A extensa palheta de Ned Rothenberg

Foi na Creative Music Orchestra, de Anthony Braxton, que Ned Rothenberg iniciou seu percurso de múscio profissional, isso lá para 1978. Dividido entre saxes alto e tenor, clarinete, flauta e uns sopros mais, Rothenberg (Boston, 1956) gravou seus primeiros álbuns pela extinta Lumina Records, sendo a estreia realizada com “Trials of the Argo” (80/81). Em sintonia com os rumos de Braxton, o instrumentista também lida com concepções amplas e profundas sobre o fazer musical, mexendo com microtonalidade, técnicas de sopro circular e harmonias orientais. Sua busca por rumos novos o levou a passar longas temporadas no Japão, onde aprendeu a tocar o shakuhachi (tipo de flauta de bambu) com os mestres Goro Yamaguchi e Katsuya Yokoyama. Excursões pela (ex-)URSS e outros países do oriente o levaram a encontros com nomes como a vocalista Sainkho Namtchylak e o coreano Kang Tae Hwan, tendo gravado com ambos.

Com o pessoal do ‘free ocidental’, também não faltam experiências: Mark Feldman, Erik Friedlander, Mark Dresser e Barre Phillips são alguns dos que já apareceram em seus mais de vinte discos. Não se pode deixar de destacar especialmente os duos conduzidos ao lado de Evan Parker: ‘Monkey Puzzle’ (97) e ‘Live at Roulette’ (2007). Estudante no 'Oberlin Conservatory' e no 'Berklee School of Music', Rothenberg também divide seu tempo em encontros com o meio acadêmico, entre workshops e aulas, com os quais passou por centros de ensino em vários países: 'Princeton University', 'Australian Institute of Music', 'Scuola Internazionale di Liuteria', 'Rotterdam Conservatory', 'Graz Conservatory' e Universidade de São Paulo (USP) –ps: se alguém presenciou sua estada na USP, testemunhe por favor!
Developing a Solo Program as a Composer/Performer” e “Course in Extended Technique for Woodwinds” são alguns dos temas de seus cursos.

Em meados da década de 1980, Rothenberg se juntou ao percussionista Samm Bennett e ao guitarrista Elliot Sharp na condução do trio “Semantics”. O trio lançou apenas dois discos, “Semantics” (86) e “Bone of Contention” (87), que mostram um som free permeado de elementos rock e jazz, salpicado de pitadas eletrônicas. Considerando o rumo que o som de Rothenberg tomou dali para frente, o Semantics soa hoje em muitos de seus momentos mais como se fosse um projeto de Elliot Sharp. Também multi-instrumentista, Sharp (Cleveland, 1951) registra variadas parcerias com nomes distintos como John Zorn, Vernon Reid e Wayne Horvitz, tendo também conduzido o “Terraplane”, um grupo de “Delta blues com armadilhas pós-modernas”, como definiu um crítico. Destacado também neste álbum é o papel de Bennett, que já lidava naqueles tempos com percussão eletrônica, elemento chave para a sonoridade do Semantics.


A1 Terra Firma (7:42)
A2 Small Business (3:13)
A3 Direct Dial Dirge (2:59)
A4 Split Shift (2:59)
A5 Vliet´s Van (4:36)
B1 Big Business (6:20)
B2 Funnel Breaker B (1:57)
B3 The Midst Of Other Solitaires (3:37)
B4 Didi! It´s The Other Foot! (3:34)
B5 Hole In THe Pocket (5:34)


*Ned Rothenberg: alto, tenor, bass clarinet, flute
*Elliot Sharp: guitar, voice
*Samm Bennett: drums, electronic percussion

Recorded at Radio City Studio, NYC July 23 & 25, 1985.
Track A3 and A4 recorded at Seltzer Sound, NYC October 29, 1985
.


--------------
Photo by Hans Reitzema