US$ 240 por um ingresso?

Não vamos dizer que não vale, pois tal afirmação soaria agressiva à fina obra do pianista. Mas o que leva os produtores a decidirem cobrar cerca de US$ 240 por um ingresso para ver e ouvir Keith Jarrett em São Paulo?

O pianista, de longa trajetória recheada de momentos fantásticos, como seu “quarteto americano” dos anos 70 e o trio (a partir) dos anos 80, merecia sim ser apreciado por um público seleto –entenda-se: de fato interessado ou conhecedor da relevância de seu trabalho. Mas qual será o público que encherá a sala de concerto? Como Jarrett é um músico conhecido (basta entrar em qualquer sebo para encontrar pilhas de seus álbuns em vinil, em edição nacional; ou seja, já se consumiu bastante sua obra no país), os ingressos devem esgotar logo.

Keith Jarrett faz show solo, único, no dia 6 de abril na Sala São Paulo. A maioria dos ingressos custará de R$ 350 a R$ 400. Há ainda uma cota menor, para os menos favorecidos, apenas no camarote superior (que, se não estou enganado, fica localizado acima do palco, com uma ótima vista do teto) a modestos R$ 200 (!!!). É aviltante essa divisão comum em muitas salas de concerto: quem paga mais tem direito a uma visão mais privilegiada do artista. E quem pode pagar pouco não tem direito a visão nenhuma...

Ps: o mais irônico é ver os “apoios culturais” no pé do cartaz de divulgação: atenção para o logo “Brasil um País de Todos”.