Um músico, um instrumento (Solo V)

Das cordas de William Parker, passemos a outro campo exploratório: as cordas de Derek Bailey. O guitarrista britânico representou o ponto máximo da abstração de seu instrumento, sendo um capítulo central das transformações da improvised music na Europa. Diferente de Parker, Bailey não traz nenhum groove ou swing em sua linguagem, que pode soar para muitos ouvidos dura, seca, árida.

Derek Bailey (1930-2005) trabalhou extensamente com pequenas formações. Além das criações solistas, dividiu duos com uma extensa lista de figuras: Anthony Braxton, Steve Lacy, Cyro Baptista, Evan Parker, Agustí Fernandez, Tony Oxley, Susie Ibarra, Eddie Prévost, Keiji Haino, Han Bennink, Joelle Leandre, Dave Holland e alguns outros –parcerias que resultaram em alguns dos mais finos exemplares da biblioteca free improv universal. Ao privilegiar as formações enxutas, Bailey permitiu que apreciássemos de maneira mais atenta sua delicada malha de sons.
Arrítmica, atonal, amelódica: os predicativos que estampam sua obra partem de pólos de negação dos princípios da música básica: o guitarrista encontrava em um novo horizonte as referências necessárias à sua criação. Apesar das variadas apresentações solistas que marcaram sua carreira, Bailey disse em entrevista à All About Jazz, em 2001, que esse não era seu modelo preferido.

I thing playing solo is a second rate activity, really. For me, playing is about playing with other people.”

Um de seus belos álbuns solos, Notes foi registrado em duas sessões distintas nos meses de abril e julho de 1985. O disco, nunca editado em CD, exibe a grandiosa e idiossincrática linguagem desenvolvida pelo guitarrista britânico em sua plenitude. Ouvi-lo significa adentrar, admirando-se ou não, o cosmo secreto de Bailey.   




1. K 5:05
2. Scaling 2:28
3. At Fives & Sixes 2:56
4. Notable 3:10
5. Noting 5:38
6. Speculations, Old Style 4:14
7. 83, An Update On 38 12:40
8. Titual Exhaustion 6:06
*Side 1 recorded in London in April, 1985. Side 2 recorded in July, 1985.