Já alocados no Rio, onde desembarcaram há alguns dias, os músicos portugueses Rodrigo Amado e Gabriel Ferrandini se preparam para a primeira apresentação que farão no país, hoje no Audio Rebel (RJ). No sábado, estarão em São Paulo e domingo, em Santos. Depois, Rodrigo segue para Curitiba, onde participará do Ciclo da Fotografia Portuguesa no Brasil, ao lado de outros fotógrafos de seu país. Amado falou com o FreeForm, FreeJazz.
FF. Curiosamente você foi convidado primeiro para expor no
Brasil seu trabalho como fotógrafo e não como músico. Qual a importância da
fotografia em sua vida artística? Há pessoas que têm descoberto o Rodrigo Amado
saxofonista depois de conhecerem o fotógrafo?
“A fotografia tem ganho, de forma natural, uma importância
cada vez maior na minha vida. A nível artístico e pessoal, uma vez que para mim
é difícil estabelecer uma diferença entre as duas – é uma só vida. Neste
momento, considero-me simultaneamente músico e fotógrafo, e procuro uma
dinâmica onde uma actividade complementa e equilibra a outra. A música mais
como actividade social, onde a interacção e comunicação com os outros é tudo, e
a fotografia como um refúgio de solidão e tranquilidade. Dois registros
totalmente distintos que sinto funcionarem muito bem para mim.
“Sim, muitas pessoas têm chegado à minha música através da fotografia. E no sentido inverso também, claro. Essa foi uma das razões que me levou a fazer o meu próximo livro, intitulado “East Coasting or 86 Lost Classics”, onde um conjunto de imagens tiradas nos Estados Unidos são complementadas por uma lista de 86 álbuns que considero clássicos perdidos, sem que haja qualquer ligação formal entre imagens e música. Para mim, é fascinante pensar que há pessoas que vão entrar no livro através da música e outras através das imagens.”
“Sim, muitas pessoas têm chegado à minha música através da fotografia. E no sentido inverso também, claro. Essa foi uma das razões que me levou a fazer o meu próximo livro, intitulado “East Coasting or 86 Lost Classics”, onde um conjunto de imagens tiradas nos Estados Unidos são complementadas por uma lista de 86 álbuns que considero clássicos perdidos, sem que haja qualquer ligação formal entre imagens e música. Para mim, é fascinante pensar que há pessoas que vão entrar no livro através da música e outras através das imagens.”
FF. Você completa agora 30 anos de carreira. Em um momento em
que vive provavelmente o ápice de sua trajetória como músico, com parcerias de
grande importância, lançamento de vários álbuns e reconhecimento em diferentes
lugares do mundo, sente que seu trabalho como saxofonista ainda tem muito a
evoluir e se transformar? Quais desafios que a música ainda reserva para você?
“Espero que este não seja ainda o ápice. Continuo a ver as
coisas evoluírem com enorme rapidez, inclusive a minha forma de tocar. Ao ouvir
discos que gravei dois ou três anos atrás, fico impressionado com a forma como
o meu fraseado e pensamento se transformou. Claro que isso acontece, pois é
exatamente o que procuro... Essa transformação através da música que acaba
depois por contaminar toda a minha vida. É um processo incrível. Os desafios
são sempre os mesmos, colocar para fora, com a maior clareza possível, as
nossas emoções e pensamentos, aquilo que somos. Fazê-lo no saxofone ou noutro
instrumento qualquer, requer anos de experiência e uma evolução natural que não
se pode forçar. Temos apenas de nos manter fortes e atentos. E trabalhar muito.
Outro grande desafio, permanente, é conseguir continuar a fazer exatamente
aquilo que gosto; música e fotografia.”
FF. Portugal tem uma história mais antiga e viva com o free jazz/free
impro que o Brasil. Como está hoje a cena dedicada à free music em Portugal? A
crise econômica e social afetou a já difícil rotina dos músicos independentes?
“A crise tem afetado de forma brutal o dia a dia dos
criadores portugueses, seja na música ou outras áreas. No entanto, isso não é
suficiente para abafar a enorme vitalidade da cena free improv nacional. Acho
que nunca existiram tantos projectos, tantos músicos e locais para tocar como
agora. Ganha-se bastante menos dinheiro, mas os músicos têm mostrado uma
capacidade notável de adaptação, continuando a pensar em formas de apresentar a
música às pessoas. Essa é uma das vantagens da música sobre a fotografia – tem uma
dinâmica social própria que é impossível abafar.”
FF. O fechamento do Megaupload simbolizou um novo ataque da
indústria cultural à livre circulação (autorizada ou não) de trabalhos
artísticos que eram distribuídos por esse meio. Como músico, o quanto essa nova
realidade é nociva? Acha que a troca de arquivos de MP3 é um caminho para levar
a música independente a mais pessoas ou entende que essa forma é predatória e
atrapalha a vida dos artistas?
“Sempre fui a favor da divulgação livre da minha música. Mas
acho que essa é uma questão na qual respeito totalmente a opinião de cada um.
Trata-se no fundo da propriedade intelectual de cada um. No meu caso, acredito
que a troca de MP3 vai gerar uma maior notoriedade para a minha música,
trazendo pessoas aos concertos e fomentando inclusive a venda de CDs (aos
poucos que ainda o fazem, essa atividade arcaica de comprar CDs...). Aliás,
toda a internet é baseada nesse conceito; movimento e circulação é vida.”
FF. Você vai gravar um disco com o Grabriel Ferrandini aqui no
Brasil. Há encontros com músicos brasileiros planejados?
“Vamos gravar no estúdio da Audio Rebel. A nossa espectativa
é enorme, por um lado porque temos tocado muito em duo e sentimos que este é o
momento perfeito para gravar, e por outro porque sabemos que a energia do Rio
vai entrar na gravação. Só pode dar certo. Infelizmente, no meio de inúmeros
projetos em que estou a trabalhar atualmente, não houve tempo para procurar uma
ligação com músicos do Rio ou Sao Paulo. Gostaríamos muito e acreditamos que
durante esta semana que estamos no Rio isso ainda venha a acontecer.”
FF. Como é tocar no Brasil agora, pela primeira vez, após tanto tempo de estrada? O que falta para haver uma maior integração entre músicos portugueses e brasileiros?
“Para nós é absolutamente incrível esta oportunidade de
tocar no Brasil. Eu e o Gabriel partilhamos um enorme fascínio pela música
brasileira e esta viagem acaba por ter um lado mágico. A expectativa maior é
ver como toda essa energia vai afectar a nossa música. Se pensarmos em termos
de jazz de vanguarda/free improv, a comunicação entre as cenas portuguesa e
brasileira é muito fraca. Diria que é obrigatório melhorar isso. Poderia ser
algo de explosivo, uma maior influência brasileira nos sons improvisados que se
fazem deste lado. E o contrário também, claro.”
"RODRIGO AMADO e GABRIEL FERRANDINI Duo"
Quando: hoje (qui), às 20h30
Onde: Audio Rebel (Rio de Janeiro)
Quanto: R$ 10
Onde: Audio Rebel (Rio de Janeiro)
Quanto: R$ 10
Quando: 2/2 (sab), às 21h
Onde: Sesc Belenzinho (SP)
Quanto: R$ 24 (inteira)
Onde: Sesc Belenzinho (SP)
Quanto: R$ 24 (inteira)
Quando: 3/2 (dom), às 18h
Onde: Sesc Santos
Quanto: grátis
Onde: Sesc Santos
Quanto: grátis
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*Fotos: Rodrigo Amado
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*Tema: “Testify”, Motion Trio (Amado/Ferrandini/Mira), 2009.
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*Na edição de hoje do jornal Valor Econômico saiu uma matéria que fiz com o Rodrigo Amado.
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*Na edição de hoje do jornal Valor Econômico saiu uma matéria que fiz com o Rodrigo Amado.