Jazz al Sur - III

Para muitos argentinos, Roberto Pettinato sempre será o saxofonista da banda de rock “Sumo” (1981-1987). Outra parcela de seu público, possivelmente mais numerosa, o conhece de suas incursões pós-Sumo no rádio e na TV, onde comanda/comandou programas de ‘variedades’ de boa audiência. Mas não é por isso que estamos falando dele, e sim por sua polêmica estréia na cena jazzística portenha.


Em 2003, Pettinato apareceu com um disco, que auto-rotulou de free jazz, e concentrou as atenções da mídia local. Para quem batalha nessa seara há muito tempo, sobrevivendo à pouca atenção dada por público e crítica, não deve ser agradável ver um ‘estrangeiro’ desembarcar e atrair os poucos holofotes... Pettinato diz que não mistura as coisas, não divulga sua face jazzista em seus programas e que pouco se importa se seu público da TV vai assisti-lo, comprar seu disco ou se interessar por esses sons. “La TV es una hora y media de mi vida y el día tiene 24", declarou ao Clarín. Talvez, para os argentinos, seja como se, para nós, um ‘ex-Titãs’ que comandasse um programa na MTV resolvesse abraçar o free jazz e recebesse, por conta disso, a atenção da imprensa, costumeiramente desinteressada por esse território. Todavia, como não vivemos a cena portenha, o que interessa para nós é saber o quanto vale a música do saxofonista.

Nascido em Buenos Aires, em 1955, Pettinato afirma que sempre se interessou por free jazz e que apenas nunca tinha tido foco/oportunidade para produzir nesse campo. Até que em 2001, ao assistir a um show no Knitting Factory, que contava com nomes do quilate do baixista Mark Dresser e do baterista Gerry Hemingway, pensou: vou voltar a tocar. E farei free jazz. De volta a Buenos Aires, reuniu um quarteto e foi aos poucos ocupando os palcos até chegar ao lançamento do álbum, titulado Free Jazz: Musica Anticomercial.
E o grupo não se sai mal. Quem parece menos confortável com a música livre é o pianista (o uruguaio Ricardo Nolé), talvez um pouco preso a suas origens _pianista, baixista e baterista já tocavam em trio, amparados em um jazz mais tradicional. Já Pettinato demonstra segurança, alternando com domínio momentos mais rascantes com passagens sutis, variando seu sopro por tenor e soprano.


1 Introduction Subway Bass
2 Lacy's Lazy (Parte 1)
3 Lacy's Lazy (Parte 2)
4 Black Nile
5 You Don't Know What Love Is
6 Free

RPet

*Roberto Pettinato: saxes
*Ricardo Nolé: piano
*Alejandro Herrera: bass
*Oscar Giunta: drums

record date: 2003