Há quem ache exagero falarmos de uma atual cena de improvisação livre, que estaria sedimentando lentamente suas bases em SP. E talvez faltem, de fato, elementos constantes e sólidos para rotularmos o que temos visto crescer mais intensamente desde 2010 como propriamente uma cena... Mas além dos sempre citados e acompanhados concertos de nomes internacionais centrais dessa estética artística, cada vez mais habituais –outra palavra talvez exagerada!–, estamos presenciando a lenta abertura de outros espaços, além de CCSP e Sesc, à free music, o que demonstra uma melhora na recepção desses sons. Em paralelo, e tão importante quanto esses outros pontos, têm surgido novos grupos e projetos destinados a executarem e revitalizarem a música livre.
O Mnemosine 5 é um dos novatos desses tempos, reunindo jovens instrumentistas que se encontraram nas vitais oficinas promovidas pelo CCSP.
Biaggio Vessio (guitarra), Vagner Pitta (violino), Romulo Alexis (trompete), Luiz Gubeissi (baixo) e Marcos Motta (bateria) se uniram em 2011 para dar início ao grupo. Em menos de um ano, fizeram sua estreia pública, prepararam um disco (que sai agora) e, o mais importante: demarcaram com precisão uma identidade própria. Ouvi-los em ação remete direta e inevitavelmente ao mundo da free improvisation européia. Mas o projeto "Mnemosine 5" inclui mais do que apenas elementos da improvisação desenvolvida na Europa especialmente a partir dos anos 1970. O violinista Vagner Pitta explicou em texto no Farofa Moderna alguns traços que se unem para tecer o som do grupo: “(...) técnicas estendidas (técnicas não convencionais de usar os instrumentos), frases livres no âmbito do free jazz, ritmos brasileiros, música minimalista, psicodelia, camadas harmônicas entre música tonal e atonal, efeitos timbrísticos e influências do movimento europeu da free improvisation são alguns desses ingredientes”. Eu adicionaria também alguma pitada rocker, que pode ser notada na guitarra de Vessio nas peças “Arame Venoso” e “O Sanatório Clepsidra”.
Biaggio Vessio (guitarra), Vagner Pitta (violino), Romulo Alexis (trompete), Luiz Gubeissi (baixo) e Marcos Motta (bateria) se uniram em 2011 para dar início ao grupo. Em menos de um ano, fizeram sua estreia pública, prepararam um disco (que sai agora) e, o mais importante: demarcaram com precisão uma identidade própria. Ouvi-los em ação remete direta e inevitavelmente ao mundo da free improvisation européia. Mas o projeto "Mnemosine 5" inclui mais do que apenas elementos da improvisação desenvolvida na Europa especialmente a partir dos anos 1970. O violinista Vagner Pitta explicou em texto no Farofa Moderna alguns traços que se unem para tecer o som do grupo: “(...) técnicas estendidas (técnicas não convencionais de usar os instrumentos), frases livres no âmbito do free jazz, ritmos brasileiros, música minimalista, psicodelia, camadas harmônicas entre música tonal e atonal, efeitos timbrísticos e influências do movimento europeu da free improvisation são alguns desses ingredientes”. Eu adicionaria também alguma pitada rocker, que pode ser notada na guitarra de Vessio nas peças “Arame Venoso” e “O Sanatório Clepsidra”.
“O Mnemosine 5 surgiu no segundo semestre de 2011, enquanto participávamos das oficinas de improvisação livre do CCSP. Após um certo tempo de estúdio e entrosamento gravamos o nosso primeiro disco. Infelizmente, depois da gravação, o Luiz Gubeissi saiu do quinteto, dando lugar ao baixista Alex Dias, do Projeto Nave, que segue firme e forte no grupo. Em janeiro de 2012, fizemos nosso primeiro show no evento Casa Pelada”, disse ao Free Form, Free Jazz o guitarrista Biaggio Vessio.
Todos elementos citados por Pitta, e outros que o ouvinte possa vir a descobrir, servem de estímulo e base para a improvisação livre: esse é o norte e o escopo do projeto. Não se trata aqui de composições ou releituras, e isso é importante frisar, pois o grupo demonstra grande coesão e dinâmica harmônica, não há sobreposições caóticas nem momentos de atropelamento anárquico: fica claro que todos se ouvem e permitem que os outros sejam escutados, o que faz com que a música soe precisa e equilibrada mesmo nos momentos de liberdade mais extremada. É interessante o fato de termos em ação três instrumentos de cordas –os muitos embates entre as cordas protagonizam temas como “Engavetamento” e “Arame Venoso” –, sem que isso deixe o som do quinteto camerístico: as cordas são tratadas de modo livre em todos aspectos, o que ajuda a reinventar o diálogo entre elas e os outros instrumentos.
“Todas as músicas são improvisadas, exceto o primeiro riff da faixa ‘Cactos em Dunas’, que eu já tinha composto, porém, não mostrei a ninguém do quinteto, somente no momento do improviso. Na faixa ‘Carste’, usamos uma dinâmica comum na improvisação, que só altera a ordem de entrada dos músicos. Nas demais faixas não ocorreu nenhum tipo de intervenção.
“Eu sempre digo que é somente improvisação e que a nossa liberdade consiste em expressar todas as nossas influências de maneira espontânea, sem que isso nos prenda demasiadamente a um gênero ou que interfira em nossa investigação musical. Mas essa é a minha opinião, os outros membros do grupo devem ter as suas versões”, explicou Biaggio.
O ábum de estréia do Mnemosine 5 apresenta temas que se desenvolvem de forma bastante direta, com foco na improvisação coletiva, sem destaques solistas, rodeios sem rumo ou divagações intermináveis –que muitas vezes dão mais prazer aos músicos que ao público. Apenas “Carste” se estende de forma dilatada, com seus mais de 9 minutos e, não à toa, acaba por ecoar como a mais abstrata e densa do conjunto: após uma introdução do violino (acompanhado por intromissões ruidosas), temos o salto a primeiro plano do trompete, sutil, sem ataques, em uma dinâmica que se mantém até próximo do minuto quarto, quando o corpo sonoro vai se adensando gradativamente, com o fortalecimento percussivo e o explosivo desfecho reservado aos dois minutos finais. Uma das antíteses de “Carste” é “Zamba”, que já nasce incendiada com a bateria de Motta e se desenvolve com poucos pontos de sutileza auditiva.
Ouvir o disco de estréia do Mnemosine 5 deixa clara a maturidade e a inventividade do quinteto: não é sempre que um grupo surge já com uma sonoridade pronta, sem ecos de influências (negativamente) explícitas, sem a necessidade de se agarrar a referências consagradas ou a rótulos pouco elucidativos.
Ouvir o disco de estréia do Mnemosine 5 deixa clara a maturidade e a inventividade do quinteto: não é sempre que um grupo surge já com uma sonoridade pronta, sem ecos de influências (negativamente) explícitas, sem a necessidade de se agarrar a referências consagradas ou a rótulos pouco elucidativos.