Não diferente de muitos jovens mundo afora, o português Hernani Faustino começou sua história em uma banda de rock. Nas mãos, um baixo elétrico; o ano era 1979. Somente mais de uma década depois desviaria sua atenção para o baixo acústico. Para compreender o novo instrumento, nada melhor do que se embrenhar pelo universo jazzístico, do qual não se desvencilharia mais. Ao lado do fazer musical, Faustino sempre esteve ligado também ao comércio de discos, trabalhando em lojas do ramo por longos anos. Em 2004, passaria de empregado a dono, virando um dos sócios da Trem Azul Jazz Store, parada obrigatória de encontro dos apaixonados pelo free em Lisboa, que conta também com um espaço para shows...
Parceiro dos principais nomes da cena free/jazzística portuguesa –Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro, Manuel Mota, Luis Lopes, Nuno Rebelo–, o baixista também tem tocado com muita gente boa de fora de seu país, como Nate Wooley, Virginia Genta, Mats Gustafsson, Dennis González e Nobuyasu Furuya. Dentre os diversos projetos com que está envolvido, destaque para o Red Trio, formado em 2008 com Rodrigo Pinheiro (piano) e Gabriel Ferrandini (bateria). O trio lançou seu elogiadíssimo disco de estreia em 2010. Agora acaba de colocar no mercado Empire, que traz como convidado o saxofonista John Butcher.
Parceiro dos principais nomes da cena free/jazzística portuguesa –Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro, Manuel Mota, Luis Lopes, Nuno Rebelo–, o baixista também tem tocado com muita gente boa de fora de seu país, como Nate Wooley, Virginia Genta, Mats Gustafsson, Dennis González e Nobuyasu Furuya. Dentre os diversos projetos com que está envolvido, destaque para o Red Trio, formado em 2008 com Rodrigo Pinheiro (piano) e Gabriel Ferrandini (bateria). O trio lançou seu elogiadíssimo disco de estreia em 2010. Agora acaba de colocar no mercado Empire, que traz como convidado o saxofonista John Butcher.
O baixista (e também fotógrafo) português conversou com o FreeForm, FreeJazz:
FF - Hernani Faustino, baixista e fotógrafo. Como dialogam para você essas duas esferas criativas? São faces diferentes de um mesmo projeto artístico?
"São ambas importantes e de certa forma até complementares. Grande parte da minha fotografia vive da intuição e do momento e desta forma consigo encontrar um paralelismo com a música que toco. A máquina fotográfica é para mim um instrumento que me permite improvisar com a luz."
FF - Veio antes a música ou a fotografia em sua vida? Fale um pouco de começos, escolhas e mestres.
"A música veio antes da fotografia. O meu gosto pela música começou bastante cedo, ainda criança comecei a ouvir música em casa, o meu avô paterno tocava viola (violão) e cantava fados e foi com ele que comecei a aprender a tocar viola. Escutava também muita rádio e mais tarde partilhava discos com amigos. No final dos anos 70, formei um grupo de rock com alguns colegas e com o meu irmão. Sou um músico autodidacta, e tudo o que sei aprendi com os amigos, nos concertos e a ouvir muitos discos. Na década de 90 comecei a tocar contrabaixo, o meu instrumento foi sempre o baixo eléctrico. Apesar de já ouvir jazz na altura, a necessidade de saber mais sobre o contrabaixo foi importante, porque através dele descobri muitos músicos e improvisadores fantásticos que ao longo dos anos me continuam a influenciar hoje: Charles Mingus, Barre Phillips, Derek Bailey, Cecil Taylor, John Stevens, Peter Kowald, Evan Parker, John Butcher etc.
"A fotografia veio um pouco mais tarde… por volta dos meus 15 anos. Foi fascinante a descoberta de procurar e entender as imagens. São também muitos os fotógrafos que aprecio: Alfred Stieglitz, Edward J. Steichen, André Kertész, Miroslav Tichy, Paulo Nozolino e muitos outros."
FF -Você também é sócio-fundador de uma importante loja de discos, a Trem Azul. De que forma essa visada empresarial se integra à sua rotina artística?
"Sim, sou um dos sócios da Trem Azul/Clean Feed. Durante 16 anos trabalhei numa cadeia de lojas de discos em Portugal. A maior parte do tempo como responsável das secções de jazz. São as duas importantes e distintas, mas com muitos pontos de contacto e por vezes complementam-se."
FF - Em época de música digital, downloads e MP3 ainda é viável ter uma loja de discos? Qual é o perfil do público que frequenta a Trem Azul? Quais são os discos e músicos mais procurados da loja?
"São tempos difíceis! Apesar dos suportes digitais e dos downloads, existem ainda pessoas que preferem ter o disco (cd ou lp). Hoje em dia é importante que os discos tenham uma apresentação cuidada ao nível gráfico e se possível personalizada. Estes aspectos fazem toda a diferença nos dias de hoje. O perfil do público que frequenta a Trem Azul é muito diversificado e de variadas faixas etárias. Os discos que mais se vendem são os da nossa editora: Clean Feed."
FF - Sempre vemos shows e festivais de free music em Portugal. O país é hoje um importante corredor para a free music? Para vocês, que são músicos locais envolvidos com free jazz e improvisação livre, como está a cena? Vive-se de música em Portugal?
"Existem actualmente muitos festivais de jazz em Portugal, mas apenas 2 ou 3 incluem free improv na sua programação. A cena em Lisboa está bastante activa, existem actualmente muitos músicos a produzirem trabalho e a tentarem também editar e tocar fora de Portugal. [Mas] Os locais para tocar são poucos e infelizmente é impossível viver desta música em Portugal."
FF - Você trabalha com uma ampla variedade de grupos de perfis variados. O quanto é importante essa amplitude de projetos para você como baixista?
"Poder colaborar com músicos tão distintos é um privilégio. Desta forma podes entender universos musicais tão dispares e também ampliar a tua forma de tocar. Tocar com o Nobuyasu Furuya foi das participações mais intensas que já fiz, principalmente os concertos com o trio e o quinteto. Para mim é fundamental colaborar com outros músicos, desta forma podemos também evoluir como instrumentistas."
FF - O Red Trio é seu principal projeto hoje? Estão trabalhando em algum disco novo?
"O Red Trio tem novo disco. No ano passado fizemos uma tour em Portugal e convidamos o saxofonista inglês John Butcher para tocar com o trio. Durante esse período fizemos uma sessão num estúdio de Lisboa, que resulta neste novo trabalho. O disco foi editado apenas em LP, pela NoBusiness, da Lituânia."
FF - Sendo um músico ligado à free improvisation, você também compõe? A composição é algo que o interessa?
"Não sou um compositor! Construo motivos para a improvisação. De momento estou a trabalhar numa partitura gráfica para uma ideia que tenho em mente para um pequeno grupo, e que é um processo que quero desenvolver, apenas com ressonâncias e mais no sentido da exploração sonora. De qualquer forma estou a tocar com o quarteto do guitarrista Luis Lopes, com o Rodrigo Amado e o Gabriel Ferrandini, onde o repertório é exclusivamente temas do Arthur Blythe, Ornette Coleman, Keith Jarrett, Dennis Charles, Alan Shorter e Clifford Jordan."
FF - Tem alguma ligação com músicos e músicas brasileiros?
"Infelizmente não tenho ligação nenhuma com músicos brasileiros. Durante uns tempos toquei com um saxofonista brasileiro Alípio C Neto que esteve a viver em Lisboa. Conheço o Ivo Perelman, mas nunca toquei com ele. Sei também que existem músicos interessantes como o Antonio Panda Gianfratti, Yedo Gibson, Michelle Agnes, cujos trabalhos tento acompanhar."
FF - O que falta para termos Hernani Faustino em um palco brasileiro?
"Um convite."
(Hernani Faustino e Jorge Nuno)
-----------------------------------------------------
**Para conhecer mais: