Apresentando: Anthony Braxton (II)


Não é fácil navegar pela vasta discografia, com seus mais de 200 títulos, de Anthony Braxton. Poucas pessoas podem se gabar de ter feito o percurso completo, visitando todos seus álbuns. Extrair, dessa imensa (em todos os sentidos) obra artística, 10 peças essenciais não é tarefa simples ou mesmo responsável: impossível não ser injusto e deixar preciosidades de fora... Mesmo assim, resolvemos selecionar 10 títulos imprescindíveis na ampla obra braxtoniana, 10 álbuns que ilustram um pouco da sua infindável relevância e que deveriam ser ouvidos obrigatoriamente por quem deseja se iniciar nessa monumental criação musical.
 (por Fabricio Vieira





Eu tenho total respeito pelo jazz, mas a música que faço é ‘universal music’, é uma música transidiomática, não é apenas jazz, clássico... Eu sou apenas um estudante profissional de música e meu desejo é continuar sendo um estudante profissional de música” (Anthony Braxton)





"10 álbuns essencias de Anthony Braxton"



Delmark
Ano de gravação: 1969

Segundo título gravado por Braxton, quando ele contava com apenas 24 anos de idade. Foi o primeiro álbum dedicado inteiramente ao saxofone solo, formato que se tornou um marco na free music e praticamente obrigatório a todo saxofonista dessa seara. Ouvir esse trabalho da juventude é entender que Braxton estreou na hora certa, quando tinha de fato algo de novo a oferecer.






Arista
Ano de gravação: 1975/76

Duas versões do quarteto excepcional de Braxton com seus fies escudeiros Dave Holland e Barry Altschul. O primeiro concerto, registrado em Montreux, traz a adição do trompetista Kenny Wheeler. No segundo registro, ele cede lugar para o trombonista George Lewis. Há ainda um “bônus”, uma faixa gravada com a orquestra “The Berlin New Music Group”.





Arista
Ano de gravação: 1976

Braxton juntou nessa big band, que chega a ter 20 instrumentistas em alguns temas, nomes vitais do free dentre seus principais parceiros, como Roscoe Mitchell, Leo Smith, George Lewis, Muhal Richard Abrams e Dave Holland. Elementos jazzísticos mais acentuados e certa ritmicidade bop, em meio a solos demolidores e harmonias desconcertantes, conquistaram até a mais tradicionalista revista Down Beat, que o elegeu como ‘álbum do ano’.





Black Saint
Ano de gravação: 1978

Encontro com o baterista Max Roach, lendária figura que protagonizou o bebop, o hard bop e sempre manteve os ouvidos abertos ao jazz moderno e suas revitalizações. Duo com momentos de certeira energy music (veja a faixa de abertura, “Birth”) sem esquecer em outras passagens a raiz bop. Braxton deixa aqui suas composições de lado, em nome da criação conjunta com Roach.  




Victo
Ano de gravação: 1988

Intensa apresentação de Braxton em festival no Canadá com um time de tirar o fôlego: Evan Parker, George Lewis, Joelle Leandre, Gerry Hemingway, Paul Smoker e Bobby Naughton. O septeto se concentra na execução das composições braxtonianas  Nos.141 e 142, em uma sessão sem coadjuvantes, com picos elevados de improvisação coletiva.






Black Saint
Ano de gravação: 1989

Registro fundamental para apreciar o Braxton compositor focado em uma orquestra. Tocando sax alto e conduzindo um grupo de 16 músicos, Braxton apresenta oito composições, escritas entre 1975 e 1989. Não está entre seus trabalhos mais vanguardistas, mas exibe de forma fina sua faceta de inventivo compositor.








hat ART
Ano de gravação: 1991

Esse incrível quarteto, que contava com Marilyn Crispell, Mark Dresser e Gerry Hemingway, gravou alguns discos entre 1985 e 1993, sendo quase tudo ao vivo. Nesse encontro em Willisau, na Suíça, o quarteto gravou quatro discos, sendo dois em estúdio e dois ao vivo, deixando alguns de seus melhores momentos impressos. Há quem considere esse o maior grupo fixo que Braxton já teve.




hat ART
Ano de gravação: 1993

Nesse capítulo, dentre os vários em que Braxton visitou standards ou músicos lendários do jazz, vemos um grupo de figuras fortes do free, como Han Bennink, Misha Mengelberg, Paul Smoker e Ari Brown, em ação. São dois discos, com gravações em estúdio e ao vivo, englobando revisitações desconcertantes a clássicos de Charlie Parker e do bop, como ‘Koko’, ‘Yardibird Suite’ e ‘A Night in Tunisia’.





"9 Compositions (Iridium)"
Firehouse Records
Ano de gravação: 2006

Exemplar máximo de seu projeto “Ghost Trance Music”, Iridium é mais um ambicioso lançamento de Braxton, que conta com nada menos que nove discos – ou mais de nove horas de música. Para a gravação, foram convocados 12 músicos, dentre esses fieis discípulos/parceiros, como Taylor Ho Bynum e Mary Halvorson, além da representante da nova geração da AACM Nicole Mitchell.




Leo Records
Ano de gravação: 2008

Para quem vai assistir os concertos de Braxton em SP e não sabe ao certo o que esperar, esse álbum, que faz parte do projeto “Diamond Curtain Wall”, é uma bela apresentação. Com Taylor Ho Bynum e Mary Halvorson, essa versão do quarteto traz também a participação de Katherine Young (bassoon), em uma longa faixa única de 70 minutos (mais um breve bis). Imprescindível Braxton contemporâneo para mostrar que as lendas da música não têm motivos para ficar apenas remoendo antigos projetos bem sucedidos.