Primeiro começou a especulação com o nome de John Zorn, ainda em dezembro. Semanas se passariam até que algo se confirmasse, sim, o saxofonista viria ao Brasil em março. Logo depois: estaria acompanhado do Masada. Local: o moderninho Cine Joia. Masada no Cine Joia? No mínimo estranho, deslocado talvez (ou teremos a grata surpresa de o Cine Joia se abrir ao avant-jazz?)... se ao menos fosse o “electric Masada”, mas não, tratava-se do “classic Masada”. Dúvida inicial: será que os responsáveis pela contratação do Zorn estavam pensando no Masada mesmo ou apenas tinham a missão de convencer o “radical saxofonista que apavorou o jazz e chafurdou no rock” a vir ao país? Vendo depois que o evento contava com a parceria do Centro da Cultura Judaica, pareceu que não houve equívocos. Afinal, o Masada celebra a “radical new jewish music”, busca o encontro entre o klezmer e o jazz livre. Mesmo assim, equívocos devem marcar o espetáculo, com boa parte do público curiosa para presenciar o rebelde do sax, o avant-garde screamer, e se deparando com um som (de primeira, sim, mas) relativamente comportado e organizado, free bop sem arestas, nada de sujo e agressivo, nada de rock ou experimentação no limite (para isso teríamos de ter o prazer de presenciar outros grupos de Zorn; destaque-se os já falecidos PainKiller e Naked City).
John Zorn é dos músicos mais difíceis de se conhecer de fato, dada a amplitude de suas investidas. Aos 58 anos, o saxofonista norte-americano já deve contar com mais de 150 álbuns editados, em projetos tão variados que oscilam entre (ou misturam) sonoridades vindas do jazz (free, bop, improv), do rock (grindcore, RIO, punk), da cultura judaica (klezmer), eletroacústica, erudito, improvisação livre, trilha sonora etc. Tanto que se alguém provar apenas de uma ou outra de suas mais relevantes criações –Masada (que tem diferentes encarnações com resultados díspares), PainKiller, Cobra, Naked City, ‘Film Works’, ‘Game Pieces’, ‘Chamber Music’, discos solistas, parcerias com free improvisers vários–, terá somente uma impressão parcialíssima de sua obra, que teve seus primeiros registros em 1973. Não sei quem será o público que irá ao Cine Joia (frequentadores da casa, pessoas que ouviram falar do ‘mito Zorn’, outras que baixaram algum disco por aí?), mas o risco de dizerem depois 'puta chatice esse negócio de free jazz' é imenso...
O John Zorn de espírito radical-roqueiro teve seus espasmos mais assombrosos na virada dos 80/90. E sua encarnação mais inflamada atendeu ao nome PainKiller. O ano era 1991 e Zorn se uniu a Mick Harris, baterista seminal do grindcore e membro do Napalm Death, para formar um trio que trouxesse elementos do universo dos dois músicos. A eles, juntou-se o baixista Bill Laswell. E o estrago estava feito. Faixas curtas e aceleradíssmas, em que Zorn explorava o limite dos agudos do sax alto, apoiado pelas baquetas incandescentes de Harris. A breve discografia do PainKiller começa com “Guts of a Virgin”, de abril de 91, EP que traz os elementos do trio já completamente definidos. Na sequência, viriam “Buried Secrets” (92), em sintonia com o disco de estreia, e “Execution Ground” (94), no qual o som do grupo ganha novo corpo, com longas improvisações e adição de pinçadelas eletrônicas/samples. Algumas gravações ao vivo complementam os trabalhos do PainKiller –destaque para “Talisman: Live in Nagoya”, captado em 94, que traz a face mais ambient/improv (há um tema de 30 minutos) que a metralhadora dos primeiros discos, porém sem abafar ou estrangular a vibração do projeto inicial. Em 95, o trio foi virtualmente desintegrado com a saída de Harris. Em algumas oportunidades futuras, Zorn reuniria o grupo (muitas vezes sem Harris). O último registro oficial do PainKiller se deu em 2003, nos eventos de comemoração dos 50 anos de Zorn, tendo a presença de Laswell, Hamid Drake na bateria e Mike Patton nos vocais.
Rituals: Live in Japan apresenta o PainKiller em seus primeiros tempos, turnê pelo país asiático em 91. Ao trio, juntou-se o infernal guitarrista nipônico Keiji Haino para sujar ainda mais algumas faixas (notem como a guitarra é fundamental à “Cat's Cradle”, elevando o ponto noise). Haino poderia ter sido membro-permanente do trio, sem dúvida... A gravação não é das melhores, mas dá para entender o que Zorn buscava com o PainKiller e decidir se vale ou não escutar os outros discos do trio.
*John Zorn: alto sax, vocals*Bill Laswell: bass
*Mick Harris: drums, vocals
*Keiji Haino: guitar, vocals (9, 10, 15, 16, 17)
Recorded live September 26, 1991, La Mama, Tokyo.
John Zorn é dos músicos mais difíceis de se conhecer de fato, dada a amplitude de suas investidas. Aos 58 anos, o saxofonista norte-americano já deve contar com mais de 150 álbuns editados, em projetos tão variados que oscilam entre (ou misturam) sonoridades vindas do jazz (free, bop, improv), do rock (grindcore, RIO, punk), da cultura judaica (klezmer), eletroacústica, erudito, improvisação livre, trilha sonora etc. Tanto que se alguém provar apenas de uma ou outra de suas mais relevantes criações –Masada (que tem diferentes encarnações com resultados díspares), PainKiller, Cobra, Naked City, ‘Film Works’, ‘Game Pieces’, ‘Chamber Music’, discos solistas, parcerias com free improvisers vários–, terá somente uma impressão parcialíssima de sua obra, que teve seus primeiros registros em 1973. Não sei quem será o público que irá ao Cine Joia (frequentadores da casa, pessoas que ouviram falar do ‘mito Zorn’, outras que baixaram algum disco por aí?), mas o risco de dizerem depois 'puta chatice esse negócio de free jazz' é imenso...
O John Zorn de espírito radical-roqueiro teve seus espasmos mais assombrosos na virada dos 80/90. E sua encarnação mais inflamada atendeu ao nome PainKiller. O ano era 1991 e Zorn se uniu a Mick Harris, baterista seminal do grindcore e membro do Napalm Death, para formar um trio que trouxesse elementos do universo dos dois músicos. A eles, juntou-se o baixista Bill Laswell. E o estrago estava feito. Faixas curtas e aceleradíssmas, em que Zorn explorava o limite dos agudos do sax alto, apoiado pelas baquetas incandescentes de Harris. A breve discografia do PainKiller começa com “Guts of a Virgin”, de abril de 91, EP que traz os elementos do trio já completamente definidos. Na sequência, viriam “Buried Secrets” (92), em sintonia com o disco de estreia, e “Execution Ground” (94), no qual o som do grupo ganha novo corpo, com longas improvisações e adição de pinçadelas eletrônicas/samples. Algumas gravações ao vivo complementam os trabalhos do PainKiller –destaque para “Talisman: Live in Nagoya”, captado em 94, que traz a face mais ambient/improv (há um tema de 30 minutos) que a metralhadora dos primeiros discos, porém sem abafar ou estrangular a vibração do projeto inicial. Em 95, o trio foi virtualmente desintegrado com a saída de Harris. Em algumas oportunidades futuras, Zorn reuniria o grupo (muitas vezes sem Harris). O último registro oficial do PainKiller se deu em 2003, nos eventos de comemoração dos 50 anos de Zorn, tendo a presença de Laswell, Hamid Drake na bateria e Mike Patton nos vocais.
Rituals: Live in Japan apresenta o PainKiller em seus primeiros tempos, turnê pelo país asiático em 91. Ao trio, juntou-se o infernal guitarrista nipônico Keiji Haino para sujar ainda mais algumas faixas (notem como a guitarra é fundamental à “Cat's Cradle”, elevando o ponto noise). Haino poderia ter sido membro-permanente do trio, sem dúvida... A gravação não é das melhores, mas dá para entender o que Zorn buscava com o PainKiller e decidir se vale ou não escutar os outros discos do trio.
*John Zorn: alto sax, vocals*Bill Laswell: bass
*Mick Harris: drums, vocals
*Keiji Haino: guitar, vocals (9, 10, 15, 16, 17)
Recorded live September 26, 1991, La Mama, Tokyo.