SHIPP + MORRIS

Não foram poucos, desde a década de 90, os encontros entre Ivo Perelman, Matthew Shipp e Joe Morris. Os três nunca tocaram juntos, ao mesmo tempo, mas os duos (e outras parcerias) envolvendo esses músicos são vários. Neste ano, Morris e Shipp já excursionaram pelos EUA e, entre os próximos dias 18 e 22, estarão, em duo, na Polônia. Uma diferença dessa parceria para os duos que eles protagonizaram em anos passados está no dedilhado de Morris, que trocou a guitarra pelo baixo.


Em toda sua abertura sonora, Matthew Shipp demonstra ter especial carinho por esse formato. Seu primeiro álbum, “Sonic Explorations”, de 1988, era um duo com o saxofonista Rob Brown. Depois, vieram duetos com Perelman (piano e sax), William Parker (piano e baixo), Evan Parker (piano e sax), Mat Maneri (piano e violino), Guillermo E. Brown (piano e bateria) e Roscoe Mitchell (piano e sax).

Nascido em dezembro de 1960, em Wilmington (DE), Shipp estudou na Universidade de Delaware e no New England Conservatory (por onde também passou Cecil Taylor). Na adolescência, tocou teclado em bandas de rock e piano em grupos de post-bop. Foi em 1984 que rumou para New York. Como tantos músicos que chegaram a NY sem amigos ou contatos, Shipp demorou para despontar na cena (gravaria apenas em 88 e se tornaria conhecido somente na década seguinte). Ao jornalista Phil Freeman, ele relatou o que encontrou quando se mudou para NY:

“The only things that were happening were they Wynton thing (the ‘neo-conservative’ thing) and the white avant-gardists that were downtown, the whole Zorn, post-Zorn thing. And for a black musician to be trying to actually play an instrument in their own style… people didn’t even listen to the content.”

Um ponto relevante na carreira e no desenvolvimento de Shipp ocorreria apenas em 1990, quando se juntou ao ainda jovem ‘David S. Ware Quartet’, com o qual esteve envolvido até 2006. Foi ao lado de Ware que o pianista ganhou destaque, foi se consolidando como um dos maiores do teclado contemporâneo e deu, paralelamente, corpo à sua carreira solista. Dono de toque e estilo muito particulares, Shipp bebeu tanto nos dedilhados boppers de Powell e Monk, quanto no avant garde de Cecil Taylor.

Uma das primeiras parcerias de Shipp com Joe Morris foi registrada no álbum Thesis, concebido em 1997. Formado por 13 improvisações, o disco tem uma sonoridade ímpar: não é sempre que paramos para ouvir dueto de piano e guitarra. A proposta foi bem sucedida e a audição é compensadora. Do conjunto, destacam-se “The Wand” e “Our Journey”, nas quais Morris exibe um incrível dedilhado com picos de aceleração, que ora se integra, ora se perde em meio ao toque percussivo do pianista.

1. Thesis 4:08
2. Fable 5:39
3. Simple Relations 3:41
4. Particle 1 3:43
5. The Wand 3:49
6. Action And Reaction 5:22
7. Center Of 5:33
8. The Turnpike 5:35
9. Form Of "Y" 4:22
10. Broader Orders 8:01
11. Particle 2 4:41
12. The Middle Region 4:18
13. Our Journey 4:35

*Joe Morris - guitar
*Matthew Shipp – piano

Recorded on 23rd January 1997 at Seltzer Sound, NYC