Lançamentos: diversos tons; sons de várias partes

Pequena seleção de sons variados, lançamentos das últimas semanas vindos de diferentes partes, com propostas amplas e resultados empolgantes por sentidos muitos. Sons mais explosivos e enérgicos, improvisação em meio a possibilidades composicionais, interação instrumental e encontros surpreendentemente intensos.
A música nunca para.




ALBATRE
A Descend into the Maeltrom
*Shhpuma


Da Europa tem vindo intensas variações do que podemos chamar de jazzcore. O trio Albatre é uma das novas surpresas nessa seara, tendo em sua base dois instrumentistas portugueses – o baixista Gonçalo Almeida e o saxofonista Hugo Costa – aliados ao baterista alemão Philipp Ernsting. Embebidos por energia e urgência que desvelam influências tanto do free jazz quanto do rock, o trio montou sua base na cidade de Roterdã e tem aos poucos invadido palcos europeus referenciais do free – em maio, por exemplo, chegam ao clássico espaço londrino “Vortex Jazz Club”. Sem obrigatoriamente fazer do peso ruidoso uma busca incessante, o Albatre encontra espaços para divagações entorpecentes que preparam os tímpanos para os centrais picos explosivos. Uma das grandes revelações do ano.
  








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DUNMAL/ SANDERS/ PARK
Birmingham
*Buster and Friends

Sax, guitarra e bateria em uma sessão ao vivo de improvisação livre, com muita intensidade conduzida pelos britânicos Paul Dunmal e Mark Sanders. A eles se juntou o guitarrista Han-earl Park, com seu toque que, em muitos momentos, denuncia ecos de baileyanos. A gig foi registrada em Birmingham, dois anos atrás, e é um exemplar bem vivo e intenso da cena free impro europeia atual. A distribuição do disco está sendo feita da maneira mais democrática possível: pague quanto quiser, com preço sugerido de US$ 8 (quem não puder ou não desejar, por algum motivo, pagar pelo trabalho dos caras, ao menos deveria ter a gentileza de deixar um muito obrigado...).     







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MICHEL LAMBERT
Journal des Episodes
*Jazz form Rant

O baterista canadense Michel Lambert resolveu concretizar um antigo projeto, revelado neste fino trio “Journal des Épisodes”. O álbum remete a um projeto de Lambert do final dos anos 80, que estava destinado a ser uma peça para orquestra sinfônica. Nunca levado a cabo, o plano foi engavetado por esses anos todos, ressurgindo agora nesta versão reduzida para piano-baixo-bateria. Dividido em 92 fragmentos (o menor conta com apenas 5 segundos!), o trabalho busca nos ciclos diários da vida cotidiana sua inspiração, oscilando entre a composição e intromissões improvisativas, resultando em uma envolvente peça que demanda ser escutada em sua totalidade, para que se possa acompanhar sua evolução e variações.

   



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ALÍPIO C NETO/ JEAN-MARC CHARMIER
Lilies for Ra
*Terre Sommerse


O saxofonista pernambucano radicado na Itália se apresenta aqui com um quinteto europeu. Registro de 2006, período em que Alípio ainda vivia em Lisboa, traz o trompetista Jean-Marc Charmier como coautor. O álbum mostra a face mais jazzística do trabalho de Alípio, com peças que se desenvolvem tendo o diálogo entre os sopros seu núcleo – além de Charmier e Alípio, participa ainda o saxofonista Joakim Rolandson. Atenção ao irresistível baixo de Torbjörn Zetterberg.






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RAS MOSHE 
Outsight
*Straw2
 


O saxofonista americano Ras Moshe, 42, ainda recebe menos atenção do que merece, talvez um pouco sombreado por tantos nomes de peso que formam a cena novaiorquina, onde habita e faz sua música. Para este seu novo trabalho, convocou oito músicos (tocam alternadamente), dentre esses o violoncelista Daniel Levin e seu antigo parceiro Matt Lavelle, ao trompete. Destaque para a contemplativa “Meditation for David S. Ware”, hino lírico em homenagem ao grande saxofonista morto no ano passado.




(Ras Moshe; Charles Gayle - bass!-; Matt Lavelle; Tor Snyder - guitar. Jan 2013)