A França sempre foi um pólo incandescente, tanto na criação quanto na recepção, de novidades artístico-musicais. Não à toa, foi por lá que os free jazzistas americanos, sem espaço em sua própria terra, se instalaram no fim da década de 1960, quando a verba encurtou e a música negra mais radical perdeu sua (sempre pouca, aliás...) atratividade. Na virada dos 60/70, Art Ensemble of Chicago, Archie Shepp, Alan Silva, Sunny Murray, Frank Wright, Marion Brown e Anthony Braxton já haviam se estabalecido (ou passado temporadas) na França. Como registro daquele tempo, o selo BYG/Actuel editou a clássica serie de álbuns de capa branca, com muito das aventuras ruidosas dos geniais norte-americanos que por lá desembarcaram.
Tocando junto e em torno dessa gente toda estava um punhado de músicos locais, que ajudaram a dar corpo e cara à nascente cena free francesa. Talvez a França careça de um nome de peso arrebatador quando o assunto é free music, assim como a Alemanha tem Peter Brotzmann, e a Inglaterra, Evan Parker e Derek Bailey. Mas o país não deixa de ter seus instrumentistas de relevo e projeção internacional.
Pioneiro nesse mapa foi o pianista François Tusques (1938, Paris), que gravou seu Free Jazz em 1965, com um sexteto que trazia o baixista Beb Guérin e o trompetista Bernard Vitet. Esse álbum, que saiu com apenas 200 cópias, é considerado por muitos críticos o marco inicial do free na França.
Michel Portal, no clarinete baixo, estava dentre os que fizeram parte daquele trabalho seminal. Portal não seguiria ao lado de Tusques por longo tempo, engataria sessões com outros músicos para em breve tomar o controle das ações, liderando seus projetos. Depois da experiência inicial com o pianista, se aproximou dos americanos, gravando com Sunny Murray (em 68) e Alan Silva (em ‘Seasons’); data desse período também destacada ligação com o mundo erudito. Em meio a tudo isso, Portal acabaria por fazer sua estréia como líder, ainda antes de a década de 1960 encontrar seu fim.
Pioneiro nesse mapa foi o pianista François Tusques (1938, Paris), que gravou seu Free Jazz em 1965, com um sexteto que trazia o baixista Beb Guérin e o trompetista Bernard Vitet. Esse álbum, que saiu com apenas 200 cópias, é considerado por muitos críticos o marco inicial do free na França.
Michel Portal, no clarinete baixo, estava dentre os que fizeram parte daquele trabalho seminal. Portal não seguiria ao lado de Tusques por longo tempo, engataria sessões com outros músicos para em breve tomar o controle das ações, liderando seus projetos. Depois da experiência inicial com o pianista, se aproximou dos americanos, gravando com Sunny Murray (em 68) e Alan Silva (em ‘Seasons’); data desse período também destacada ligação com o mundo erudito. Em meio a tudo isso, Portal acabaria por fazer sua estréia como líder, ainda antes de a década de 1960 encontrar seu fim.
Quando Portal apareceu com Our Meanings And Our Feelings, em 69, seu nome estava em ascenção, atingindo o ápice em um futuro próximo. Na sequência, o clarinetista colocaria no mercado “Alors” (70) e “Splendid Yzlment” (71), sedimentando seu nome como central na cena europeia. Nos anos seguintes, apareceriam marcos em sua trajetória: alguns: Dejarme Solo! (79), vigorosa estréia solista, na qual o músico se amparou em possibilidades abertas pela gravação em estúdio e explorou clarinete, tenor, alto, soprano, clarinete baixo, bandoneon, percussão e até pinceladas com a voz; “Arrivederci Le Chouartse" (81), efervescente trio com Pierre Favre e Léon Francioli, editado pela HatHut; e Dockings (97), quinteto que contou com Steve Swallow no baixo e Markus Stockhausen no trompete.
Our Meanings And Our Feelings é um registro destacado do Michel Portal free jazzista. Para a sessão, convocou um pool de jovens músicos europeus: o francês J.F. Jenny Clark (1944-1998) no baixo; para a bateria, o italiano Aldo Romano; e para completar, o pianista alemão Joachim Kuhn. As cinco faixas se mantêm dentro de uma estrutura agressiva e aberta, porém palpável. Interessante notar como o músico francês trabalha com entusiasmo o sax, que não é seu porto primário; curioso também ver Kuhn –que assina como coautor quase todo o disco– se intrometer e dialogar trocando as teclas pelo sopro, algo não tão usual. Em “Dear Old Morocco”, Portal surge com um sopro gritado, agudamente espandido, que chega a remeter ao melhor de Arthur Doyle em seu clássico “Alabama Feeling”, oferecendo alguns dos momentos mais intensos do conjunto. A gravação não é das melhores, com mixagem relativamente pobre; ao que parece, o disco jamais foi reeditado em versão digital; ou seja, é o que se tem por ora...
A1. For My Mother (8:35)
A2. Walking Through The Land (5:51)
A3. Dear Old Morocco (6:02)
B1. A Train In A Very Small Town (6:25)
B2. Our Meanings And Our Feelings (13:04)
*Michel Portal: tenor, clarinet (piccolo, mi bémol), zoukra
*Joachim Kuhn: piano, sax (alto), horn, bells
*J.F. Jenny-Clark: bass
*Jacques Thollot: tambourine, percussion
*Aldo Romano: drums