Omaggio a Willem Breuker (1944-2010)

Na pequena série-homenagem que apareceu por aqui no fim de 2010, repassando um pouco da obra de figuras elevadas que morreram no ano passado, deixamos de contemplar um nome não menos importante: Willem Breuker. O músico holandês, nascido em 4 de novembro de 1944, em Amsterdã, vivenciou alguns dos momentos mais fortes do free jazz europeu.

Depois de passar pelo grupo do pianista Misha Mengelberg, no inicío de carreira, Breuker tocou na pioneira free big band europeia "Globe Unity Orchestra", de Alex Von Schilippenbach, e participou da gravação do seminal “Machine Gun”, sob comando de Peter Brotzmann. Logo se ligaria a um de seus grandes parceiros, o percussionista Han Bennink, com quem tocou o projeto-selo ICP (Instant Composers Pool), responsável por alguns dos pontos mais vibrantes do free improv entre 67 e 73.

Destacado sax-tenorista, Breuker também era exímio improvisador nos saxes soprano e alto, além de clarinete e clarone. No ano de 1974, começou a desenvolver dois importantes pontos de sua trajetória: o selo BVHaast, pelo qual editaria boa parte de sua produção; e a “Kollektief”, banda formada por um núcleo (variável) de dez instrumentistas, sob a qual produziu a maioria de sua obra até o fim da vida. A “Kollektief” trazia para o palco, em meio a levadas free jazzísticas, elementos e trejeitos de outras searas: teatro, música circense, vaudeville, tudo somado para sustentar uma base livre e performática.
Fora do campo jazzístico/free, Breuker desenvolveu trabalhos variados, que incluem uma trilha sonora para o clássico filme mudo “Faust”, de F.W. Murnau, e uma peça para violoncelo encomendada pelo cultuado Yo-Yo Ma. Esses trabalhos destacavam uma relevante face do músico holandês: a de compositor. Breuker jamais foi um improvisador puro, tendo chegado a declarar que criou a “Kollektief” para desenvolver suas composições, pois a improvisação livre não dava conta de suas ambições artísticas. Sobre a música da “Kollektief”, disse pouco tempo antes de falecer:

"I think what we do is very, very strange to a lot of people. It seems we don't always take ourselves too seriously, but we are serious about our music."
"I made them see what we do is a Dutch product -- I am not playing American jazz music -- and we take that to other places in the world”.

Após uma carreira variada e intensa, que gerou algumas dezenas de álbuns, Willem Breuker morreu de câncer no pulmão, no dia 23 de julho de 2010.

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Dois músicos em especial foram importantes parceiros de Breuker, ambos conterrâneos seu: o percussionista Han Bennink e o pianista Leo Cuypers. A associação do saxofonista com Cuypers teve início lá para 1973; o pianista tornou-se membro efetivo da “Kollektief” por cerca de uma década quando, dizem, desavenças afastaram os dois músicos. Além do trabalho no grupo, os instrumentistas mantiveram aceso um duo, que gravou dois álbuns e excursionou por anos. Os dois também dividiam a autoria do selo BVHaast. Nesse concerto captado em 1974, no período em que iniciavam a parceria, podemos apreciar um pouco do som desses dois grandes holandeses _desse mesmo período, há um álbum oficial, “Live in Shaffy”.
  
1. (untitled track) - 47:54

*Willem Breuker: soprano, alto, bass clarinet
*Leo Cuypers: piano


Recorded live in Shaffy Theater (Amsterdam). November 16, 1974.

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O outro parceiro de longa data de Breuker é o insano Han Bennink, que pudemos ver em ação em dezembro no palco do CCSP. Breuker e Bennink desenvolveram vários projetos entre 67 e 73, sendo um deles um duo, do qual brotou o incrível álbum “New Acoustic Swing Duo”, de 67. Quase duas décadas depois desse rebento, eles se reencontraram para apresentações no Japão. Do encontro, veio esse “The New Acoustic Swing Duo in Japan 1984”, captado na cidade japonesa de Sendai, em 30 de agosto de 84. Se Breuker não era um entusiasta completo da free improv, quando se juntava a Bennink não tinha outra saída: o melhor era deixar o som correr livremente.