Em maio de 2009, Matana Roberts subiu ao palco do Sesc Vila
Mariana. Muitos que estavam presentes talvez não se recordem. É que a
saxofonista estava escondida em meio a outras figuras de força (e todos sombreados
pelo convidado especial Roscoe Mitchell) que puseram a Exploding Star Orchestra
de Rob Mazurek em ação naquela noite. Com mais de uma década de carreira,
Matana –nome que significa ‘presente’ em hebraico– teve em 2011 provavelmente
seu ano mais especial, embalada pela grande repercussão do álbum “Coin Coin.
Chapter One: Gens de couleur libres”, que abriu nosso Top 10 anual de 2011.
Filha de um fã de free jazz, que a apresentou aos grandes do
gênero (“I grew up on that type of music, my dad is a huge Sun Ra, Albert
Ayler, Archie Shepp, David Murray, Cecil Taylor, Alice Coltrane etc etc etc fan”),
Matana nasceu em Chicago, 33 anos atrás. Associada à mítica AACM, primeiro se
dedicou a estudar clarinete clássico, passando depois ao sax alto (sugestão de
um professor), mergulhando no mundo da free music e migrando, na virada dos
90/00, para NY. Com seus 20 e poucos anos, se tornou próxima de Jeff Parker e
Fred Anderson (1929-2010), que a levou para tocar em seu ‘Velvet Lounge’.
Sua primeira investida de destaque foi o trio “Sticks and Stones”, formado com Chad Taylor (bateria) e Josh Abrams (baixo), com o qual estreou em disco homônimo em 2002. Colaborações com Joe Maneri, Don Byron, Steve Lacy, Nicole Mitchell, Peter Brotzmann, Tony Malaby, Ravi Coltrane, Ras Moshe e Guillermo E. Brown viriam à frente.
Sua primeira investida de destaque foi o trio “Sticks and Stones”, formado com Chad Taylor (bateria) e Josh Abrams (baixo), com o qual estreou em disco homônimo em 2002. Colaborações com Joe Maneri, Don Byron, Steve Lacy, Nicole Mitchell, Peter Brotzmann, Tony Malaby, Ravi Coltrane, Ras Moshe e Guillermo E. Brown viriam à frente.
A saxofonista passou a assumir o espaço de líder e tocar de
forma mais centrada e pessoal suas ideias em anos recentes, editando os álbuns
“Lines for Lacy” e “The Calling” (2006), “The Chicago Project” (2008) e “Live
in London” (2011). Agora abraçou seu projeto mais importante: o work-in-progress
“Coin Coin”, uma serie de peças (estão previstos doze capítulos, além de
instalações pontuais utilizando material musical já criado) nas quais a
instrumentista e compositora desenvolve e homenageia sonora e teatralmente suas
raízes, fincadas na história de uma família afro-americana que atravessa dez
gerações. “Coin Coin” era o apelido de Marie Therese Metoyer (1742-1816), uma
parente distante dos Roberts que viveu como escrava parte de sua vida,
tornando-se, depois de liberta, figura lendária. “The name of this project is
called Coin Coin and it is named after the "nickname" of a woman who
played a big part in the ability of my family's survival. I am dividing the
anecdotes and history of my family into musical chapters of a sort that are
represented by different ensemble configurations. My hope is that one day I
will be able to perform the entire narrative with the different ensembles as
one large "life cycle". But for now I have been performing the
different chapters in separate performances”, explica a compositora.
Matana não é propriamente uma improvisadora livre; gosta de lidar
também com composição e escrita, jazz, free, pós-rock, blues e spoken word. Sua
música absorve e emite todo esse caldeirão referencial, sendo Coin Coin a
síntese de tudo que fez e que aspira fazer, onde podemos apreciar seu sax alto
rasgando solos nervosos ou se perdendo em ritmos sedutores ou percorrendo
melodias bailantes. Tudo está lá, integrado, realizado com justeza. A música de
Coin Coin se espalha por notações gráficas, improvisação, técnicas jazzísticas,
gêneros musicais tradicionais específicos ligados à temática de cada capítulo,
‘spoken narrative’ e um pouco de canto. “I do the work I do because it is a way
for me to deal with creating meaning for my own life whilst at the same time
being in direct service to others ... in the form of inspiration and thought
provocation through musical sound that is representative of my own personal
ideas, dreams and desires.”
O projeto Coin Coin está no auge criativo e vai
desenvolvendo seus capítulos em concertos mundo afora, sempre com variação nos
músicos convidados. O Capítulo 1 (“Gens de Couleur Libres”), foi editado em CD
neste ano, pela Constellation Records, trazendo um amplo grupo de 15 artistas,
com canto, sopros, percussão e cordas.
O Capítulo 2 (“Mississippi Moonchile”), ainda inédito em CD,
teve sua estréia documentada pela rádio WBGO em junho de 2010 e retransmitida
pela NPR Music. Segundo a autora, o capítulo 2 é focado nas raízes paternas
dela, ligadas ao Mississippi, e com forte uso do blues. A peça foi interpretada
por um sexteto e se estende por 59 minutos.
“Coin Coin. Chapter 2: ‘Mississippi Moonchile’”
*Matana Roberts: alto, voice
*Shane Endsley: trumpet
*Hill Greene: bass
*Shoko Nagai: piano
*Tomas Fujiwara: drums
*Jeremiah: voice
Recorded live at WBGO FM, Jun. 24, 2010.
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"MATANA ROBERTS"
Quando: 1/9 (sáb), às 21h
Onde: Sesc Belenzinho (SP)
Quanto: de R$ 6 a R$ 24
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