2012 tem sido um dos anos mais ativos da trajetória de Ivo
Perelman. Com o último conjunto de lançamentos, triplo, pela Leo Records, o saxofonista fecha o ano com a
colocação de seis novos títulos no mercado. Em meio a formações variadas, os álbuns trazem novas possibilidades sonoras à extensa obra de Perelman (que conta agora
com 42 trabalhos editados), além de parcerias até então inéditas.
Próximo à complementar o seu ciclo clariceano (ao menos, os livros-títulos homenageados caminham para o fim), Perelman
ampliou as visões amplas oferecidas pelo quarteto que reuniu para registrar em
2010 “The Hour of the Star” (com Mathew Shipp, Joe Morris e Geral Cleaver). Os
novos lançamentos trazem esses músicos em formações sortidas, acompanhados
também de outros instrumentistas.
O novo Living Jelly repete o trio de "Family Ties" – Perelman, Cleaver
e Morris. Mas tem uma diferença vital: Morris troca o baixo, com o qual vinha
gravando com Perelman, pela guitarra. A única vez em que Morris havia tocado
guitarra com Perelman antes ocorreu no longínquo 1997, quando foi registrado o disco
“Strings”. Mas naquele álbum foi Ivo que deixou seu instrumento habitual de
lado, substituindo o sax pelo violoncelo. Agora, sim, podemos sentir a esperada
interação de sax e guitarra. E o resultado é fantástico. Logo no tema de
abertura, “In Pursuit of Pleasure”, Morris tem espaço para solar longamente e exibir
lampejos luminosos que só de sua guitarra ecoam. Na sequência, “Playing with
Mercury” (abaixo) esquenta o processo, com o trio encontrando alguns dos momentos de
interação mais expressivos do trabalho. Quem estiver por Nova York, poderá ver esse trio ao vivo amanhã, no Nublu
Jazz Festival...
Nos outros dois álbuns, Perelman se une a Matthew Shipp e convoca dois novos parceiros com quem não havia gravado ainda. Em The Gift, quem completa o trio é o baixista Michael Bisio. Em The Clairvoyant, o convidado é o baterista Whit Dickey. A entrada desses novos parceiros refresca os rumos compartilhados por Ivo e Matthew, propiciando outras textutas e colorações. Dickey já trabalhou muito com Shipp, no quarteto de David S. Ware e em seus próprios conjuntos. Bisio também deve ter sido apresentado a Ivo por Matt – o trio que gravou “Art of the Improviser”, lançado por Shipp no ano passado, trazia exatamente Dickey e Bisio.
A variedade de instrumentação dos três discos traz
experiências artísticas diversas, mas complementares. The Gift é o mais
introspectivo, até mesmo pela sua formação (sax-piano-baixo). E em meio a divagações improvisativas
que atravessam as peças, é possível se deparar com o delicioso jogo sonoro da
faixa-título. Com um singelo tema que parece ter sido tirado do cancioneiro
infantil, Shipp abre “The Gift” e enreda o ouvinte em uma circular e
perturbadora cadência; o sax acaba entrando na brincadeira, resgatando à sua
maneira o tema em meio a um divertido processo de expõe-esconde, gerando uma
leveza que acaba por ser bruscamente rompida na sequência por “The Gratuitous Act”, a mais
soturna faixa do conjunto.
The Clairvoyant talvez possa ser colocado ao centro da trilogia, sendo o álbum que faz a ponte entre a maior contemplação de The Gift e a voltagem mais abrasiva de Living Jelly.
The Clairvoyant talvez possa ser colocado ao centro da trilogia, sendo o álbum que faz a ponte entre a maior contemplação de The Gift e a voltagem mais abrasiva de Living Jelly.
Matthew Shipp resume com precisão a experiência que nos
oferece os discos ao pontuar no encarte:
“The music we make together is like taking a journey through
an enchanted forest - there will be some pretty wild vegetation, and along the
way, some never-before-seen trees and flowers saturating the air with fresh
fragrance, not to mention some hybrid species that are new to the listener, but
they will become one with the music and chart their own course through this
wild organic forest.”