Nas Prateleiras...

Apanhado mensal de lançamentos recentes imperdíveis da free music
Ouça, divulgue, compre os discos.




Da Bang!
Billy Bang
*Tum Records


Gravado apenas dois meses antes da morte de Billy Bang (1947-2011), o registro traz o violinista com um quinteto, do qual participam seus antigos parceiros Hilliard Greene (baixo) e Newman Baker (bateria). Destaque para o veterano trombonista Dick Griffin, que encanta em diálogos certeiros com Bang. O violino free teve em Billy Bang um de seus pilares e ouvi-lo neste seu testemunho derradeiro, em grande forma inventiva, é muito gratificante. No cardápio, versões para “All Blues” (Miles), “Guinea” (Don Cherry) e “Law Years” (Ornette).  








Illusionary Sea
Mary Halvorson Septet
*Firehouse 12 Records


Mary Halvorson já é o favorito nome da guitarra contemporânea de muita gente. Envolvida em projetos muitos, Mary tem aguçado os ouvidos a cada lançamento. Compositora e improvisadora de grande inventividade, tem reunido grupos em formatos variados: agora é a vez de um septeto, com alguns nomes que já tivemos a oportunidade de ver ao vivo na cidade em outros contextos, como Ingrid Laubrock (sax) e Ches Smith (bateria).  “Illusionary Sea” mostra o quanto Ms. Halvorson sabe explorar os limites da improvisação sem desaguar em um campo abstrato. Sem grandes ruidosidades, constrói texturas envolventes em uma praseirosa e certeira combinação polifônica.  







Paragon for Chance
ReMoTelmPloV
*Mansarda Records

Projeto idealizado pelo baixista Rodrigo Gobbet, o ReMoTelmPloV é um trabalho internacional que contou com a participação de músicos de Brasil (além de Gobbet, estão presentes os trompetistas Romulo Alexis e Gustavo Bode), Portugal, Espanha, Japão, Inglaterra, Argentina e Áustria. Gobbet encomendou a cada um dos músicos envolvidos uma improvisação solística, livre de qualquer regra, salvo determinada duração. Depois, fez um minucioso trabalho de colagem e edição, do qual resultaram três peças. Difícil imaginar, caso não se conheça o processo, que os músicos não estavam juntos na hora da criação, tamanho o equilíbrio encontrado no processo de fusão das vozes. O resultado traz momentos sonoros realmente intensos, com as três peças soando de forma variada, explorando espectros amplos da música improvisada.







Occupy the World
Wadada Leo Smith & TUMO
*Tum Records

Após o elogiado “Ten Freedom Summers”, finalista do prêmio Pulitzer, Wadada Leo Smith aparece com mais um ambicioso projeto. Wadada foi até a Finlândia onde se reuniu com a big band TUMO (Todella Uuden Musiikin Orkesteri). O resultado é este “Occupy the World”, CD duplo que traz cinco extensas composições em linha com o que foi apresentado anteriormente em “Ten Freedom...”. Com esses projetos, Wadada tem mostrado o quanto é relevante seu trabalho como compositor para a música contemporânea e que pouco significa hoje se referir a ele apenas como ‘trompetista ligado à AACM’. Wadada adicionou ao projeto seu fiel baixista John Lindberg, sendo que os dois concentram os solos presentes no disco. Música para se ouvir sequencialmente, como uma grande suíte, de preferência sem interrupções.






Persistent Landlines
Luiz Rocha/ Diego Caicedo/ Marko Jelaca
*Discordian Records


Esse trio vindo da Espanha explora a improvisação livre de forma fluida, com crescentes arestas ruidosas, mas sem desaguar em terrenos de maior incandescência. Formado por clarinete (Rocha), guitarra (Caicedo) e bateria (Marko), o trio de Barcelona faz sua estreia mostrando que a Espanha tem reunido gradativamente mais interessantes músicos focados no free impro. Entre instantâneos como “Bremsstrahlung” (32 segundos) e longos temas como “Thermionic Emission” (10 minutos), o trio exibe sua fórmula em todos extremos.






(Without Noticing)
Fire!
*Rune Grammofon

O trio Fire! retorna a seu formato original, após versão ‘Orchestra’ e com convidados. Com a sedutora letargia piscodélica que lhe é particular, o Fire! mostra arrastadas divagações ruminantes, com Mats Gustafsson elaborando densos desenvolvimentos especialmente ao sax barítono, envolvido pelo baixo circular e espaçado de Johan Berthling e a bateria de quebrada rock de Andreas Werliin (ouçam "Your Silhouette On Each" para sentir o esquema). O Fire! é um dos mais excitantes dos infinitos projetos nos quais Gustafsson está envolvido. O instrumentista  também vagueia neste álbum por eletrônicos e fender Rhodes, além de oferecer picos mais incendiários ao tenor (como em "Would I Whip"). Mantendo-se dentro de sua estrutura própria, o trio apresenta mais um registro de grande impacto, que pede para ser deixado no play repetidamente (ouça um pouco aqui).

  


Ansible
Devin Hoff


O americano Devin Hoff é mais conhecido por suas colaborações com Nels Cline. Mas Hoff, que toca baixo acústico e bass guitar, tem uma discografia já razoável e parcerias com nomes como Ken Vandermark (no novo quarteto “Made to Break”), Ches Smith e Fred Fritch. Neste “Ansible”, do qual participam Vandermark, ao sax tenor, e o guitarrista Jeff Parker, encontramos um som mais suingado, até com alguns traços de free funk e uma intensa interação de grupo. Lançamento apenas digital, é um álbum bem ajustado, para escutar de forma descontraída.





Maquina Solar de Escamas
Amanda Irarrázabal & Wenchi Lazo
*Pan y Rosas


Encontro entre a baixista chilena Amanda Irarrázabal e o guitarrista argentino Wenchi Lazo, o registro mostra um pouco da improvisação livre que vem sendo desenvolvida na América Latina. Apesar da proximidade, o intercâmbio com a música livre de nossos hermanos ainda é muito insípida, o que acaba por nos privar de projetos interessantes como este. Amanda e Lazo fizeram essa gravação em Santiago, no começo do ano. Em meio a seu dedilhado, a baixista gosta de explorar também ruidosidades vocais. Lazo, conhecido anteriormente por conta de seu trabalho no quarteto de Ada Rave, se divide entre guitarra elétrica (seu núcleo) e espanhola. No site do Pan y Rosas é possível baixar/ouvir o disco.