Na estrada desde 2010, o trio carioca Chinese Cookie Poets
atravessa um outubro realmente intenso: acabam de soltar um novo álbum e preparam as malas para embarcar para a primeira turnê pela Europa, onde se apresentarão em seis países, a
começar no próximo dia 25 no Actionjazz in Copenhagen, incrível festival de free music que tem a
curadoria de nada menos que o genial baterista Paal Nilssen-Love.
O Chinese Cookie Poets (ou simplesmente CCP) é composto por Felipe
Zenícola (baixo), Marcos Campello (guitarra) e Renato Godoy (bateria). O trio, partindo
do universo do rock instrumental, cria um som ríspido e intenso, bastante centrado e focado, em temas diretos e não muito extensos, repletos de
elementos vários, explorando a liberdade da improvisação livre, a energia do
free jazz e a vitalidade do jazzcore, sem ignorar as possibilidades ruidosas
abertas pela no wave.
“Em 2009, eu e Marcos decidimos fazer um projeto juntos e
começamos a gravar uns improvisos, e já em 2010 chamei o Renato, com quem já
tocava há dez anos em outras bandas, pra gravar a bateria em uns temas que tínhamos
montado. Dessa gravação, acabou surgindo outros temas, como ‘Bone Catcher’, e
dessas sessões surgiu nosso primeiro EP, de 2010”, contou ao FreeForm, FreeJazz
o baixista Felipe Zenícola.
Desde então, editaram cinco títulos, sendo que o mais
recente acaba de sair. Diferentemente do disco anterior – Danza Cava, de 2013,
que contou com a participação do trompetista Nicolau Lafetá –, este novo
trabalho se concentra apenas no trio. “Tem só uma participação em uma música,
do Paulinho Bicolor, mestre absoluto da cuíca. O disco não tem nome, mas
virtualmente foi intitulado como “■” e é o mais longo de todos, tem +- 37
minutos. Está sendo lançado pela parceria entre os selos QTV (Quintavant), do
Rio, e Brava, de São Paulo. A Brava é também quem está nos ajudando muito hoje
com a produção, especialmente com a produção dessa turnê.”
Bem conhecido nas cenas carioca e paulistana, o CCP já teve
a oportunidade de levar seu som para fora do país. Em 2011, estiveram no Chile,
onde tocaram nas cidades de Talca, Santiago e Valparaíso. E como surgiu a
oportunidade de ir agora para a Europa?
“Ano passado, quando veio ao Brasil, o Paal Nilssen-Love
convidou a gente para tocar em um evento em Copenhague que ele está fazendo a
curadoria, chamado Actionjazz. A partir desse convite, fomos atrás de outros
shows. Conseguimos fechar 8 no total, em 6 países (Áustria, Alemanha, Bélgica,
Suíça, Itália e Dinamarca), o que pra mim já está bom demais pra uma primeira
turnê pela Europa. Um dos dois shows que faremos na Bélgica será junto com o
Nicolau Lafetá. Ele mora na Holanda e não podíamos perder a oportunidade de
fazer um show juntos”, diz Zenícola.
Essa turnê deve representar um marco na trajetória do trio, e não apenas por excursionarem pela Europa: no festival Actionjazz, onde se
apresentam no próximo sábado, no mesmo dia em que o duo Joe McPhee/Chris Corsano, terão
a oportunidade de interagir com alguns dos grandes da free music, que também
estarão no evento, como The Thing, DKV, Lovens/Schlippenbach Duo, Lotte Anker,
Alan Silva e Mette Rasmussen, além de The Ex e Lean Left. A turnê europeia do trio se estenderá até o dia 7
de novembro, depois de terem realizado oito apresentações.
Dono de um som múltiplo e aberto, o CCP não deixa entrever
com facilidade as sonoridades que influenciaram sua estruturação. Questionado
sobre sons importantes para a formação do trio, Felipe não economizou na
amplitude de referências: “John Coltrane, Boredoms, Raphael Rabello, Keiji
Haino, John Zorn, Primus, João Bosco, Peter Brotzmann, Van Halen, Merzbow,
Frank Zappa, Otomo Yoshihide, The Shaggs, Fundo de Quintal, James Chance, Derek
Bailey, DNA…”
No Bandcamp da banda (veja abaixo) é possível escutar e baixar
todos os títulos que lançaram, inclusive o mais recente.
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*o autor:
Fabricio Vieira é jornalista e fez mestrado em Literatura, tendo se especializado na obra do escritor português António Lobo Antunes. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; também foi correspondente do jornal em Buenos Aires. Atualmente escreve sobre literatura e jazz para o Valor Econômico.