Chick Corea já foi um cara inquieto. Já deixou a música
acontecer de forma solta, sem comodismo ou ambição de apenas angariar mais um
Grammy para a estante.
O núcleo do Corea aberto a novas possibilidades artísticas brota em uma etapa focada na virada dos 60/70, em meio e notadamente após sua participação nos clássicos de Miles Davis “In a Silent Way” (fevereiro de 69) e “Bitches Brew” (agosto de 69). Corea nunca chegaria a se tornar um típico improvisador livre, mas teve lá seus arroubos. Seu álbum “Is”, de 69, apresenta na faixa-título, com seus 29 minutos de extensão, uma desenvoltura free impro consistente. Ainda nessa seara, vale conferir os dois volumes solistas “Piano Improvisations”, de 71, que apresentam um improvisador de imaginação econômica, mas de viva inventividade. Nesse processo, parece que o mergulho no grupo free-fusion de Miles em 69-70 acabou por se revelar fundamental para o que viria logo a seguir: o quarteto Circle.
O núcleo do Corea aberto a novas possibilidades artísticas brota em uma etapa focada na virada dos 60/70, em meio e notadamente após sua participação nos clássicos de Miles Davis “In a Silent Way” (fevereiro de 69) e “Bitches Brew” (agosto de 69). Corea nunca chegaria a se tornar um típico improvisador livre, mas teve lá seus arroubos. Seu álbum “Is”, de 69, apresenta na faixa-título, com seus 29 minutos de extensão, uma desenvoltura free impro consistente. Ainda nessa seara, vale conferir os dois volumes solistas “Piano Improvisations”, de 71, que apresentam um improvisador de imaginação econômica, mas de viva inventividade. Nesse processo, parece que o mergulho no grupo free-fusion de Miles em 69-70 acabou por se revelar fundamental para o que viria logo a seguir: o quarteto Circle.
Nascido como desdobramento do trio que o pianista reuniu com
Dave Holland (baixo) e Barry Altschul (bateria) –que deixou como principal
testemunho o disco “A.R.C.” –, o Circle adicionou o mago dos sopros Anthony
Braxton e marcou sua curtíssima história, concentrada nos anos 1970 e 1971, com
alguns preciosos registros. Críticos, como Todd S. Jenkins, afirmam que o
quarteto não seguiu adiante devido às diferentes expectativas e projetos que
moviam Corea – um instrumentista que nunca esteve disposto a enveredar sem medo
pelas vielas da free music – e Braxton, ícone máximo da música criativa sem
concessões.
Muitos conhecem o Circle pela sua mais difundida gravação,
“Paris-Concert”, captada em fevereiro de 71 e lançada pelo selo ECM –este álbum
teve inclusive uma edição nacional em vinil duplo nos anos 80. Antes e depois
desse registro, o quarteto esteve em estúdio e palcos pelo mundo, dos quais
surgiram outros testemunhos. Um problema é que difusão nunca esteve entre o forte
do projeto: exemplo: “Circle 1: Live in Germany” e “Circle 2: Gathering”, dois importantes
registros, foram lançados à época apenas no Japão e permaneceram por cerca de duas
décadas sem receberem uma nova edição – infame curiosidade: quando apareceram
em CD, traziam estampado destacadamente o nome de Corea na capa, como se de um
trabalho apenas dele se tratasse. Outro disco que foi editado como pertencente
à discografia de Corea, mas que traz em seu núcleo o Circle em ação, é “Circulus”,
que apareceu no mercado apenas depois do fim do grupo, em 78 –época em que o
pianista já era muito famoso devido à sua exitosa incursão fusion. É curioso
que o “Return to Forever”, grande trunfo fusionista de Corea, tenha sido
formado em 72, logo após a dissolução do Circle. Ambos projetos revelam universos
sonoros tão distintos, mesmo estando temporalmente tão próximos, que parece
inevitável: se o “Return” tinha de nascer, o “Circle” tinha, de fato, que ser
deixado para trás: como conciliar propostas tão marcadamente diferentes?
Nos dois concertos que fará no país nos próximos dias, Corea virá em formato trio, com seu antigo parceiro de “Return” Stanley Clarke e com um sabor, ao que tudo indica, fusionista. Não à toa, Corea aproveitou a onda revival, que há alguns anos alimenta a cena rock/pop, para ressuscitar o “Return” e fazer um troco mais... Obviedade: sem chances de o pianista resvalar no palco do BMWFestival com seus momentos de grandeza free-Circle...
Nos dois concertos que fará no país nos próximos dias, Corea virá em formato trio, com seu antigo parceiro de “Return” Stanley Clarke e com um sabor, ao que tudo indica, fusionista. Não à toa, Corea aproveitou a onda revival, que há alguns anos alimenta a cena rock/pop, para ressuscitar o “Return” e fazer um troco mais... Obviedade: sem chances de o pianista resvalar no palco do BMWFestival com seus momentos de grandeza free-Circle...
O quarteto Circle pode não representar a fase mais relevante
dentro da trajetória de nenhum de seus integrantes. Mas desvela música com verdadeiros pontos
expressivos, com desenvolvimentos longos e espaço para todos instrumentistas
divagarem, improvisarem e criarem diálogos de fôlego. O repertório era formado
por temas dos integrantes (não necessariamente feitos para o grupo) e algumas desmembrantes
releituras de clássicos como “Nefertiti” (Wayne Shorter) e “There Is No Greater
Love” (Marty Symes e Isham Jones).
Em concerto registrado em 1971, em Hamburgo, que nunca
recebeu edição oficial, o quarteto estava bem armado para apresentar um show
com música realmente forte em amplas roupagens. Energy music pode ser saboreada
em “Composition 6I”, tema de Braxton no qual o saxofonista desconcerta munido
de sua expressão mais arisca. “Toy Room” mostra outra pegada, algo mais free
bop, com o piano de Corea sintonizado à sua sonoridade característica. Para
quem conhece ou não o quarteto, fica a oportunidade de ouvir música feita em um
momento histórico de ebulição criativa elevada, em que mesmo músicos que se
revelariam mais contidos no futuro estavam abertos a um mundo de inquietação
artística sem barreiras.
“Circle - Live
at Jazzhaus/1971”
*Chick
Corea: piano
*Anthony
Braxton: saxes
*Dave
Holland: bass
*Barry
Altschul: drums, percussion
1. Composition
6A (23:12)
2. Rhymes
(8:14)
3. Toy Room
(6:07)
4. Q&A
(12:27)
5. Composition
6I (22:58)
6. Composition
6F (10:25)
7. There Is
No Greater Love (25:02)
Recorded live
at Jazzhaus (Hamburg, Germany) in March 4, 1971.
Broadcast by NDR - Norddeutscher Rundfunk.