Sons nas Redondezas - I

Vem do ABC paulista (mais precisamente, Santo André e São Bernardo) um dos grupos mais ativos e bacanas da cena jazz local. Otis Trio é o nome do projeto, que surgiu em 2007, centralizado nos músicos Luiz Galvão (guitarra), João Ciriaco (baixo) e Flávio Lazzarin (bateria).
Apesar de ser originalmente um trio, o Otis costuma se apresentar em formato mais amplo (quarteto, quinteto), especialmente amplificado pelas participações de André Calixto (sax), Daniel Gralha (trompete) e Beto Montag (vibrafone). Em vertente contemporânea, o grupo revela suas vastas influências, sempre empunhando músicas próprias: be-bop, hard bop, free-bop, mesmo improvisação livre, entra um pouco de tudo na composição do som do Otis.
“Nós curtimos todas as tendências do jazz, do clássico ao contemporâneo, e o reflexo dessas influências em nossa música acaba sendo inevitável”, revela Galvão.



Eu conversei com o guitarrista do Otis, Luiz Galvão, que falou sobre o grupo, a música que fazem, projetos e a cena atual:

1) Conte um pouco da breve história do Otis.
Eu e o João, antes do Otis, tocávamos juntos em projetos bem undergrounds (alguns, na maioria das vezes, baseados em improlivre em estúdio) que já flertavam com o jazz. No final de 2006, o João me propôs de estudarmos alguns standards. Fizemos uns dois ou três encontros em duo. Em dezembro do mesmo ano, o João e o Flávio Lazzarin foram tocar num evento na Bahia (com o Pedra Branca e o Liquidus Ambiento, respectivamente). Foi a deixa para o João falar de suas intenções jazzísticas e para o Flávio falar de seu crescente interesse por essa linguagem. Em janeiro de 2007, começamos a ensaiar em trio; os standards foram ficando de lado e as composições próprias foram tomando conta do repertório. O Otis Trio é o nosso primeiro projeto efetivamente voltado ao jazz.

2) O Otis, apesar de ser um trio, costuma tocar sempre com convidados: há reuniões, ensaios com os costumeiros participantes ou o espírito 'jam' domina quando estão no palco?
Os convidados conhecem os temas (inclusive, ‘El Sabor’ é uma composição do Daniel Gralha, e ‘Marimbondo’ é em parceria com ele), mas os ensaios com eles são esporádicos. Resumindo, no Otis acontecem os dois momentos; o espírito jam/free (vários temas são dessa natureza) e o lance mais formatado/conciso. Quase sempre fazemos algum improlivre também, tanto nos ensaios quanto nas apresentações.


3) Como guitarrista, quais são os nomes das cordas com quem vc mais dialoga? Gosta dos guitarristas 'free', como o Derek Bailey e o Joe Morris, ou se identifica mais com os clássicos?
Gosto muito do Marc Ribot, ele passeia com muita categoria por várias vertentes musicais (rock, jazz, modalismo, free etc). Mas não tenho restrições não. Curto clássicos, roqueiros e do free. Só não suporto aquela coisa pedante carregada de chorus do fusion/jazz rock. Outros caras importantes pra mim: Wes, Grant Green, Mclaughlin (até meados de 70), Otomo Yoshihide, Heraldo do Monte, Hendrix, Iommi, Johnny Ramone e por aí vai. Derek Bailey é referência máxima no free! Não tem como! O Joe Morris só vim a conhecer neste ano. João que apresentou e gostei muito do que ouvi! Tenho ouvido o ‘Age of Everything’. Excelente disco. Mas, na real, dentro do jazz, escuto mais gigs que não tem guitarra.

4) No domingo, vcs vão tocar (na realidade, foi ontem), no Tapas, logo após o EKE. Gosta desse tipo de experimentação que eles propõem?
Eu e o Flávio vimos a apresentação do EKE (no CCSP) e foi arrebatador. Puta experiência. Nós todos curtimos essas vertentes. Inclusive, o Flávio está encabeçando um projeto dessa linha que logo, logo vai estar na rua. Por enquanto estão rolando uns registros em estúdio com músicos diversos aqui do ABC (inclusive vamos fazer uma sessão. Em duo provavelmente).

5) Como está a vida para músicos mais ligados ao jazz em SP? Já dá para sobreviver ou tem de manter alguma profissão paralela?
Temos outras gig's e trabalhos. Por enquanto não róla de se dedicar 100% ao jazz. Mas enxergo boas perspectivas no cenário. O jazz parece estar se revitalizando, no sentido da relação com o público. Pessoas mais jovens vem se interessando. Parece que está voltando a fazer parte da música popular de maneira efetiva e que não necessita ser pulsante, "pra cima" o tempo todo. Pode ser reflexiva, densa, sensorial... O público pode, sim, assimilar tanto o swing quanto o free, o eletroacustico. Não posso afirmar também que é uma música "fácil". Mas também não é tão difícil quanto parece.

6) E no ABC? Tem um pessoal interessado nesse tipo de som?
Tem. Tanto músicos quanto público em geral. O grande problema é ausência de espaços. A região são sete cidades, uma megalópole, e não temos onde tocar com regularidade. E não digo isso somente com relação ao jazz. Toco em projetos mais "acessíveis" e róla o mesmo problema. Temos a responsabilidade de criar uma nova rede de cultura por aqui, onde artista e público se sintam contemplados e que não haja uma necessidade única e exclusiva de se deslocar para a capital.

“Otis Quinteto, ao vivo, no Bar B”


1. No Oceano

2. Marimbondo

3. Azuma

4. El Sabor

otis

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Para conferir o Otis ao vivo (shows próximos):
• 01/08. *Tapas Club
• 19/08. *Syndikat
• 20/08. *Serralheria

Ps: Galvão avisa que o Otis estará em TODOS os domingos de agosto no Tapas Club (rua Augusta, 1246)