nascido em Rosário em 1934, primeiro se estabeleceria como
importante saxofonista local, antes de decidir tentar a sorte no exterior –
desembarcaria na Europa em 1963. Barbieri conheceu, na França, Don Cherry.
Pode-se dizer que foi esse encontro que o libertou de seu passado e o abriu a
uma nova jornada artística. Entre os anos de 65 e 66, Barbieri excursionou e
gravou junto com Cherry, participando de registros fundamentais como “Complete
Communion” e “Symphony for Improvisers”. Em 1967, o saxofonista gravaria como
líder para o mítico selo ESP-Disk o álbum “In Search of the Mistery”. No período,
Barbieri gravou também com Carla Bley (“Escalator Over the Hill”), Charlie
Haden (“Liberation Music Orchestra”) e Alan Shorter (“Orgasm”) e logo começou a
desenvolver uma estética própria, na qual buscou unir o free jazz a sonoridades
latino-americanas. Essa ideia gerou em 1969 o álbum “The Third World”. Na mesma
linha, editou os bem realizados “El Pampero” e “Fenix”. Infelizmente, em meados
dos anos 70 Barbieri se afastou do free jazz, passando a fazer escolhas
estilísticas mais óbvias e comerciais.
Outro pioneiro da música livre no país é Guillermo Gregorio.
Nascido em Buenos Aires em 1941 e em atividade há cerca de cinco décadas,
Gregorio foi figura fundamental do underground argentino nos anos 60 e 70, desenvolvendo
sua própria linguagem a partir da improvisação livre e estando à frente na
época, ao lado de Norberto Chavarri e Roque de Pedro, do importante projeto Movimiento
Música Más (MMM), ligado aos ideais do Fluxus. Uma amostra de seus primeiros
trabalhos foi resgatada no álbum “Otra Musica” (Atavistic, 2000), que traz peças
de importância histórica como “Solo”, um dos primeiros registros de
improvisação para saxofone alto solista, feito em 1964. Clarinetista e
saxofonista, Gregorio optou por buscar novas possibilidades fora de seu país,
que deixou definitivamente em 1986. Radicado nos EUA, tocou e gravou nesses
tempos com Fred Lonberg-Holm, Mats Gustafsson, Franz Koglmann, Mat Maneri, Jim
O’Rourke, dentre outros.
Sergio Paolucci |
Apesar do pioneirismo de Barbieri e Gregorio, o free jazz e
a improvisação livre demoraram para ter um número mais expressivo de praticantes
na Argentina. Encontram-se registros de não mais muitos personagens nessa seara
até ao menos meados dos anos 90, apesar de o jazz, de uma maneira geral, sempre
ter se mantido muito ativo no país. Dentre os que há mais tempo se interessaram
pelo estilo, vale citar ainda o pianista Gustavo Kerestezachi (1942-2003), que no
início dos anos 70 desembarcou em Paris e logo se associou ao baixista Alan Silva. Desse
tempo, restou uma gravação que Kerestezachi fez com o grupo do baixista Bob
Reid, “Africa is Calling Me” (74), da qual também participou Oliver Lake. Há também encontros mais pontuais de músicos com o free. Um exemplo é o tema "Africa", registrado pelo quarteto do saxofonista Horacio 'Chivo' Borraro em novembro de 1970, em que é inegável a influência do free jazz – apesar dele nunca ter se tornado propriamente um representante dessa seara. Ainda nos
tempos primeiros de relação com o free, marcante foi a passagem do quarteto do
saxofonista Steve Lacy (com Enrico Rava, Johnny Dyani e Louis Moholo) por
Buenos Aires em 1966, onde seria gravado o álbum “The Forest and the Zoo”. O contato naquela
ocasião com Dyani e Moholo, que teriam ficado hospedados em sua casa, ajudou um
jovem chamado Sergio Paolucci a descobrir sua vocação e destino. Ainda estudante
de música, o futuro saxofonista se encantaria com o som produzido pelos
visitantes, passando a dar os primeiros passos concretos nessa seara antes dos anos
70 acabar, montando um trio com o baixista Hernán Merlo e o baterista Pepi Taveira. “El
free jazz en Argentina jamás existió, hasta la aparición de Sergio Paolucci”, afirma
o crítico e produtor Walter Thiers no livro “El Jazz Criollo y otras Yerbas”. Apesar
de ser uma referência nacional e ainda estar em atividade, o trabalho de
Paolucci – registrado principalmente a partir dos anos 90 – é muito pouco
conhecido e divulgado fora de seu país. Entre seus não muitos títulos, estão
“Aproximación a Coltrane” (91), “Free Jazz Tango” (96) e o disco de sax solo
“Resplandor” (2009), provavelmente sua última gravação.
Outro nome na estrada há mais tempo é Marcelo Peralta
(Buenos Aires, 1961). Tendo começado com o sax barítono, Peralta testou depois
o tenor, alto e soprano. Em meados dos anos 80, passou a explorar a
improvisação livre ao lado do guitarrista Jorge Mancini. Data dessa época seu
primeiro registro, feito com o Grupo de Improvisación Tercer Mundo, editado no
fim dos anos 80 pelo selo Melopea (importante preservador do jazz argentino), que
contava com Mariana Potenza (flauta e percussão), o citado Mancini e o
percussionista Victor da Cunha. O disco traz elementos de música popular
associados à liberdade freejazeira – a faixa “Un Hilo de Luz”, por exemplo,
traz um subtítulo muito indicativo: “Homenaje a Pharoah Sanders”. Nos anos 90,
formou o grupo “Los Saxópatas”, antes de migrar para a Espanha, onde vive há
cerca duas décadas. De sua produção mais recente, destacam-se os álbuns de
pegada free jazzística “Gnu Trio” (gravado ao lado dos também argentinos
Guillermo Bazzola, guitarra, e Andrés Litwin, bateria), e “Zaz! Trio”, com
Charles Gonzalez (bateria) e Baldo Martinez (baixo). Peralta, que também é
professor e pesquisador, esteve no Brasil, em Salvador, em 2014, durante o
Congresso da Associação Internacional de Estudos de Música Popular. Ao lado do
também saxofonista Juan Calvi, apresentou o trabalho “Bagualas, Blues e Free
Jazz: Improvisação, Diáspora e Globalização de formas musicais arcaicas”.
A cena contemporânea argentina se mostra bastante aberta ao
avant-garde, com muitos músicos, nos mais variados instrumentos, desenvolvendo
sua arte tendo aí referências importantes. Alguns focados no que há de mais
experimental, outros com preocupações jazzísticas mais explícitas, fato é que a
Argentina tem hoje uma lista extensa de músicos realmente criativos e
empolgantes. De saxofonistas, é valioso conhecer: Luis Conde (também
clarinetista, tem gravações com Sabu Toyozumi e Frode Gjerstad), Pablo Ledesma,
Ada Rave, Pablo Puntoriero (do inquieto quarteto “La Cornetita”, com quase duas
décadas de atividade), Leonardo Piantino, Roi Maciaz, Luis Natch, Carlos
Lastra, Hernán Samá, Natalio Sued, Ingrid Feniger, Rodrigo Domínguez, Miguel
Crozzoli, Jorge Torrecillas, Pablo Moser e Sam Natch. No piano, uma escalação
de figuras que não ignoram o free certamente contaria com Pepe Angelillo, Paula
Shocron, Ernesto Jodos, Nico Chientaroli, Fabiana Galante, Ruben Ferrero, Tatiana Castro Mejía (colombiana radicada em BsAs), Santiago Belgrano e Teo Cromberg. Muitos são também os bateristas de
primeiro time: Pepi Taveira, Sergio Verdinelli, Pablo Díaz, Martín López
Grande, Andres Elstein, Augusto Urbini, Damián Allegretti, Fran Cossavella, Juan
Pablo Carletti e Carto Brandán. Nos outros instrumentos, não podem deixar de
ser mencionados os baixistas Jerónimo Carmona, Mono Hurtado, Mariano Otero, Guillermo Roldan,
Juan Bayón, Hernán Merlo, Carlos Álvarez e Pablo Vásquez; o trombonista Francisco Salgado (do quarteto Underground Mafia); além dos guitarristas
Juan Pablo Arredondo, Fernando Tarrés, Alcides Larossa (um importante
divulgador da improvisação livre), Claudio Nuñez, Nacho Esborraz e Wenchi Lazo.
E sim, há outros tantos artistas argentinos fazendo isso acontecer, muitos ainda a serem descobertos, do post-bop ao avant-garde...
E sim, há outros tantos artistas argentinos fazendo isso acontecer, muitos ainda a serem descobertos, do post-bop ao avant-garde...
Enrique Norris |
Esses músicos apresentam propostas variadas e inventivas, mas
apenas uma parte deles já teve a oportunidade de levar seu trabalho para ser
conhecido fora do país. Um dos mais destacados e que permanece ainda muito
ligado ao cenário doméstico é Enrique Norris. Cornetista e pianista, Norris é
um nome fundamental da contemporânea cena argentina. Um dos originais e
criativos músicos do país, Norris está em atividade desde os anos 80, tendo
tocado e gravado com diferentes gerações por lá, como sideman ou comandando um
de seus diferentes projetos, como Cacerola (que tem editado um inspirado disco
homônimo), o trio M.E.S., NGG Jazz e NPGEconcentrado. Mas foi sobretudo a partir
dos anos 2000 que Norris se firmou como figura central. E é também somente a
partir desse período que começa a gravar como líder. Atualmente, conduz o
Norris Trío, ao lado de Pablo Díaz (bateria) e Maximiliano Kirszner (baixo). É
com esse grupo que mais facilmente sua música pode ser conhecida (os
discos têm sido divulgados via Bandcamp), pois seus trabalhos anteriores,
sempre gravados de forma independente, são relativamente difíceis de serem
encontrados.
“Gosto de usar o termo ‘música criativa’ (para designar o
que toco)”, afirma o baterista Pablo Díaz. “Na Argentina, tem havido muita
movimentação em torno dessa música e cada vez há mais músicos interessados em
enfrentar suas composições, liderar projetos próprios e explorar a improvisação
livre”, diz. “É possível viver de música na Argentina da mesma forma que em
qualquer outro lugar do mundo. Tudo depende do que espera. A música te traz um
retorno espiritual que é muito valioso. Em relação à questão econômica, salvo
alguns poucos, geralmente os músicos tem que trabalhar com outra coisa para
ganhar dinheiro, é muito comum ter que dar aulas ou mesmo ter outro emprego.”
Sendo uma cena independente, é inevitável que os músicos busquem
formas próprias de divulgar e desenvolver seu trabalho. Nesse âmbito, merece
destaque a criação do “Free Jazz Festival de Buenos Aires”, no começo dos anos
2000, por Ruben Ferrero, evento que ainda segue ativo. Pianista e pesquisador de
sons étnicos, Ferrero passou a se envolver de forma crescente com a
improvisação livre nos anos 90 e foi um dos poucos argentinos a fazer parcerias
com brasileiros – ele gravou com Panda Gianfratti e Yedo Gibson o disco
“Contra-Mão”, em 2004. No momento, o pianista trabalha no documentário “Free Jazz – Rugido de Libertad”, sobre a cena local.
Importante movimentação relacionada à improvisação livre tem
acontecido também em Rosário, onde um grupo de músicos se juntou para criar, em
2011, o Ciclo de Improvisación Libre. Reunindo artistas de diferentes vertentes
interessados em free improvisation no Centro Artístico Integral de Rosario
(Cairos), o projeto rendeu, em 2013, a coletânea “All Free”, disco com
apresentações registradas em diferentes encontros. Tendo à frente os músicos
Nacho Esborraz, Alexis Perepelycia, Leonardo Piantino e Maximiliano Caccarni, o
Ciclo tem mostrado o interesse pela improvisação com a participação de um
grande número de músicos, inclusive de argentinos que vivem fora do país, como
Natalio Sued, e estrangeiros, como o holandês Oscar Jan Hoogland.
Rosário é também o local de nascimento da pianista Paula
Shocron, que estreou há cerca de uma década com o intimista álbum “La Voz que
te Lleva” e, desde então, tem aberto sua música a uma viagem cada vez mais livre
e desafiadora. Em meio a bem-sucedidos registros de perfil mais jazzístico,
como “Urbes” e “Our Delight”, Shocron tem mostrado em projetos recentes, como o
“Nuevo Ensamble” e o “Imuda” (este focado na improvisação, tendo sido criado ao
lado da dançarina Laura Monge e hoje agregando diferentes músicos),
possibilidades novas e mais intrigantes de sua arte. O disco
“Anfitrion”, registro do SLD Trío editado no ano passado, ao lado de Pablo Díaz e do
baixista German Lamonega, ilustra bem essa face atual de sua arte.
Paula Shocron e Pablo Díaz |
Apesar de os atuais meios de divulgação via internet
facilitarem a descoberta dessa música mundo afora, nota-se ainda a falta de um
intercâmbio mais forte, tanto de artistas estrangeiros visitando o país quanto
de instrumentistas argentinos tocando e se integrando à cena internacional.
Mesmo a relação com o vizinho Brasil é bastante superficial. Nesse aspecto, não
pode deixar de ser citada a atuação do saxofonista britânico George Haslam.
Desde que passou pela Argentina no começo da década de 1990, Haslam buscou se
integrar a músicos locais, sempre retornando para festivais e gigs, além de
gravar com alguns deles, como Paolucci, Ferrero, Maciaz e Ledesma. Tais
registros ajudam, de alguma forma, a levar o som de músicos argentinos para a
Europa, por meio de álbuns como “Once Upon a Time in Argentina” e “Argentine
Adventures”, editados pelo selo Slam Productions.
Um músico que gravou com Haslam e depois registrou passagens
em diferentes oportunidades pela Europa foi o saxofonista Pablo Ledesma. Vindo
de La Plata, Ledesma começou sua carreira nos anos 80, tendo se tornado
professor de sax e improvisação, sendo importante referência para toda uma
geração. Sua busca por ampliar sua criação o levou a parcerias com músicos
estrangeiros, que rendeu recentemente um belo álbum em duo com o pianista
espanhol Agustí Fernandez (“Improvocaciones”, 2013), além da oportunidade
de tocar nos últimos anos com nomes como Elton Dean, Lol Coxhill, John
Edwards, Butch Morris e Lê Quan Ninh. “Tocar jazz é uma tarefa realmente
difícil, não apenas porque demanda muitos anos de estudo e experiência, mas
também porque não existe uma oferta de trabalho abundante, para atender a
crescente quantidade de músicos de alto nível que tem surgido. A Argentina não
é uma exceção e as oportunidades para desfrutar de um bom palco e uma audiência
entendida no assunto são raras, o que se torna ainda mais evidente fora de
Buenos Aires”, afirma Ledesma.
Outro saxofonista que buscou se aproximar de artistas
destacados do free internacional é Roberto Pettinato. Mais conhecido em seu
país por ter feito parte da cultuada banda de rock “Sumo” nos anos 80, além de
comandar um popular programa de TV, Pettinato começou a se interessar pelo
universo do free jazz apenas nos anos 2000. Depois de um disco irregular
editado com músicos locais (“Musica Anticomercial”, 2003), aprofundou suas experiências,
que culminaram em “Purity”, gravado em 2012, em Nova York, ao lado de Dave
Burrell, Henry Grimes e Tyshawn Sorey.
Leonel Kaplan |
E tem Leonel Kaplan, um dos argentinos ligados ao free com mais
trânsito internacional hoje. Trompetista que começou sua trajetória focado no
jazz, Kaplan passou a se aprofundar na improvisação livre a partir dos anos
2000 e, entre idas e vindas pelas cenas de Estados Unidos e Europa, tocou com
muita gente e desenvolveu variados projetos internacionais. Um de seus
primeiros parceiros estrangeiros foi o alemão Axel Dörner. Depois, formaria um
trio com Nate Wooley e Audrey Chan (“Silo”, 2006). Gravaria ainda com John
Butcher, Tetuzi Akiyama e com a trompetista alemã Birgit Ulher, com quem mantém
o projeto Stereo Trumpet. Um destacado parceiro seu atualmente é o austríaco
radicado em Buenos Aires Christof Kurzmann. Kaplan tem tocado sempre que
possível na Europa e também recebido músicos estrangeiros para gigs na
Argentina – como os duos que realizou em 2014 com a trompetista portuguesa Susana
Santos Silva.
Na esteira dos pioneiros Barbieri e Gregorio, não faltam músicos
argentinos ligados ao free que têm feito a opção de se mudar para o exterior.
Esse é o caso dos bateristas Damián Allegretti e Juan Pablo Carletti, ambos
radicados em Nova York. Allegretti editou no ano passado seu primeiro álbum
como líder, “Stoddard Place”, registro em trio com Erik Friedlander e Tony
Malaby. Já Carletti, que está há cerca de uma década vivendo nos EUA, tem
tocado atualmente no Rob Brown Quartet e lançou no ano passado “Illusion of Truth”, um
duo com o celista Daniel Levin.
Mais recentemente, a saxofonista Ada Rave e o pianista Nico Chientaroli
partiram para Amsterdã em busca de novos ares e oportunidades. “Mudei para
Amsterdã a princípio porque queria, com a Ada, ter uma experiência em algum
país com tradição de improvisação livre, como Inglaterra, Alemanha ou Holanda.
Acabamos vindo para cá porque era o único lugar onde tínhamos amigos músicos,
como um primeiro passo e depois ver o que acontecia. Acabamos gostando da cena
de Amsterdã e decidimos ficar por aqui”, diz Chientaroli, que editou há pouco seu primeiro álbum de piano solo, “Cada Fuego es el Primero”. Entre os saxes
tenor e soprano, Ada Rave é uma das vozes mais interessantes da cena argentina.
Após comandar e participar de diferentes projetos em seu país – “Proyecto Orgánico Rave”,
“Los Improvisadores Gráficos”, “Martes 151”, além de seu empolgante“Cuarteto”–, Rave tem, em meio a novas parcerias, explorado
mais o formato solista nesta temporada europeia. Tal faceta pode ser ouvida em “A
Trial, a Texture”, editado pelo selo Pan y Rosas, que a mostra cada vez mais
inventiva no trabalho com a improvisação livre.
“Não deixamos Buenos
Aires por falta de oportunidade, fomos porque queríamos ter outras
experiências, conhecer outros músicos, costumes, outras maneiras de pensar e encarar
a vida. Buenos Aires é uma bela cidade, cheia de oportunidades, mas também a
improvisação livre ainda é bastante jovem por lá. Queríamos ir a um lugar onde
existe uma tradição nesse estilo, onde se encontram músicos que vêm trabalhando
com esta música há muito tempo”, diz Chientaroli.
Com uma cena free/jazzística tão pulsante aqui ao lado,
surpreende que a interação do Brasil com os hermanos seja tão superficial, com
raras parcerias e notadas ausências em nossos palcos...
(Esta é uma versão revista e ampliada de texto publicado em
novembro de 2015 na Jazz.pt)
*o autor:
Fabricio Vieira é jornalista e fez mestrado em Literatura e Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; foi
ainda correspondente do jornal em Buenos Aires. Atualmente escreve sobre
literatura e jazz para o Valor Econômico. Também colabora com a revista online
portuguesa Jazz.pt.
É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and Run”, de
Roscoe Mitchell (Selo Sesc), e “The Hour of the Star”, de Ivo Perelman (Leo
Records)