Sax tenor, soprano, flauta, piano. 87 anos de idade. Sam Rivers ainda está na ativa, sete décadas na estrada, se apresentando pontualmente com sua 'RivBea Orchestra'. Nascido Samuel Carthorn Rivers, em 25 de setembro de 1923 (Oklahoma), o músico demorou para ser conhecido no meio, algo que apenas viria a ocorrer nos anos 1960. Estudou violino e piano na infância, indo depois para o Boston Conservatory of Music. Conheceu pessoalmente (e mais: participou de jam sessions com) Charlie Parker e Lester Young. Sendo um dos ícones do free jazz e figura-chave da cena loft dos 70s, Rivers tocou basicamente como sideman até chegar na casa dos 40 anos. Nessa história, coube até uma excursão com Miles Davis quando este montava seu segundo grande quinteto (George Coleman havia sido dispensado e Wayne Shorter ainda não assumira o posto) –a parada no Japão, em julho de 64, rendeu o belo 'Miles in Tokyo'.
“Fuchsia Swing Song”, registro de dezembro de 64 para a Blue Note, marca sua estréia tardia como líder. Ron Carter e Tony Williams, do quinteto de Miles, estão no álbum. No restante da década, o saxofonista atuou em discos de vários artistas da Blue Note (Bobby Hutcherson, Andrew Hill, Larry Young) e voltou a gravar sob seu nome (“Contours”, “A New Conception”). Antes de encerrar aquela década, o instrumentista aprofunda seu contato com os músicos que estavam fazendo o free acontecer, adensando e libertando cada vez mais seu tom: em 68, toca com Bill Dixon; em 69, sobe ao palco com Albert Ayler e entra para o 'Unit' de Cecil Taylor, com quem excursiona e grava na Europa. Um pouco depois, adentraria sua fase mais gloriosa.
É nos anos 1970 que Sam Rivers assume o posto de um dos pilares da música livre. Seu lendário loft “Studio RivBea” se torna um dos picos mais efervescentes da música naquela década. Aberto em 1970 pelo saxofonista e sua esposa (Beatrice) e localizado no Bond Street, em Lower Manhattan (NY), o Studio RivBea abrigou encontros e celebrações vitais dos quais, infelizmente, apenas uma pequena amostra sobreviveu –há, por exemplo, um lendário encontro perdido de um duo entre Rivers e Rashied Ali, captado em 75. A serie “WildFlowers”, em cinco albuns com registros realizados no ano de 76, é o principal testemunho dos tempos enérgicos que fizeram do local uma referência da música livre.
As atividades de Rivers nos 70s foram muito além do Studio RivBea. O contrato assinado com a Impulse permitiu que fortes trabalhos do saxofonista no período fossem registrados, como “Hues” (72), “Trio Live” (73) e “Crystals” (74). Data dessa época sua proximidade com Dave Holland, com o qual gravou o clássico “Conference of the Birds” (72). Em 76, Rivers montou um inusual trio que trazia a seu lado Joe Daley (na tuba) e um baterista (Sidney Smart, depois Warren Smith). Pela peculiariedade do som do instrumento de Daley, entraram para a história sob a alcunha The Tuba Trio. Os registros do grupo são todos ao vivo e reproduzem passagens deles pela Europa. Os discos “Black Africa! Villalago” e “Perugia”, feitos em julho de 76 na Itália, se tornaram os clássicos do trio. Do mesmo ano, mês de setembro, restaram gravações deles em Amsterdã, que se espalham por três volumes chamados Essence – The Heat and Warmth of the Free Jazz. Com esse trio, Rivers passeava por tenor, soprano, flauta e piano, mostrando a ampla variedade de sua palheta conquistada lentamente. Já adentrando a casa dos 50 anos, Rivers queria mais era explorar todas as possibilidades artísticas que estavam a seu alcance. As intervenções ao soprano na época eram as mais incendiárias. Ao piano, seu toque é menos atonal e martelante que o do mestre Cecil Taylor, algo mais livre-expressionista, como pode ser ouvido neste Volume III do The Tuba Trio. Ao tenor, seu pólo-base, é dedicada a face A do álbum. Atenção à tuba, que dá sabor especial ao som do grupo.
A. Group with Tenor Sax (17:58)
B. Drums Interlude/Group with Piano (14:18)
*Sam Rivers: tenor, piano
*Joe Daley: tuba
*Warren Smith: drums
Live recorded at the Bim Huis, Amsterdam, 2nd of September 1976.
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