Encontro com guitarras: surge o ‘free funk’

Entrada a década de 70, Ornette Coleman buscou captular novas sonoridades que pudesse explorar. Seria no meio dessa década que o saxofonista começaria a demarcar a entrada em um nova fase de sua carreira. Aproximando-se pela primeira vez das guitarras, Coleman desembocou em um campo que trazia elementos de outras musicalidades (funk, rock) em destaque naqueles tempos. Desse novo caldeirão, adicionando seu peculiar sax alto, emergiu o que logo foi rotulado de “free funk”.

Sempre é lembrado que rara vezes em sua trajetória Ornette adcionou um piano a seu grupo. O mesmo ocorreu com a guitarra: foi apenas nos anos 70 que o saxofonista passou a recorrer ao instrumento de cordas para acompanhar suas aventuras.
Em 72, o guitarrista Jim Hall apareceu na gravação de “Broken Shadows”. Depois, em 74, seria a vez de Ornette tocar pela primeira vez com o então pouco conhecido James "Blood" Ulmer. Mas foi apenas em 1976 que sua relação com as guitarras encontrou um rumo mais sólido: nesse ano, Ornette convocou (logo) dois guitarristas para iniciar sua investida “free funk”. O grupo que exploraria esses novos tempos foi chamado de ‘Prime Time’. Para a empreitada, o saxofonista se associou a novos parceiros: para a bateria, recrutou Ronald Shannon Jackson (que depois cederia espaço para Denardo); para as guitarras, Charles Ellerbee e Bern Nix.


No fim de 1976, Coleman restringiu-se ao sax alto, entrou em estúdio e trabalhou em dois álbuns que demarcaram o início dessa sua terceira fase. Da investida, nasceram “Body Meta” e “Dancing In Your Head”. Ainda sob a bandeira do “Prime Time”, lançaria “Of Human Feelings” (79), “Opening The Caravan Of Dreams” (85), “In All Languages” (87), “Virgin Beauty” (87) e “Tone Dialing” (95). A aventura ‘free funk’ do Prime Time significou também a eletrificação do som de Coleman. Além das guitarras, o baixo, a cargo de Jamaaladeen Tacuma, também estava ‘plugado’.

Os trabalhos eletrificados do Prime Time representaram o diálogo de três esferas: free jazz, funk e rock. Apesar de beberem em nascentes paralelas, a sonoridade desse grupo de Coleman está bastante distante do ‘electric jazz’ setentista de Miles Davis. Não que uma experiência seja mais relevante que a outra; apenas são realizações distintas.

Body Meta, um dos primeiros frutos dessa exploração, é também um dos mais bem sucedidos. O som é fresco, surpreendentemente dançante em alguns momentos. O encontro com o funk fica explícito na primeira faixa (“Voice Poetry”), aberta por irresistível sabor das duas guitarras. Em “Macho Woman” nos deparamos com uma pegada diferente, algo que ecoa até certo ‘acid jazz’. Para fechar o álbum, “European Echoes”, tema que havia aparecido uma década antes em contexto free jazzístico puro, no disco “At The Golden Circle – Stockholm”.


1. Voice Poetry  (8:11)
2. Home Grown (7:46)
3. Macho Woman (7:35)
4. Fou Amour (8:31)
5. European Echoes (9:40)


*Ornette Coleman: sax alto
*Charles Ellerbee: guitar
*Bern Nix: guitar
*Jamaaladeen Tacuma: bass
*Ronald Shannon Jackson: drums

Recording date: Paris, France, December 19, 1976.