O baterista português Gabriel Ferrandini é um dos jovens nomes
que têm dado um ar fresco à improvisação livre europeia. No ano passado, ele tocou
no Brasil pela primeira vez, em duo com o saxofonista Rodrigo Amado. Agora, em
nova passagem pelo país, o baterista se reúne a músicos locais – o guitarrista Biaggio
Vessio, Renato Ferreira, Alex Zhem (do Sobre a Máquina) e Marcos Campello (do
Chinese Cookie Poets) – para encontros inéditos no Rio e em São Paulo.
Nessa conversa
com o FreeForm, FreeJazz, realizada em janeiro de 2013, Ferrandini falou um
pouco sobre seu trabalho.
FF - Aos 26 anos você faz parte de dois dos mais destacados
trios europeus (Motion Trio e Red Trio) e já teve a oportunidade de tocar com
gente como Raymond Strid, Jeb Bishop, Rob Mazurek, John Butcher, Nate Wooley, Peter Evans...
Como se deu sua entrada no mundo da free music? Demorou para ser aceito e
se destacar nesse meio?
“O free foi algo que veio do jazz. Eu já ouvia jazz há muito
tempo, desde novo, mas procurava sempre algo mais rápido ou mais forte
e quando conheci as pessoas da Clean Feed eles me apresentaram
alguns músicos e discos, fiquei imediatamente fascinado com
esta maneira de tocar. Tive muita sorte porque muitos músicos que
admirava e acompanhava os seus concertos se interessaram por minha linguagem e
rapidamente comecei a ensaiar e a dar concertos com eles. Aos 21, estava já
gravando e tocando em muitas gigs.”
FF - Como chegou à bateria? Sempre quis ser um
percussionista ou passou por outros instrumentos antes? Quais bateristas foram
importantes em sua formação e no rumo de sua sonoridade?
“Sempre tive uma coisa por bateria e comecei a tocar e a
estudar por volta dos 13 anos de idade. Nunca toquei nenhum outro instrumento.
Tem muitos bateristas de que gosto, mas os que realmente me influenciaram foram
os do jazz, os da velha e da nova guarda. Os principais da velha foram o Tony
Williams, nos primeiros anos da carreira dele, Rashied Ali, Elvin Jones e
poucos mais... e os da nova, o Paul Lovens, Paul Lyton, Paal Nilssen-Love, Tony
Oxley e Chris Corsano. Claro que admiro e me inspiro em muitos bateristas
até de outras áreas, mas esses são os principais mesmo.”
FF - Você tem família no Rio de Janeiro, mas essa é a
primeira vez que desembarca no país para se apresentar como músico. Já conhece
a cena musical brasileira? O que falta para haver um intercâmbio mais vivo
entre os músicos do Brasil e de Portugal?
“Minha família é confusa... o pai é português de
Moçambique, mas viveu no Rio e partiu para os EUA com 18 anos, onde
conheceu a minha mãe, que é carioca e tinha ido para os EUA com 16. Eu nasci lá
[EUA] e fomos para Portugal quando eu tinha 9 anos. Atualmente meu
pai vive entre o Rio e Portugal, mas eu e minha mãe continuamos
vivendo lá [em Portugal]. Sou super-mega-fã de música brasileira, desde
os clássicos até ao pessoal dos anos 70 e 80. A cena actual não
conheço tão bem, mas a música brasileira é uma influência brutal na minha vida,
como humano e músico. Acho que aos poucos tem havido mais intercâmbio e
acredito que no futuro haverá mais... O problema é que estamos muito longe e é
difícil arranjar sempre condições boas para os músicos pularem de um
lado para o outro.”
FF - Além de seu trabalho mais centrado na free
improvisation, você tem projetos em outros campos, como o "Hurricane"
e o trabalho com o D’Incise, que demonstram sua abertura para uma amplitude
maior de sons. Como se organiza o Gabriel ouvinte?
“Eu ouço de tudo mesmo, amo música e por isso o que me soar
eu topo! Ouço desde rock à música experimental. Como já disse, a música
brasileira é enorme para mim, principalmente o pessoal da velha bossa e afins.
Hoje na verdade ouço cada vez menos jazz... Há cerca de um ano que praticamente
só ouço rock e hip hop... Hip hop para mim tem sido uma das grandes inspirações
atuais na minha vida, músicos como o Knxwledge, Flying Lotus, Captain Murphy, o
pessoal da Odd Future, Mos Def, J Dilla, Madlib... tantos...”
*GABRIEL FERRANDINI + Alex Zhem + Marcos
Campello
Quando: 1/5 (qui), às 20h
Onde: Audio Rebel (Rio de Janeiro)
Quanto: R$ 15
*GABRIEL FERRANDINI + Biaggio Vessio + Renato Ferreira + Nora
Mulder (Hol)
Quando: 3/5 (sab), às 19h
Onde: Casa NAM (Perdizes/SP)
Quanto: R$ 10