*Autora: Valerie Wilmer
*296 pg.
*Editora: Serpent's Tail
*Idioma: Inglês
*296 pg.
*Editora: Serpent's Tail
*Idioma: Inglês
Jornalista e fotógrafa britânica, Valerie Wilmer vivenciou de perto os anos
clássicos do free jazz. E não deixou passar em branco: registrou in loco seu
entorno, que resultou neste As Serious as Your Life. Editado pela primeira vez em
1977, o livro mostra sua particular interpretação da cena, destacando
diferentes figuras que fizeram esse som nascer e se estabelecer como um gênero
próprio e único.
A autora foi para Nova York em meados da década de 60, período em que trabalhava para a revista Melody Maker. Já atenta ao jazz e ao blues, se envolveu de forma crescente com o free, convivendo com muitas de suas figuras centrais.
A autora foi para Nova York em meados da década de 60, período em que trabalhava para a revista Melody Maker. Já atenta ao jazz e ao blues, se envolveu de forma crescente com o free, convivendo com muitas de suas figuras centrais.
Seu trabalho como fotógrafa estampa diferentes álbuns daquele
período, como “Duo Exchange” (Rashied Ali e Frank Lowe) e “Dona Lee” (Anthony
Braxton).
Apesar do subtítulo da primeira edição (“The Story of the New Jazz”), As Serious as Your Life não se propõe como uma obra de perfil historiográfico. O livro, que se desenha mais como uma crônica da época, expõe em cinco partes (subdivididas em dezesseis capítulos) diferentes ângulos de visão da autora sobre a cena que vivenciou. Sem ser didático, busca documentar os tempos heroicos do free jazz americano – mesmo a autora sendo britânica, a opção foi a de registrar apenas o que acontecia naquele momento nos EUA.
A parte I do livro, “Inovators and Inovations”, se concentra
nas figuras-chave da cena, fazendo uma breve apresentação dos pioneiros Ornette
Coleman, Coltrane, Sun Ra, Albert Ayler, Cecil Taylor e AACM. Essa é a parte
que, vista hoje, se revela menos fundamental, dado o volume de informação que temos
disponível sobre esses músicos. Na sequência vem “Who Are the New Musicians”,
na qual a autora aborda músicos que estavam começando a se firmar naqueles anos
70. Aqui nos deparamos com alguns nomes mais cohecidos depois, como Frank Lowe
e Rashied Ali, em meio a outros menos lembrados, como o percussionista Art
Lewis. Interessante que um dos instrumentistas mais destacados pela autora seja
o trompetista Earl Cross (1933-1987), que acabaria por ser um dos músicos
daquela época que deixou menos registros, sendo praticamente esquecido nos dias
atuais. A autora conta que ele, cansado de ser sideman (participou dos grupos
de Noah Howard e Charles Tyler, por exemplo) e de ganhar a vida tocando muitas
vezes em conjuntos de blues e R&B que não o interessavam esteticamente, Cross decidiu em meados da década de 70, já entrando na casa dos 40 anos, apostar
tudo em sua própria arte. Para isso, montou um sexteto e caiu na estrada.
Infelizmente, a aposta não foi bem sucedida. Restou apenas um registro de Cross
com seu grupo, em um disco lançado em 77 dividido com o Tuba Trio de Sam
Rivers...
“Give the Drummer Some!” forma a terceira parte da obra e,
como aponta o título, foca os bateristas que faziam o free jazz acontecer. Milford
Graves, Sunny Murray, Ali, Andrew Cyrille e Ed Blackwell centralizam as 35
páginas nas quais a percussão assume papel protagonista.
Em “Woman’s Role”, na qual
a autora fala das mulheres que participam da cena free, fica explícita a carência
de figuras a se destacar naquela época – é notória a diferença na quantidade de
mulheres fazendo a new music nos anos 60/70 e nos anos 2000. Valerie critica
certo machismo que dominava o meio (vale destacar o título de um dos capítulos: “You
sound good – for a woman!”): “More women are taking up instruments and really
playing, but the prejudice against them continues”, escreve. Não devem ter
faltado vozes femininas de então que acabaram desaparecendo sem deixar
registro. Alice Coltrane, Barbara Donald, Linda Sharrock e Fontella Bass são
algumas das artistas citadas, mas, curiosamente, a autora não se aprofunda no
trabalho delas – só Alice Coltrane, com o material genial que havia produzido
até aquele momento, já mereceria algumas páginas mais, sem dúvida.
“The Conspiracy and Some Solutions” encerra o livro. Nesta
parte são discutidos os esquemas encontrados pelos músicos para desenvolver e
difundir sua arte, desde a criação de eventos e coletivos até as experiências em gravações e apresentações. É sintomático o título do capítulo final (“Does
the Music Have a Future?”), espécie de epílogo interrogativo em torno da
sobrevivência de uma arte radical que nunca alcançou, se diluiu ou se perdeu no
mainstream. E permanece intensamente viva.
Desde que saiu em 1977, As Serious as Your Life recebeu algumas poucas edições,
sendo a última de 1999, pelo selo britânico Serpent’s Tail (uma edição bem pobre,
vale fisar, feita com papel jornal de baixa qualidade). Não sendo um livro
nascido para ser best seller, As Serious as Your Life acabou por se tornar um
clássico que alguns consideram uma raridade: na internet é possível encontrá-lo
sendo vendido por até incríveis US$ 550!