Tributos de David Murray

David Murray é uma das figuras fundamentais do jazz contemporâneo. Na estrada desde a década de 70, o saxofonista, nascido em Berkeley, em fevereiro de 1955, já estampou seu nome em algumas centenas de álbuns, de solos à big band, de voos mais abstratos e livres a projetos de perfil mais tradicional.

Tudo começou em meados dos 70s, quando o jovem saxofonista desembarcou em NY e passou a frequentar a cena loft, tendo inclusive participado do mítico ‘Wildflowers’. Nessa época, gravou seus primeiros trabalhos como líder. Um desses frutos iniciais é o belíssimo “Flowers for Albert” (76), que merecia estar sempre em catálogo. Como insinua o título, Murray estava, no período, embebido pela cena free, tendo em Albert Ayler uma de suas fontes criacionais. Esse ainda é o período das parcerias do saxofonista com o então baterista Stanley Crouch _hoje mais conhecido como mentor e padrinho de Wynton Marsalis. Murray e Crouch chegaram a ter um loft, o Studio Infinity, e gravaram juntos alguns álbuns, como “Live at the Peace Church”.

Quem conhece Murray (que, além do tenor, costuma tocar o bass clarinet) sabe que ele não é simplesmente um free jazzista. Sua obra exibe a amplitude de suas influências e referências, e muito bem ilustra uma síntese dos rumos do jazz. De Coleman Hawkins a Sonny Rollins, passando por Ayler, Coltrane e Dolphy, o saxofonista de Berkeley reuniu elementos para compor sua palheta e ter autoridade para trafegar nos mais diversos campos _mas sempre amparado em uma sólida sonoridade própria. Por meio de seus grupos de perfil mais fixo (o World Saxophone Quartet e o Octet), passando pelos trabalhos solos e os variados quartetos (formato clássico que tanto o agrada), o músico conseguiu sedimentar uma extensa e bem arquitetada obra.

Dois discos exibem o respeito de Murray à tradição que sustenta seu processo criativo: “Tenors” e “Spirituals”.

Em Tenors, lançado em 1993 no Japão, David Murray presta homenagem a certos saxofonistas que o influenciaram, em releituras particulares de alguns de seus clássicos. O disco abre com ‘Equinox’ _gravada por Coltrane em 60_, que mostra uma pegada mais intensa do que a versão traneana original. Para 'Ghosts', de Albert Ayler, Murray apresenta uma leitura lenta e densa. Já 'Perfection', de Ornette Coleman, recebe o tratamento mais free, oferecendo os momentos mais intensos do álbum _que é uma bela introdução à envergadura do sopro de Murray.





1. Equinox (Coltrane) 6:15
2. Ghosts (Ayler) 6:38
3. Over Time (Burell) 10:26
4. Perfection (Coleman) 5:38
5. Chelsea Bridge (Strayhorn) 9:03
6. St. Thomas (Rollins) 9:33



O mesmo quarteto de ‘Tenors’ está presente em Spirituals, captado em janeiro de 1988. Aqui, Murray rende tributo ao ‘spiritual’ _canção negra de perfil religioso catalogada desde o século XIX. Com seu belíssimo toque ao bass clarinet, Murray inicia o álbum com a conhecida “Amazing Grace”. Alternando depois composições próprias (alem de um blues do pianista Dave Burell) com temas populares, ele mostra como resgatar sonoridades tradicionais com uma visada moderna e envolvente.






A1 Amazing Grace 5:40
A2 Dave Blue 7:47
A3 Blues For My Sisters 8:12
B1 No Body Knows The Trouble I've Seen 4:21
B2 Sunlit On A Dark Afternoon 6:28
B3 Crucifixion 5:21
B4 Abel's Blissed Out Blues 10:27


credits (Tenors e Spirituals)

*David Murray: tenor, bass clarinet
*Dave Burell: piano
*Fred Hopkins: bass
*Ralph Peterson Jr.: drums