Omaggio a Fred Anderson (1929-2010)

Apesar de ser um dos nomes mais lembrados quando o assunto é a cena de Chicago, Fred Anderson era originário da cidade de Monroe, na Louisiana, onde nasceu em 22 de março de 1929. Tendo estudado música formalmente, no Roy Knapp Conservatory, Anderson foi um dos fundadores da mítica AACM (Association for the Advancement of Creative Musicians), da qual saíram Anthony Braxton e o Art Ensemble of Chicago. Todavia, se não fosse o resgate de seu nome ocorrido nos anos 90, provavelmente o saxofonista teria morrido sem ter tido nem sombra do reconhecimento que sua obra merecia.
Dono de carreira marcada por longos períodos de silêncio, Anderson começou a aparecer ainda na década de 60 em discos de companheiros de AACM, como Joseph Jarman. Mas seu envolvimento com a efervescente cena de Chicago nunca representou a amenização das dificuldades para sobreviver. O trabalho como instalador de carpetes foi o que deu sustento a ele e sua família durante boa  parte dos 60/70. "Music's always been like a hobby to me. I played the music because I love it", disse em entrevista, lembrando a problemática opção de tentar viver apenas de sua música.

Somente no fim dos anos 70, já com quase 50 anos de idade, foi que começou a gravar como líder. O rebento primeiro, lançado em 1978, chamou-se “Another Place” e nunca recebeu reedição digital. Para piorar, sua estreia tardia seria interrompida muito em breve. Entre “The Milwaukee Tapes” (1980) e “Black Horn Long Gone” (gravado em 1993, mas inédito até o ano passado), Anderson praticamente desapareceu, concentrando-se em seu bar-clube, o “Velvet Lounge”, aberto em 82. Apesar de se apresentar em seu bar, o músico dedicou-se nesse período de pouco mais de uma década a seus negócios e ao ensino, deixando de lado palcos e estúdios.

Anderson foi mais um dos veteranos redescobertos na efervescência da free music a partir dos anos de 1990. Ken Vandermark esteve entre os que resgataram o veterano saxofonista, trazendo-o para seu círculo, gravando e excursionando com ele. Hamid Drake foi outra figura fundamental nesse processo. Mas com Drake a relação era mais antiga e visceral. Em seus álbuns da virada dos 70/80, Anderson recrutou o ainda muito jovem baterista para assumir as baquetas. Em “Another Place”, por exemplo, Drake tinha apenas 23 anos. Quando a década de 90 chegou, Drake, já um baterista maduro e respeitado no meio, passou a incorporar Anderson em diferentes projetos seus.


A tessitura sonora de Anderson não está entre as mais turbulentas de sua geração. O saxofonista, dedicado ao tenor, sempre respeitou as linhagens jazzísticas, reaproveitando-as em suas buscas improvisativas. Um músico livre, em conexão com o que de moderno surgiu a partir dos 60s, mas sempre atento ao que veio antes. Em sua formação pesaram, segundo ele, nomes como Coleman Hawkins e Gene Ammons.

Após a redescoberta de seu nome, Anderson atravessou quase duas décadas de intensa atividade, mantendo ainda aceso o seu “Velvet Lounge”. De meados dos 90 para cá, seu nome estampou ao menos umas três dezenas de discos. Em 2009, em comemoração aos seus 80 anos, lançou “21st Century Chase: 8oth Birthday Bash, Live at the Velvet Lounge”, um disco com muita energia, do qual participaram o baterista Chad Taylor e o saxofonista Kidd Jordan. Cerca de um ano depois, no dia 24 de junho de 2010, Fred Anderson sofreria um fulminante ataque cardíaco, encerrando uma carreira que recebeu em sua última etapa o reconhecimento merecido.

----------------------------------------------------
Esse disco de estréia de Fred Anderson como líder traz um quinteto em sua formação, que contava com o já respeitado trombonista George Lewis e o então novato Hamid Drake na bateria. Havia ainda um terceiro sopro, o trompete de Billy Brimfield. Na época, como atestam outros registros (“Dark Day”, “The Milwaukee Tapes”), o saxofonista vinha trabalhando constantemente com Drake e Billy. Temas longos, nos quais é possível apreciar com vagar o rico som (quase perdido!) de Anderson.
  


Side A- Saxoon/The Bull
Side B- Another Place

*Fred Anderson: tenor
*George Lewis: trombone
*Billy Brimfield: trumpet
*Brian Smith: bass
*Hamid Drake: drums


Recorded Live at 7th International New Jazz Festival, 1978, Moers.


----------------------------------------------------

Quando retornou à cena, em meados da década de 1990, Fred passou a gravar de forma constante, como nunca ocorrera em sua carreira anteriormente. Uma das melhores gravações que marcam seu ressurgimento é “Birdhouse”. Na segunda metade dos anos 70, antes de começar a gravar seus primeiros álbuns, Anderson tentou abrir um bar. Chamou-o de “Birdhouse”, em homenagem a Charlie Parker. Mas a empreitada afundou em pouco tempo, sendo encerrada em 77. Nessa gravação, o saxofonista retoma a parceria com Drake. Fred demonstra estar mais prolixo que em sua fase anterior, solando longamente –talvez a impressão decorra também do fato de estar sozinho no sopro. A peça ‘Like Sonny’ é dedicada ao saxofonista Sonny Stitt. O ‘MC’ da última faixa refere-se à pianista Marilyn Crispell, que gravaria com Fred em outras oportunidades.   


1. Birdhouse (18:55)
2. Bernice (16:11)
3. Like Sonny (15:33)
4. Waiting for MC (14:08)


*Fred Anderson: tenor
*Jim Baker: piano
*Harrison Bankhead: bass
*Hamid Drake: drums


Recorded at Sparrow Sound Design 2/20/95 (track 4 recorded 4/7/94).