A arte do trio, por Yosuke Yamashita

Ainda nos anos 1960, a primeira geração de free jazzistas japoneses despontou. Muitos deles iniciaram a carreira tocando jazz, alguns rock. Na virada dos 60/70, a cena japonesa já contava com instrumentistas do quilate de Masayuki Takayanagi, Kaoru Abe, Motoharu Yoshizawa, Masahiko Togashi, Sabu Toyozumi, Mototeru Takagi... E, dentre esses e outros, estava o pianista Yosuke Yamashita.

Tendo Cecil Taylor como um de seus heróis, Yosuke Yamashita (1942, Tóquio) se profissionalizou muito cedo, antes dos dezoito anos, encarando a noite de Tóquio em diferentes demandas e contextos artísticos. Patrono do piano free japonês, Yamashita se tornaria conhecido principalmente pelos trabalhos em trio, seu formato favorito.
Era 1969 quando botou na estrada seu primeiro grande trio, ao lado de Seiichi Nakamura (sax) e Takeo Moriyama (bateria). Com tal formação deixaria seus primeiros registros, dentre esses “Concert in New Jazz” e “Mina´s Second Theme”, ambos de 69. Chegado o ano de 73, Nakamura cederia lugar para o sax de Akira Sakata, com o trio de Yamashita assumindo sua encarnação mais celebrada. O grupo colocaria na praça os intensos “Clay”, “Live 1973” e “Frozen Days”, logo fazendo turnê de estreia na Europa, no palco do Berlin Jazz Festival (74). Antes de acabar a década, desembarcaram no festival de Montreaux; os EUA seriam conquistados em 79, durante o Newport Jazz Festival. Nesse ano, Yamashita ainda deixaria um importante registro, “First Time”, gestado em parceria com o pessoal do AEC (Joseph Jarman, Famoudou Don Moye e Malachi Favors).


Em cena: Y.Yamashita Trio no filme “Ecstasy of the Angels”, de K. Wakamatsu. 1972.


Nos anos 1980, o pianista deu um tempo com o tradicional trio de compatriotas e formou um novo grupo, o “New York Trio”, repartindo os créditos com os americanos Cecil McBee e Pheeroan akLaff; logo editariam o já clássico “Sakura” (90). Manfred Schoof, Bill Laswell, Elvin Jones, Lester Bowie e Ravi Coltrane seriam outros estrangeiros a cruzaram o rumo de Yamashita em algum momento. O pianista também passou com o tempo a dedicar parte de seu labor ao formato solista. “Banslikana” (76), que traz improváveis standards (‘A Night in Tunisia’, ‘Autumm Leaves’) entre improvisos e temas próprios, exibe com vigor o instrumentista desacompanhado. Nos últimos anos, enquanto parte de sua extensa discografia tem recebido edições novas, saindo em muitos casos pela primeira vez em formato digital, Yamashita, conhecido em seu país também como escritor e ensaísta, diminuiu o ritmo, estando meio afastado de palcos e estúdios.

Um dos álbuns imperdíveis do Yosuke Yamashita Trio é Chiasma, gravado ao vivo em 1975. Aqui podem ser apreciados com vagar tanto o dedidalhado do músico (em primeiro plano nos dois temas de abertura, construídos apenas com piano e bateria) quanto a ação mais arisca do trio, elevada com a entrada do sax de Sakata a partir da faixa-título –Mats Gustafsson já resgatou a faixa ‘Chiasma’, em releitura com o sempre incrível The Thing.
Esse álbum é mais um capítulo pesado da explosiva cena japonesa, marcada por sua própria vertigem sonora, obrigatória e essencial.




Recorded live June 6, 1975 at the Heidelberger Jazztage.