Experimentar sons, não “fazer música” (ao menos não em seu
sentido usual). Esse foi o rumo que sempre guiou a trajetória de Jeph Jerman, desde meados
de 1980, quando colocou seu primeiro projeto, “Hands To”, em ação. Bateria,
guitarra, percussão variada, tape, eletrônicos, Jerman direcionou suas
investigações a diversos modos de expressão. Chegou a desenvolver trabalhos percussivos apoiado em pedras, madeira, cascalhos e outros elementos naturais, na melhor 'escola Han Bennink' de criar sons. Apesar de ter a improvisação como
foco, o músico não se envolveu diretamente com o pessoal mais conhecido da free
improvisation (tem alguns registros com os saxofonistas Wally Shoup e Paul
Hoskin, por exemplo); lidou com artistas de outras margens, tendo em nomes como Tim Barnes e
Greg Davis parceiros mais assíduos. Sobre seu trabalho, explica o músico:
“I find that most of my work
nowadays is sound-based. I believe this is due to my growing interest in
listening, in what happens when one listens, and my concomitant disinterest in
contextualizing sound.”
Um de seus cultuados projetos, dentre muitos que já
executou, atendia por Blowhole. Surgido em 87 e sobrevivendo por cerca de uma
década, o Blowhole praticava improvisação livre e deixou como uma de suas
marcas a revisitação cínica a estilos e vivências musicais que rondavam os
artistas envolvidos. O Blowhole lançou ao menos umas três dezenas de títulos durante
sua existência, boa parte disso apenas no formato k7, quase tudo
perdido na gaveta das raridades de pouco valor (não artístico, financeiro: quando
alguns dos vinis do grupo aparecem em lojas virtuais, não costumam se
distanciar muito dos US$ 10...).
Uma olhada nos títulos de alguns álbuns do Blowhole dão
uma idéia do tom do grupo, a ver: “Free Metal”; “Killing Noise”; “A Love Extreme”. E
seu rebento mais conhecido: “Guerrilla Jazz”. Algumas iconoclastas versões de
clássicos também podem ser encontradas em gravações do grupo, como “Are You Experienced ?” (Hendrix), “Can You Please Crawl Out Yr
Window ?” (Dylan) e “Ghosts” (Albert Ayler). Noise, free impro, colagens, intervenções
eletrônicas e alguma guitarreira rocker estão entre os elementos explorados por
Jerman e seus parceiros nesse projeto, que começou como experiência solo, mas
adquiriu participantes (fixos e avulsos) com o tempo. No começo da década de 90, por exemplo, Patrick Barber, Scott
Hiller, Daniel Barber e Phil Rodriguez ajudavam rotineiramente Jerman a dar corpo e peso ao
Blowhole, que se diluiu pela distância (os músicos se estabeleceram aos poucos em cidades
diferentes) e por novas buscas ansiadas por Jerman, que ainda mantém intensa agenda
criativa no Arizona, onde vive há tempos.
Este Guerrilla Jazz apareceu em 1990 e contava com Jerman
comandando quase tudo que se ouve nas breves (em sua maioria) faixas que
compõem o conjunto. Colaborações de Darren Soule, no trompete (protagonista
apenas no tema ‘Control Group’, de fatura mais melancólica, com o sopro
deslizando sobre uma bateria fraturada: pena que a peça seja tão curta...), e Dave
Montgomery, à percussão, estão creditadas. Guerrilla Jazz não tem nada de
jazzístico e nem mesmo a leitura do ícone ayleriano "Ghosts" conduz o grupo a um
campo propriamente ‘free jazz’. Fruto do desejo de um músico distante de rótulos,
regras, mídia ou igrejinhas artísticas, o Blowhole merecia algumas reedições
que pudessem apresentar sua intrigante sonoridade a um público verdadeiramente
ávido por novidades – e não hypes da estação. Mas fica a dúvida: Jerman está
interessado em resgatar esse seu momento criativo?
Recorded
Jan-Feb 1990. Originally released on cassette by Big Body Parts.