Vocalizações de Mr. Minton

Em outubro de 2009, quem passou por SP teve a oportunidade de apreciar alguns dos mais criativos músicos improv em ação. Difícil imaginar que alguém que esteve no CCSP e viu Phil Minton no palco não se impressionou _para o bem ou o mal... Com o grupo “Speeq”, Minton mostrou a versatilidade de seu cantarolar peculiar, no qual o aparelho fonador assume diferentes corporificações, para explorar possibilidades vocálicas ignoradas pelos cantores-padrão. Ruídos, gorjeios, vocalizações que desmembram as palavras à cata do fonema pré-semântico: rumos a serviço da criação de um mundo próprio, no qual o improviso e a surpresa são palavras de ordem.
Na ativa desde os 60s, o cantor britânico já tocou uma infinidade de projetos e parcerias: TooT, 4 Walls, fORC, Speeq, Axon, apenas para lembrar alguns.

No grupo 4 Walls, Minton é acompanhado por antigos parceiros: o pianista Veryan Weston, o baixista Luc Ex e Michael Vatcher na bateria. Esse grupo é uma ramificação do “Roof”, que contava com o celista Tom Cora no lugar de Weston. Nas apresentações em SP, pudemos ver o pessoal do '4 Walls', com Mark Sanders nas baquetas e sob o nome 'Speeq'.

Como é difícil descrever o trabalho de Minton, deixo esse vídeo _show do Speeq de 2008_ para quem nunca o viu ter uma ideia do que estamos falando:



Nesse “And the world ain't square”, do 4 walls, algumas faixas têm como base poemas, o que cria um ponto de entrada/saída para a livre improvisação. A primeira faixa é a mais “canção” do álbum, se desenvolve de forma mais organizada e pode levar os ouvintes a terem uma expectativa um tanto equivocada em relação ao que o resto do disco oferecerá... A letra trabalhada por Minton vem de um poema do anarquista escocês John Henry Mackay. No restante do álbum, podemos sentir a criação desenvolvendo-se de forma mais livre, com destaque para o papel rítmico assumido, muitas vezes, pelo piano de Weston. Quando o álbum foi lançado, um crítico rotulou-o de assemblage de European free music, dada e punk. As peças foram gravadas em um take só, sem edições posteriores. Em muitos momentos, a voz de Minton atua muito mais como um outro instrumento, sem ocupar o espaço destacado que a música tradicional costuma dar a quem canta. São apenas cerca de 30 minutos, mas de intensa audição.


1. The anarchist's anthem (04.05)
2. Pliers (04.36)
3. Hinged (01.27)
4. Advertising salesman (02.05)
5. Bits of five (03.25)
6. Fine weather (03.42)
7. Night in Siberia (02.17)
8. Rain or hail & Sluggo (04.17)
9. Grisly (02.32)
10. Girder (02.05)
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*Phil Minton - vocals
*Luc Ex - bass
*Veryan Weston - piano
*Michael Vatcher - drums
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Notes
-Track 1 features a poem by John Henry Mackay (1864-1933)
-Track 4 features a poem By Adrian Mitchell
-Track 6 features a poem By Ho Chi Mihn
-Track 8 features a poem by E. E. Cummings, followed by 'Sluggo', written by Michael Moore

Recorded by Zlaya, September 2000 (Binhuis/Amsterdam) and January 2001 (E-Sound Studio/Weesp)
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Ps: Curioso notar, nos comentários feitos na postagem do vídeo no youtube, a reação das pessoas ao som, o estranhamento e a repulsa que provoca. Alguns comentários: “I know guys on crack that make more sense than this”; “Sounds like Donald Duck going crazy”; “How did they even get someone to film this? Please open that window behind u and jump!”