Jazz al Sur - I

Que a cena jazzística é muito mais viva e intensa na Argentina do que no Brasil não há dúvida. Músicos, festivais, lançamentos de discos, em todos esses quesitos os ‘hermanos’ estão à frente _mesmo tendo um público potencial muito menor que o nosso (está certo que temos algumas particularidades, como a música instrumental local e os ecos bossanovísticos que permanecem pelos ares. Mas não podemos esquecer de que eles têm por lá também o tango, com sua relevante produção instrumental específica).

Falar em jazz na Argentina significa retomar uma história que começa ainda na década de 20, quando as orquestras de tango passaram a incluir no seu repertório e em sua sonoridade temas e elementos do gênero. Desde então, o jazz conquistou um espaço próprio, desvinculou-se do tango e gerou uma interminável lista de músicos décadas afora. Hoje, uma vasta galeria de pianistas (Ernesto Jodos, Paula Shocron, Adrián Iaies), saxofonistas (Luis Nacht, Ricardo Cavalli, Rodrigo Domínguez), baixistas (Mariano Otero, Hernán Merlo), guitarristas (Luis Salinas, Fernando Tarrés –que lançou o belíssimo ‘Cruces’, em 2006) e bateristas (Pepi Taveira, Oscar Giunta), aquecem as noites jazzísticas portenhas, além de se apresentarem no exterior. Todos eles têm vários discos editados, muitos com distribuição internacional. Além de gravadoras locais, como a BAU, as ‘majors’ também têm publicado jazz argentino: a EMI chegou até a criar um selo específico, o ‘SJazz’, para divulgar músicos do país.


Mas, quando olhamos para a cena de expressão mais radical, as dificuldades para os músicos parecem não ser diferentes das de outros lugares. Há, sim, free jazz/free improvisation na Argentina. Porém, tanto público quanto os sistemas de distribuição/apresentação demonstram certa, digamos, timidez, em relação a esse tipo de expressão _como ocorre até mesmo nos EUA. Nesse território, a Argentina também tem seus combatentes e heróis. Não esqueçamos que Gato Barbieri teve um importante período criacional free. Dentre os contemporâneos, destaque para as investidas da jovem saxofonista Ada Rave* (foto acima), o quarteto ‘La Cornetita’, liderado pelo saxofonista Pablo Puntoriero*, Roi Maciaz, Zelmar Garín, além do trabalho de Pablo Ledesma*, saxman com longa estrada jazzística que gravou em 2004 uma homenagem a Steve Lacy.

Um dos que muito tem batalhado pela música livre hoje no país é o pianista Ruben Ferrero. Professor e pesquisador de sons étnicos, Ferrero tem nos últimos tempos se dedicado à improvisação livre, tendo criado o Free Jazz Festival de Buenos Aires (nenhuma ligação com a marca de cigarros, o título é sério por lá), que está em sua quarta edição. Ferrero esteve em SP em 2004, onde se apresentou e gravou com ‘Panda’ Gianfratti e Yedo Gibson.

Nessas trincheiras, um antigo sobrevivente é Sergio Paolucci. Empunhando o sax alto, Paolucci tem militado na seara free há um bom tempo. As gravações dele, que não são muitas, contam com uma homenagem a Trane (‘Aproximación a John Coltrane’, 1991), um curioso ‘Free Jazz Tango’ (1996) e o anunciado ‘primeiro disco de sax solo argentino’ (‘Solo’, 2009).

Em Encuentros, lançado em 1995, vemos Paolucci acompanhado de diferentes figuras do jazz argentino, do veterano trompetista ‘Fats’ Fernandez ao pianista Ruben Ferrero. A variedade de parceiros se reflete nos múltiplos resultados obtidos: o álbum é irregular, alternando momentos mais intensos (‘Paroxismo’, ‘Afirmacion’), com releituras mais comportadas (‘Blue Monk’) e até uma desnecessária ‘Homenaje al Brasil’. De qualquer forma, um disco importante e que merece ser ouvido, de um músico que luta para manter a música livre viva por essas bandas...























ects

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*Ps: para conhecer:

http://www.myspace.com/adarave
http://www.myspace.com/lacornetitafree
http://www.myspace.com/ledesmapablo