Arthur Jones (1940-1998) é um dos free jazzistas do qual menos se tem informações. Vindo de Cleveland e envolvido com o rock, conta-se que mudou de rumo ao descobrir dois fundamentais pioneiros do sax alto livre, seu instrumento: Ornette Coleman e Eric Dolphy. Deslocando-se para Nova York, seduzido pela vibração incendiária do free jazz, teve em gigs com Sunny Murray suas incursões iniciais nesse universo. Em 1967 entraria em estúdio pela primeira vez, participando das sessões de “Your Prayer”, do também saxofonista Frank Wright (1935-1990). Mas seria somente em Paris, pouco depois, que teria seus momentos mais intensos.
O ano era 1969. E Arthur Jones, junto a outros free improvisers americanos exilados na capital francesa, entrou em estúdio seguidas vezes. Apenas naquele ano, deixou seu nome nos créditos de álbuns de Archie Shepp (“Yasmina, a Black woman”), Dave Burell (“Echo”), Clifford Thornton (“Ketchaoua”), Jacques Coursil (“Way Ahed”), Burton Greene (“Auqariana”) e Sunny Murray (“Hommage to Africa”). É também em 69 que brotam os únicos dois discos com sua assinatura na capa: “Africanasia”, coautoria com Claude Delcloo, e o mágico “Scorpio”, rebento único como líder. Passada essa explosão criativa, Jones desapareceria. Nem livros nem sites especializados trazem dados sobre o rumo que o saxofonista tomou, se permaneceu muito tempo na Europa, se chegou a circular pela cena loft dos 70s, se abandonou de vez a música e foi procurar outra forma de sobrevivência ou mesmo se enlouqueceu... Alguns até consideram que o registro de sua morte em 98, na cidade de NY, não é totalmente confiável...
Scorpio foi registrado em trio com os franceses Beb Guerin (1941-1981), baixista, e Claude Delcloo, baterista. O álbum apresenta quatro temas de Jones, que exibem o quanto o músico era um melodista criativo e um solista ácido. “C.R.M.” e “B.T.” formam o lado A do disco com um tom mais arisco e quente, em que Delcloo arrasta Jones ditando as acelerações/contenções que marcam as peças. Muito do fraseado ornetteano está presente, uma influência clara. Mesmo sendo o ‘líder’, Jones mostra no trabalho o quanto era generoso: em C.R.M., por exemplo, sai de cena e deixa Guerin divagar com seu baixo durante longuísimo tempo (entre os 4 e 9 minutos). No lado B, o tom muda. A balada “Sad Eyes” –regravada por David S. Ware em “Flight of I”, de 91 –, a faixa mais extensa do registro, abre a segunda face do disco mostrando bem como o saxofonista estava atento e focado no extrato melódico, destilando um tema tristíssimo e dolorosamente arrastado. “Brother B.”, a melhor de Jones, encerra a sessão, desenvolvendo-se em três etapas. Após uma abertura sombria, em que sax e baixo criam uma atmosfera sedutora, há uma sutil parada; na sequência, o baixista inicia o dedilhado de um tema de superfície, chamando a bateria, que por sua vez convoca o sax, que entra em circular movimento, perdendo-se em explosivas intervenções, mas sempre retornando ao ponto de partida; após quase três minutos nessa toada, a abertura sombria é retomada, agora com sentido de epílogo e despedida. Scorpio é mais uma gema de beleza e fulgor ímpares, perdida e esquecida no tempo, nunca reeditada.
*Arthur Jones: sax alto
*Beb Guerin: bass
*Claude Delcloo: drums