Pequena seleção de sons variados, lançamentos das últimas semanas vindos de diferentes partes, com propostas amplas e resultados empolgantes por sentidos muitos. Sons mais explosivos e enérgicos, improvisação em meio a possibilidades composicionais, interação instrumental e encontros surpreendentemente intensos.
A música nunca para.
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(Ras Moshe; Charles Gayle - bass!-; Matt Lavelle; Tor Snyder - guitar. Jan 2013)
A música nunca para.
ALBATRE
“A Descend into the Maeltrom”
*Shhpuma
Da Europa tem vindo intensas variações do que podemos chamar
de jazzcore. O trio Albatre é uma das novas surpresas nessa seara, tendo em sua base dois
instrumentistas portugueses – o baixista Gonçalo Almeida e o saxofonista Hugo
Costa – aliados ao baterista alemão Philipp Ernsting. Embebidos por energia e
urgência que desvelam influências tanto do free jazz quanto do rock, o trio montou
sua base na cidade de Roterdã e tem aos poucos invadido palcos europeus referenciais
do free – em maio, por exemplo, chegam ao clássico espaço londrino “Vortex Jazz
Club”. Sem obrigatoriamente fazer do peso ruidoso uma busca incessante, o
Albatre encontra espaços para divagações entorpecentes que preparam os tímpanos
para os centrais picos explosivos. Uma das grandes revelações do ano.
DUNMAL/ SANDERS/ PARK
“Birmingham”
*Buster and Friends
Sax, guitarra e bateria em uma sessão ao vivo de
improvisação livre, com muita intensidade conduzida pelos britânicos Paul Dunmal
e Mark Sanders. A eles se juntou o guitarrista Han-earl Park, com seu toque
que, em muitos momentos, denuncia ecos de baileyanos. A gig foi registrada em
Birmingham, dois anos atrás, e é um exemplar bem vivo e intenso da cena free
impro europeia atual. A distribuição do disco está sendo feita da maneira mais
democrática possível: pague quanto quiser, com preço sugerido de US$ 8 (quem
não puder ou não desejar, por algum motivo, pagar pelo trabalho dos caras, ao
menos deveria ter a gentileza de deixar um muito obrigado...).
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MICHEL LAMBERT
“Journal des Episodes”
*Jazz form Rant
O baterista canadense Michel Lambert resolveu concretizar um
antigo projeto, revelado neste fino trio “Journal des Épisodes”. O álbum remete
a um projeto de Lambert do final dos anos 80, que estava destinado a ser uma
peça para orquestra sinfônica. Nunca levado a cabo, o plano foi engavetado por
esses anos todos, ressurgindo agora nesta versão reduzida para piano-baixo-bateria.
Dividido em 92 fragmentos (o menor conta com apenas 5 segundos!), o trabalho
busca nos ciclos diários da vida cotidiana sua inspiração, oscilando entre a
composição e intromissões improvisativas, resultando em uma envolvente peça que
demanda ser escutada em sua totalidade, para que se possa acompanhar sua
evolução e variações.
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ALÍPIO C NETO/ JEAN-MARC CHARMIER
“Lilies for Ra”
“Lilies for Ra”
*Terre Sommerse
O saxofonista pernambucano radicado na Itália se apresenta aqui
com um quinteto europeu. Registro de 2006, período em que Alípio ainda vivia em
Lisboa, traz o trompetista Jean-Marc Charmier como coautor. O álbum mostra a
face mais jazzística do trabalho de Alípio, com peças que se desenvolvem tendo o
diálogo entre os sopros seu núcleo – além de Charmier e Alípio, participa
ainda o saxofonista Joakim Rolandson. Atenção ao irresistível baixo de Torbjörn
Zetterberg.
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RAS MOSHE
“Outsight”
“Outsight”
*Straw2
O saxofonista americano Ras Moshe, 42, ainda recebe menos
atenção do que merece, talvez um pouco sombreado por tantos nomes de peso que
formam a cena novaiorquina, onde habita e faz sua música. Para este seu novo
trabalho, convocou oito músicos (tocam alternadamente), dentre esses o
violoncelista Daniel Levin e seu antigo parceiro Matt Lavelle, ao trompete. Destaque
para a contemplativa “Meditation for David S. Ware”, hino lírico em homenagem
ao grande saxofonista morto no ano passado.