Na atual cena portuguesa, vemos músicos veteranos (como
Carlos Zíngaro, com seus 62 anos) em meio a uma geração de peso nascida na
década de 60 (Rodrigo Amado, Hernani Faustino) e, também, um pessoal mais
jovem, que tem ajudado a revitalizar a free music no país. O baterista Gabriel
Ferrandini, nascido em 1986, é um dos que tem melhor representado esses novos
ares que mantêm o free impro e as cercanias do cenário jazzístico contemporâneo
português bastante vivos. Pela primeira vez, Ferrandini vai tocar no país, ao
lado do saxofonista Rodrigo Amado. Já desembarcado no Rio de Janeiro, onde se
apresentará na quinta, Ferrandini conversou com o Free Form, Free Jazz.
FF. Aos 26 anos você faz parte de dois dos mais destacados trios europeus (Motion Trio e Red Trio) e já teve a oportunidade de tocar com gente como Raymond Strid, Jeb Bishop, Rob Mazurek, John Butcher, Nate Wooley... Como se deu sua entrada no mundo da free music? Demorou para ser aceito e se destacar nesse meio?
"O free foi algo que veio do jazz. Eu já ouvia jazz há muito
tempo, desde novo, mas procurava sempre algo mais rápido ou mais
forte e quando conheci as pessoas da Clean Feed eles me apresentaram
alguns músicos e discos, fiquei imediatamente fascinado com
esta maneira de tocar. Tive muita sorte porque muitos músicos que
admirava e acompanhava os seus concertos se interessaram por minha linguagem e
rapidamente comecei a ensaiar e a dar concertos com eles. Aos 21, estava já
gravando e tocando em muitas gigs."
FF. Como chegou à bateria? Sempre quis ser um percussionista
ou passou por outros instrumentos antes? Quais bateristas foram importantes em
sua formação e no rumo de sua sonoridade?
"Sempre tive uma coisa por bateria e comecei a tocar e a
estudar por volta dos 13 anos de idade. Nunca toquei nenhum outro instrumento. Tem
muitos bateristas de que gosto, mas os que realmente me influenciaram foram os
do jazz, os da velha e da nova guarda. Os principais da velha foram o Tony
Williams, nos primeiros anos da carreira dele, Rashied Ali, Elvin Jones e
poucos mais... e os da nova, o Paul Lovens, Paul Lyton, Paal Nilssen-Love, Tony
Oxley e Chris Corsano. Claro que admiro e me inspiro em muitos bateristas
até de outras áreas, mas essses são os principais mesmo."
FF. Você tem família no Rio de Janeiro, mas essa é a primeira
vez que desembarca no país para se apresentar como músico. Já conhece a cena
musical brasileira? O que falta para haver um intercâmbio mais vivo entre os
músicos do Brasil e de Portugal?
"Minha família é confusa... o pai é português de Moçambique, mas
viveu no Rio e partiu para os EUA com 18 anos, onde conheceu a minha mãe, que é
carioca e tinha ido para os EUA com 16. Eu nasci lá [EUA] e fomos para Portugal
quando eu tinha 9 anos. Atualmente meu pai vive entre o Rio e
Portugal, mas eu e
minha mãe continuamos vivendo lá [em Portugal]. Sou super-mega-fã
de música brasileira, desde os clássicos até ao pessoal dos anos 70 e
80. A cena actual não conheço tão bem, mas a música brasileira é uma influência
brutal na minha vida, como humano e músico. Acho que aos poucos tem havido mais
intercâmbio e acredito que no futuro haverá mais... O problema é que estamos
muito longe e é dificil arranjar sempre condições boas para os múscios
pularem de um lado para o outro."
FF. Além de seu trabalho mais centrado na free improvisation,
você tem projetos em outros campos, como o "Hurricane" e o trabalho com o D’Incise,
que demonstram sua abertura para uma amplitude maior de sons. Como se organiza
o Gabriel ouvinte?
"Eu ouço de tudo mesmo, amo música e por isso o que me soar
eu topo! Ouço desde rock à música experimental. Como já disse, a música
brasileira é enorme para mim, principalmente o pessoal da velha bossa e afins.
Hoje na verdade ouço cada vez menos jazz... Há cerca de um ano que praticamente
só ouço rock e hip hop... Hip hop para mim tem sido uma das grandes inspirações
atuais na minha vida, músicos como o Knxwledge, Flying Lotus, Captain Murphy, o
pessoal da Odd Future, Mos Def, J Dilla, Madlib... tantos..."
RODRIGO AMADO e GABRIEL FERRANDINI Duo
Quando: 31 (qui), às 20h30
Onde: Audio Rebel (Rio de Janeiro)
Quanto: R$ 10
Onde: Audio Rebel (Rio de Janeiro)
Quanto: R$ 10
Quando: 2/2 (sab), às 21h
Onde: Sesc Belenzinho (SP)
Quanto: R$ 24 (inteira)
Onde: Sesc Belenzinho (SP)
Quanto: R$ 24 (inteira)
Quando: 3/2 (dom), às 18h
Onde: Sesc Santos
Quanto: grátis
Onde: Sesc Santos
Quanto: grátis
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