ICP Orchestra: processo colaborativo em ebulição


Logo mais, um dos ícones da cena free europeia estará ao vivo nas redondezas: ICP Orchestra, no CCSP.
É dos tempos primordiais do free europeu que o ICP (Instant Composers Pool) brotou. Tendo à frente o pianista Misha Mengelberg, o percussionista Han Bennink e o saxofonista Willem Breuker (1944-2010), o ICP começou a se constituir lá para 1967. O nome vem do termo criado por Mengelberg, “Instant Composing”, para nomear o som que então desenvolviam, deixando explícito que novos rumos ali se abriam, já não estritamente ligados ao free jazz americano. Complementando a expressão criada para situar essa arte nascente, foi adicionado “Pool”, trazendo a ideia de cooperativa, de processo colaborativo, que rondava o fresco projeto. O ICP não se constituiu como um grupo propriamente, mas sim como um núcleo criativo (e paralelamente um selo) que gestou discos e concertos utilizando as mais variadas formações, de duos e trios a pequenas orquestras. Muitos nomes fundamentais do mundo free se juntaram ou colaboraram com o ICP: Peter Brotzmann, Derek Bailey, Evan Parker, John Tchicai, Alan Silva... E vários clássicos nasceram pelo selo ICP, como “New Acoustic Swing Duo” (67) e “Groupcomposing” (70). Curiosamente, os três idealizadores do ICP (Mengelberg, Bennink e Breuker) não chegaram a deixar registro com eles atuando em trio. Em 73, em busca de novos rumos artísticos, Breuker se afastaria do ICP para fundar o seu grupo “Kollektief”, com o qual estruturaria o principal de sua obra nas décadas seguintes.

Após a saída de Breuker, Mengelberg e Bennink tentaram organizar um grupo mais constante em torno do “Pool”. Foi dessa idéia que primeiro nasceu o “ICP Tentet”, que se desdobraria, um pouco mais à frente, na “ICP Orchestra”. Sob este nome, surgiu o registro primeiro em 79, o “Live in Soncino”. Ao lado de Misha e Han, novos instrumentistas se juntaram. Naquela gravação inicial, destacam-se os italianos Enrico Rava e Giancarlo Schiaffini. Após um esfriamento do projeto da ‘Orchestra’ durante os anos 80, um novo impulso veio em meados da década seguinte, momento do qual há um forte registro, “Jubilee Varia” (97), que saiu pela gravadora suíça hatOLOGY. Neste álbum de renovação já estão presentes alguns dos europeus, representantes da geração seguinte à dos pioneiros, como os saxofonistas Ab Baars e Michael Moore, que também estão no Brasil. Na última década, a ICP Orchestra tem trabalhado mais ativamente, excursionando e gravando.

O som da ICP Orchestra opera em uma voltagem de grande amplitude: improvisação livre dialogando com pontos compostos; ruidosidade em meio a melodias swingantes; algo de jazzístico, de camerístico (especialmente na formação atual com celo, viola e violino), de banda de rua, de grupo de free, tudo acoplado em um painel conduzido, em última e tênue instância, pelo piano de Mengelberg e a percussão de Bennink.
Um testemunho vital do "ICP Tentet", dos anos 70, que não voltou a ser reeditado, é “Tetterettet”. Registro de setembro de 1977, Tetterettet traz um grupo que contava com figuras conhecidíssimas, como Brotzmann, Alan Silva e Tchicai, em meio a instrumentistas menos lembrados, como o trombonista Bert Koppelaar e o saxofonista Peter Bennink (os fãs de Brotzmann devem ir direto ao começo do lado B do disco. É lá que ele se faz mais presente). O conjunto sonoro que compõem as duas faces do vinil de Tetterettet mostra a amplitude musical do ICP, oferecendo aos iniciantes (no grupo) um panorama bastante claro do trabalho que é desenvolvido por eles. Uma introdução à altura do universo ICP.


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"ICP Orchestra em São Paulo":

*Show
Quando: 22 (sab); às 20h
Onde: Centro Cultural São Paulo
Quanto: grátis

*Oficina/Workshop
Quando: 23 (dom); das 16h às 19h
Onde: Centro Cultural São Paulo
Quanto: grátis

*Encontro com o pessoal do Circuito de Improvisação Livre
Quando: 25 (ter); às 20h
Onde: Trackers (http://trackers.cx)
Quanto: ?

*Encontro com o pessoal do Circuito de Improvisação Livre
Quando: 26 (qua); às 20h
Onde: Puxadinho da Praça (Vila Madalena)
Quanto: ?