Quem tem medo de Peter Brötzmann? (V)


Não são poucos os músicos de relevo que tiveram filhos desenhando também sua trajetória no mundo artístico-sonoro, com resultados por vezes tão (ou menos, claro) interessantes que seus genitores. Apenas pensando em uma seara próxima, não faltam exemplos: Ornette e Denardo Coleman; Dewey e Joshua Redman; Karlheinz e Markus Stockhausen; Thelonious e T.S. Monk; Von e Chico Freeman; Don e Neneh/Eagle-Eye Cherry; John/Alice e Ravi Coltrane. Adensando essa lista, estão lá também Peter e Caspar Brötzmann.

Nascido em dezembro de 1962 em Wuppertal, quando Peter Brötzmann tinha apenas 21 anos e ainda tateava o caminho que sedimentaria sua história futura, Caspar se tornou guitarrista e optou por não seguir a linhagem free improv/free jazz que fez de seu pai uma das figuras mais destacadas da música contemporânea. Sem querer correr o risco de ficar à sombra paterna, Caspar se embrenhou por certa seara rocker de expressão mais arisca. Em seu percurso, iniciado profissionalmente nos anos 80, destaca-se o grupo “Massaker”, power trio que fez sua celebrada gravação de estreia, “The Tribe”, em 1987. A banda teve sucesso no underground até os anos 90, quando seus integrantes buscaram novos ares. Mesmo atento ao campo rocker mais avant e noise, Caspar nunca procurou se misturar com o mundo sonoro de Peter, tendo tido poucos encontros com o universo free. Algumas de suas parcerias que merecem atenção são a com o percussionista F.M. Einheit, da lendária banda industrial Einstürzende Neubauten, com quem gravou “Merry Christmas” (94); e com o também guitarrista Page Hamilton, com quem editou “Zulutime” (96). Nesta noite (exatamente hoje, 21/07!), Caspar tem agendado um concerto no “A-Larme Festival”, na Alemanha, ao lado de Marino Pliakas e Michael Wertmüller, parceiros de seu pai no Full Blast. No mesmo festival, Peter tocará com Keiji Haino...



Pai e filho, Peter e Caspar Brötzmann, se encontraram em estúdio somente uma vez, em agosto de 1990, quando gravaram o álbum Last Home. O disco mostra o quanto de sintonia os Brötzmann eram capazes de gerar, como se parceiros antigos de free improvisation fossem. Caspar se filia a uma linhagem de guitarras que muito deve a figuras como Haino e Takayanagi, fazendo de seu instrumento uma máquina de ruidosidade de múltiplos ecos e cores, entre os quais o sopro de Brötz chafurda, se dilui e se acopla para destilar duos fulminantes de imensa energia. Basta uma ouvida em temas como "Yazzihamper", "Die Saurier Die" e "Little man in the boat" para sentir a tensa sonoridade exibida pela dupla. Enquanto Peter se reveza nos saxofones (bass/tenor), clarinete e tarogato, Caspar trabalha sua guitarra elétrica, cheia de efeitos e ruídos. Last Home apareceu em 1990 em vinil e CD, para depois ser esquecido, jamais resgatado.
O motivo de os Brötzmann nunca terem voltado a se reunir após o resultado do encontro ter sido tão potente?  Sabe-se lá, coisas de pai e filho...